São já três os partidos da esquerda que este fim de semana se mostraram preocupados com privatizações na área da Saúde, mais especificamente no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). O silêncio da ministra Ana Paula Martins, no sábado, não ajudou a acalmar os ânimos face às acusações do líder do PS, Pedro Nuno Santos, de que o Governo estaria a desistir do INEM para passar a “privatizar a prestação da emergência médica”. Este domingo, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, voltou a exigir a demissão da ministra, tal como de toda a sua equipa, antes de elencar uma série de ligações entre o setor privado e o Governo nesta área. E o líder do PCP, Paulo Raimundo, afirmou, em tom de crítica, que o Governo é “extraordinariamente eficaz em transformar cada um dos problemas com o qual nós vivemos numa grande oportunidade de negócio para o setor privado”..Logo após as declarações de Pedro Nuno Santos, no sábado, que incluíram epítetos de incompetência dirigidos ao Governo e a lembrança de que Ana Paula Martins “disse que queria que o INEM fosse apenas um coordenador e não prestador”, o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, garantiu que “não está em curso nenhuma privatização no Serviço Nacional de Saúde [SNS] nem do INEM”. Porém, momentos antes, a própria ministra da Saúde recusara-se a tocar no assunto face às perguntas dos jornalistas..A garantia de Hugo Soares não serviu de muito a Mariana Mortágua, que, no final de um almoço-convívio em Viseu, defendeu que “a equipa ministerial da Saúde não tem condições para governar e deve demitir-se”, acrescentando uma ideia que já tinha sido evocada por Pedro Nuno Santos: “Quando as coisas acontecem durante demasiado tempo, a responsabilidade passa a ser do primeiro-ministro e não da ministra da Saúde ou da sua equipa.”.A motivação de Mariana Mortágua para esta ideia, explicou a líder bloquista, é o Plano de Emergência para a Saúde do Executivo de Luís Montenegro, apontando o dedo ao responsável designado pelo Governo para o efeito, Eurico Castro Alves (antigo secretário de estado do Governo de Pedro Passos Coelho), que considera configurar uma situação de conflito de interesses que o impediria de exercer o cargo..“A saber: a secretária de Estado Ana Povo, que já tinha sido contratada por uma empresa de Eurico Castro Alves, e a própria ministra da Saúde que tinha já sido contratada pela empresa de Eurico Castro Alves”, explicou..Antes de questionar “quem é que de facto manda na Saúde”, Mariana Mortágua denunciou que “Eurico Castro Alves tem e está envolvido numa seguradora privada de Saúde, e promete ser uma das maiores do país e tem todos os ‘tubarões’ do privado na saúde, é acionista do Hospital da Lapa, que gere o hospital privado”..Sem exigir a demissão da ministra, Paulo Raimundo criticou, referindo-se à greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar, que “o rei vai nu e este é o grande problema que a situação do INEM veio desmascarar nestes dias com um problema dramático de falta de meios, de falta de condições para prestar o socorro a todos aqueles que necessitam dele”.