A primeira impressão de Irina Golovanova ao analisar a fotografia oficial do Executivo de Luís Montenegro, partilhada nas redes sociais do Governo na manhã desta quarta-feira, recaiu no acréscimo de organização em relação à foto de conjunto do derradeiro executivo de António Costa. Para a especialista em comportamento e comunicação não verbal, que é diretora da Body Language Academy, a forma como os 18 governantes se posicionaram nas escadarias da residência oficial do primeiro-ministro transmite uma ordem que faz a diferença..Ainda assim, desafiada pelo DN a explicar o que o retrato oficial do XXIV Governo Constitucional (ainda só com ministros, ficando a posse dos secretários de Estado para esta sexta-feira) tenta comunicar a quem o vê, deixa um reparo à distância entre os 18 fotografados, separados por três filas. “Se ficassem mais perto uns dos outros deixariam uma impressão de maior unidade”, diz, embora admita que “cada um tem o seu espaço”..A especialista em comunicação não verbal volta a fazer uma comparação do registo fotográfico do último Executivo de António Costa para chamar a atenção a um conjunto “menos colorido em termos de roupa”. Assumindo como boa escolha a prevalência do azul, a começar por Montenegro - que até na gravata não destoou -, Golovanova explica que é uma cor “associada à competência” e que “agrada tanto a homens como a mulheres”..Entre as exceções ao tipo de roupa escolhida pelos novos governantes, com imagem claramente mais conservadora, a diretora da Body Language Academy não encontra nada que se assemelhe à saia “demasiado longa” envergada pela antiga ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva. Além do casaco mais colorido da nova responsável pela pasta da Justiça, Rita Júdice, Golovanova chama a atenção para o casaco verde da ministra da Juventude, Margarida Balseiro Lopes, por ser a cor associada à esperança, e para o cinzento da ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, que lhe interessa por ser “uma cor mais analítica”..Reconhecendo que o retrato oficial do Governo está “muito alinhado com a imagem que se quer passar”, detém-se na ministra da Saúde, Ana Paula Martins, para dizer que o contraste entre preto e branco na roupa “aumenta a perceção de poder” da responsável por um dos ministérios com mais problemas..“Não sabemos qual foi o grau de consciência dessa escolha. Se foi por acaso, calhou-lhe bem”, diz..Questão de mãos e de olhos.Na fotografia oficial também salta à vista o contraste entre as poses dos ministros. Ao centro, Montenegro e os ministros de Estado Paulo Rangel (Negócios Estrangeiros) e Miranda Sarmento (Finanças) estão entre os que optam por manter os braços estendidos ao longo do corpo, como é “protocolarmente correto”. Algo que significa abertura, sendo essa a forma como se apresentam na primeira fila Leitão Amaro (Presidência) e Rita Júdice (Justiça), tal como Pedro Duarte (Assuntos Parlamentares) e Ana Paula Martins (Saúde) na segunda, e ainda Miguel Pinto Luz (Infraestruturas) na terceira..Quase tantos são os ministros que surgem com as mãos juntas à frente do corpo, o que Golovanova adverte ser “uma postura que torna a pessoa mais pequena”, sem procurar destacar-se. Desde logo, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, que a especialista em comunicação não verbal admite “não se sentir à vontade”..Com a agravante, também patente noutros dos incluídos na fotografia oficial - como Maria do Rosário Palma Ramalho (Trabalho) e Dalila Rodrigues (Cultura) -, de estar a olhar para o lado e não em frente, o que se explica com a presença de outros repórteres fotográficos além do autor do retrato partilhado nas redes sociais do Governo. Mas não deixa de constituir ruído na comunicação. “Fica a ideia de que olhar para a câmara não será um dos maiores desafios que irão enfrentar e nem isso conseguem”, comenta Irina Golovanova..Mais intrigante considera ser a linguagem corporal de dois ministros no canto direito da foto. Na primeira fila, Castro Almeida (Coesão Territorial) surge de mãos nas costas, pelo que “não passa despercebido”. E, logo atrás, o titular da pasta da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, tem os braços cruzados, o que Irina Golovanova defende “deixar impressões muito diferentes”..Nesse sentido, recorda um inquérito feito pela Body Language Academy em 2016, na qual as interpretações sobre essa postura “variavam do oito para o 80” entre os portugueses, rotulando quem a pratica “desde seguro e confiante até arrogante”. Mas o que chamou a atenção da especialista foi o professor da Universidade do Minho ser a única pessoa com os braços assim. “E ainda bem”, acrescenta..Olhando para as expressões dos governantes, Golovanova nota o contraste entre o sorriso de Luís Montenegro e o olhar circunspeto de Nuno Melo, embora reconhecendo que o líder do CDS-PP e agora ministro da Defesa “não é uma pessoa muito sorridente”. E remata com uma apreciação geral da fotografia: “Não é perfeita, mas dá uma perceção de maior organização. Se vai ser assim de verdade, ainda vamos ver.”