Lucília Gago é a atual procuradora-Geral da República.
Lucília Gago é a atual procuradora-Geral da República.MIGUEL A. LOPES/LUSA

Escrutínio do MP? Há quem queira audição da PGR sobre relatório a que lei já obriga

Estatuto do MP prevê “divulgação institucional” de relatório, mas PGR nunca foi ao Parlamento apresentá-lo.
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O Ministério Público (MP) deve ser escrutinado pelo Parlamento através da apresentação de um “relatório anual” pela procuradora-Geral da República (PGR)? A ideia foi avançada, num debate na Rádio Observador por Alexandra Leitão e apoiada por Paulo Rangel, que admitiu ver “vantagem na apresentação de um relatório anual da procuradora-Geral da República ao Parlamento”, à semelhança do que acontece com a Provedoria de Justiça. O problema? Esse relatório já existe e até está prevista a sua “divulgação institucional”, mas nunca houve uma audição de um PGR na Assembleia da República para o apresentar.

Basta consultar o Estatuto do Ministério Público, aprovado em 2019, para lá encontrar no artigo 19.º, n.º 2, alínea t) como competência do PGR “elaborar o relatório anual de atividades do Ministério Público e proceder à sua apresentação institucional, bem como à sua divulgação pública”. 

Até agora, porém, essa divulgação pública tem-se limitado à disponibilização do documento no site da PGR. Como explica ao DN fonte oficial da PGR, “o relatório de atividades é anualmente elaborado e subsequentemente apresentado e divulgado na página institucional do Ministério Público”. Ou seja, a ideia avançada pela deputada socialista responsável pelo programa que Pedro Nuno Santos levará às legislativas e pelo vice-presidente do PSD não tem  novidade, a não ser que se crie uma audição parlamentar obrigatória ao procurador-Geral da República.

Ao DN, Alexandra Leitão começa por vincar que a ideia lançada vincula apenas os intervenientes no debate e não os partidos a que pertencem, mas admite que o relatório de atividades do MP precisa de ter maior visibilidade e que tornar explícito na lei a obrigatoriedade de o apresentar aos deputados pode ajudar a isso. “Essa prestação de contas obrigaria a que prestássemos todos maior atenção”, diz.

Adão Carvalho, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, entende que “nada impede que a Assembleia da República possa chamar a PGR”, mas critica a forma como se apresenta uma ideia sem perceber o que já está na lei. “Não percebo qual é a novidade da proposta. Revela algum desconhecimento do que existe”, declara ao DN.

Paulo Lona, magistrado do MP, também não vê com maus olhos a audição da PGR. “Ir ao Parlamento, em termos gerais e abstratos, até seria uma maneira de divulgar por que é que não se conseguiu atingir resultados, por exemplo, por falta de meios”, defende, explicando que essa audição seria apenas, no seu entender, “instituir uma prática já prevista”.

O DN sabe que os temas da Justiça estão a ser tratados com pinças nos programas eleitorais dos partidos. Na moção que Pedro Nuno Santos levará ao Congresso do PS, por exemplo, não há nenhuma referência a formas de escrutínio da atividade do MP. Apenas a defesa da redução das taxas de justiça e a divulgação dos dados estatísticos dos tribunais online.  

margarida.davim@dn.pt

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