Dois cartazes de manifestantes pelo direito à habitação, no Porto, continham mensagens que remetiam para o conflito em Gaza.
Dois cartazes de manifestantes pelo direito à habitação, no Porto, continham mensagens que remetiam para o conflito em Gaza.

Assis critica mas Casa Para Viver recusa “censurar” e “controlar” cartazes

Dirigente do PS critica cartazes com “retórica antissemita” envergados por manifestantes no Porto. Embaixador de Israel em Portugal fala em “racismo” e “ódio”.
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"Não fazemos controlo e censura dos panos”, disse ao DN a porta-voz da plataforma Casa Para Viver, Rita Silva, confrontada com as críticas que o dirigente do PS Francisco Assis fez a cartazes envergados por manifestantes no Porto durante um protesto pelo direito à habitação no fim de semana passado.


“Os panos responsabilizam apenas aqueles que os produzem e levam”, continuou Rita Silva, justificando que qualquer posição sobre os cartazes tomada pela plataforma que organizou a manifestação pelo direito à habitação seria desviar as atenções do essencial, que é o que motiva o protesto.


Durante a manifestação promovida pela plataforma Casa Para Viver no fim de semana passado, dois cartazes tinham escritas as mensagens “não queremos ser inquilinos de sionistas assassinos” e “nem Haifa, nem Boavista, fora o capital sionista”, numa referência ao conflito em Gaza. Como reação à presença destas frases, o cabeça de lista do PS pelo círculo do Porto, Francisco Assis, enviou à agência Lusa uma declaração com críticas à “extrema-esquerda”.


“Uma certa extrema-esquerda imbecil e semianalfabeta não hesita em promover a retórica antissemita que originou a maior tragédia contemporânea na Europa: o holocausto dos judeus. Estes cartazes filiam-se na propaganda nazi do senhor Goebbels”, escreveu Francisco Assis, vincando que “nada diferencia esta gente da extrema-direita, que quer promover manifestações anti-islâmicas”. De acordo com o dirigente socialista, “são, uns e outros, inimigos da nossa civilização democrática e liberal. É nosso dever combatê-los.”


Também o embaixador de Israel em Portugal, Dor Shapira, condenou os cartazes, através de uma publicação da rede social X (antigo Twitter). “A liberdade de expressão tem de ter alguns limites, e não importa se vêm da direita ou da esquerda”, defendeu Dor Shapira. “Deixar que cartazes como este sejam exibidos nas ruas de Portugal e ficar em silêncio é deixar o racismo e o ódio vencerem”, concluiu.


“É possível conhecer qual é que é a mensagem desta manifestação, e as mobilizações aconteceram em torno dessa mensagem”, insistiu ao DN a porta-voz da Casa Para Viver Rita Silva. “O nosso foco é aquele que temos anunciado e que defende a Constituição, e que defende o direito à habitação”. No site da plataforma, casaparaviver.pt, as reivindicações expressas, que de acordo com Rita Silva estão na origem desta última manifestação e das anteriores, passam por defender a descida das “prestações pondo os lucros da banca a pagar” ou “pôr fim aos despejos, desocupações e demolições, sem alternativa de habitação digna, que preserve a unidade da família na sua área de residência”. Para além destas propostas, a Casa Para Viver também pede “a revisão imediata de todas as formas de licenças para especulação turística” e “o fim do Estatuto dos Residentes Não Habituais, dos incentivos para nómadas digitais, das isenções fiscais para o imobiliário de luxo e fundos imobiliários”, entre outras.


“Não vou dizer a minha opinião, porque isso é precisamente aquilo que as pessoas como Francisco Assis querem, que é desviar as atenções de uma manifestação fundamental, que é a terceira no país que mobiliza milhares e milhares de pessoas pela habitação”, critica Rita Silva. “Não é isso que se trata da nossa parte”, sustenta a porta-voz da Casa Para Viver, sugerindo que o dirigente socialista “tenta colar um cartaz ou dois às manifestações que aconteceram em duas dezenas de cidades do país, e tenta de alguma forma diminuir ou desvalorizar” os protestos.

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