O relógio local apontava 09.07 da manhã de domingo na Coreia do Sul - mais nove horas do que em Portugal continental - quando o avião da principal companhia aérea low-cost sul-coreana, Jeju Air, que transportava 175 passageiros e seis tripulantes, falhou uma aterragem de emergência e explodiu no Aeroporto Internacional de Muan, no sudoeste da Coreia do Sul. A tragédia resultou na morte de 179 pessoas, tendo apenas um passageiro e um tripulante sobrevivido ao pior acidente aéreo no país desde 1997..O Boeing 737-800 partiu de Banguecoque, na Tailândia, e, ao chegar à pista de Muan, não utilizou o trem de aterragem, aparentemente avariado, avançando rapidamente pela pista até colidir com um muro de betão. A explosão subsequente destruiu quase completamente a aeronave, deixando os passageiros e tripulantes com chances mínimas de sobrevivência, como se veio a verificar. Vídeos mostram que o avião aterrou em alta velocidade, longe do início da pista, após uma segunda tentativa, antes de colidir com o muro. A localização desta estrutura também levantou questões por ter sido construída tão próximo do aeroporto. .As primeiras informações que surgiram na comunicação social sul-coreana sobre a causa do acidente apontavam para uma colisão com pássaros antes da aterragem. De acordo com fontes locais, a torre de controlo do aeroporto havia alertado para uma revoada minutos antes de o piloto declarar emergência. Um passageiro chegou a enviar uma mensagem afirmando ter visto um pássaro preso na asa. “Devo dizer as minhas últimas palavras?”, escreveu o passageiro a familiar, de acordo com a News1. .Especialistas em aeronáutica, contudo, questionam essa versão. Segundo análises preliminares, um choque com pássaros dificilmente impediria o uso do trem de aterragem ou levaria à perda de controlo da velocidade. Além disso, foram direcionadas críticas não só à proximidade do muro mas também à infraestrutura do aeroporto como um todo, à falta de pessoas na pista durante a tentativa de aterragem de emergência e à falta de espuma na pista para conter o impacto. Equipas de resgate já localizaram as caixas-negras do avião, dispositivos que registam as conversas na cabine de voo e armazenam dados técnicos. Esses registos serão importantes para esclarecer os acontecimentos que precederam a explosão, embora a análise completa ainda possa levar meses até ser concluída..No meio de uma crise política, o governo sul-coreano declarou luto oficial por sete dias. O presidente em exercício, Choi Sang-mok, o terceiro em quinze dias, ordenou que fossem feitos todos os esforços possíveis nas operações de resgate após o acidente e a polícia também mobilizou unidades para a área. A Jeju Air, através de seu CEO Kim E-Bae, pediu desculpas às famílias das vítimas e comprometeu-se a prestar total apoio aos afetados. Todos os voos domésticos e internacionais de e para o aeroporto internacional de Muan foram cancelados após o acidente. Em contacto com fontes locais, o Ministério dos Transportes e Infraestruturas não comentou a causa do acidente, limitando-se a afirmar que o comprimento da pista, de 2,5 km, não foi um fator determinante para a tragédia..O acidente, um dos mais graves na aviação aérea em todo o mundo nos últimos anos, foi lamentando por políticos de diferentes países. Na Europa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, expressou condolências às famílias das vítimas. “Partiu-me o coração ver as imagens do acidente de avião em Muan. As minhas mais sinceras condolências às famílias das vítimas e à República da Coreia no seu conjunto. Como vosso parceiro, a Europa está convosco neste momento de dor”, afirmou..O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Tailândia confirmou que dois cidadãos tailandeses estavam a bordo do avião e informou que a embaixada do país em Seul está a prestar assistência às famílias. Os outros passageiros eram sul-coreanos. .Este acidente é o pior desastre aéreo a envolver a Coreia do Sul desde 1997, quando um voo da Korean Air caiu em Guam, matando 228 dos 254 passageiros que estavam a bordo. .Antes disso, em 1983, um avião da Korean Airlines foi abatido por caças soviéticos que invadiram o espaço aéreo com um avião-espião sobre a região de Sakhalin. O incidente é até hoje o mais mortífero da história da aviação coreana e resultou na morte de 269 pessoas.