PAN não viabiliza eventual Governo de Montenegro
A porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, admitiu esta terça-feira, depois da audiência do partido com o Presidente da República, que não viabilizará um programa da Aliança Democrática (AD) por considerar que o país não está “perante uma aliança progressista”, que até pode apresentar um “programa de Governo que põe em causa o direito” das mulheres.
Marcelo Rebelo de Sousa começou ontem a receber as forças políticas que elegeram deputados nas eleições legislativas de domingo, começando pelo PAN, que só conseguiu um mandato, atribuído a Inês de Sousa Real.
O Chefe de Estado continuará a ouvir o que os partidos têm para dizer sobre os resultados eleitorais e sobre a formação de uma solução governativa, que, ainda sem certezas absolutas, deverá passar pela AD, considerando que foi a coligação (entre PSD, CDS e PPM) que obteve o maior número de deputados (79).
No entanto, ainda falta saber o resultado dos votos da emigração, que correspondem a quatro deputados, o que pode trazer surpresas para o equilíbrio do hemiciclo, principalmente porque o PS ficou com 77 mandatos.
Por este motivo, Inês de Sousa Real também criticou o facto de estarem a decorrer estas audiências diárias a cada um dos partidos, que se prolongam até dia 20 de março, precisamente no dia em que Marcelo recebe a AD e quando é conhecido o resultado dos votos dos emigrantes.
“Lamentamos que estas reuniões estejam a decorrer sem que esses resultados sejam conhecidos, tendo em conta um potencial empate técnico entre PS e PSD”, afirmou aos jornalistas a líder do PAN.
“Para o PAN, estar a vir a uma reunião sem saber a atribuição de todos os mandatos, sem saber também qual a solução governativa que Luís Montenegro quer trazer para cima da mesa, caso esteja em condições de formar um Governo - repito, caso esteja em condições de formar Governo - para nós é um pouco estranho, mas, como é evidente, fomos convocados para esta reunião, aqui estamos”, considerou.
Depois de uma reunião que durou uma hora, Inês Sousa Real, que admitiu que o partido, por só ter elegido uma deputada não tem “expressão matemática para viabilizar” uma solução governativa, também alertou para a possibilidade de, caso Luís Montenegro seja convidado a formar Governo, poder haver a “tentação de termos um orçamento retificativo”. Perante este cenário, e com avisos sobre “matérias em que querem retroceder”, nomeadamente a “igualdade de género” e os direitos das mulheres, como o aborto, a porta-voz do PAN garantiu que o partido “jamais renunciará aos seus valores”.
“Um orçamento que for contra estes valores terá o voto contra” do PAN, afirmou, acrescentando que a solução que “saiu das urnas” não acompanha os valores” defendidos pelo partido.
Também ontem, o Bloco de Esquerda, através de um vídeo publicado nas redes sociais, confirmou que pediu reuniões ao PS, PCP, Livre e PAN para analisar os resultados das eleições que “mudaram a face política do país” e para debater convergências “na oposição ao Governo da direita” e na construção de uma alternativa.