Putin sobre a NATO e a ameaça nuclear. "Eles têm de entender que também nós temos armas"
Na véspera do funeral do opositor Alexei Navalny e a poucas semanas das eleições presidenciais, nas quais procura a reeleição para um quinto mandato, Vladimir Putin dirigiu-se ao país. Fez acusações ao Ocidente, sobretudo aos EUA, à NATO e destacou o poderio militar russo, bem como o "apoio esmagador" da população à "operação militar especial", a forma como se refere à guerra na Ucrânia. A ameaça nuclear também marcou 'presença' no discurso anual à nação.
"O ocidente está a envolver-nos numa corrida ao armamento", tal como aconteceu durante a Guerra Fria, disse durante a intervenção, na qual negou as informações sobre o desenvolvimento de uma alegada arma nuclear no espaço. "É mentira", disse.
A Rússia Ocidental deve ser "devidamente protegida", prosseguiu, numa referência à expansão da NATO para incluir a Suécia e a Finlândia.
A forças da Aliança Atlântica "estão a preparar-se para atacar o nosso território", usando as forças mais eficazes para o fazer, continuou Putin, deixando um aviso: "Eles têm de entender que nós também temos armas que os podem derrotar no seu próprio território". Alertou que se tal acontecer pode "desencadear a utilização de armas nucleares". "Será que não entendem?", questionou.
Moscovo tem acusado os aliados ocidentais da Ucrânia de estarem a fornecer armas a Kiev capazes de atingir alvos no interior da Federação Russa.
Putin considerou disparatadas alegações de que a Rússia pretende atacar a Europa, mas advertiu a NATO de que as consequências serão desastrosas se enviar tropas para a Ucrânia, segundo a agência espanhola EFE.
"Tudo o que estão a inventar neste momento, tudo o que estão a assustar o mundo, é uma ameaça real de um conflito que envolve o uso de armas nucleares, o que significaria a destruição da civilização", afirmou.
"O Ocidente provocou um conflito na Ucrânia, no Médio Oriente e noutras regiões do mundo e continua a mentir", afirmou, citado pela agência russa TASS.
"Agora, sem qualquer embaraço, dizem que a Rússia tenciona atacar a Europa. Vocês e eu compreendemos que eles estão a dizer disparates", disse Putin.
Putin advertiu a NATO para as consequências "trágicas" se enviar tropas para a Ucrânia
O líder russo também advertiu a NATO para as consequências desastrosas se enviar tropas para a Ucrânia, segundo a agência espanhola EFE.
"Começaram a falar sobre a possibilidade de enviar contingentes militares da NATO para a Ucrânia, mas lembramo-nos do destino daqueles que uma vez enviaram tropas para o território do nosso país", afirmou, aludindo à vitória soviética contra a Alemanha na Segunda Guerra Mundial.
"Mas, agora, as consequências para os potenciais intervencionistas serão muito mais trágicas", advertiu o líder russo.
O presidente francês, Emmanuel Macron, admitiu recentemente a possibilidade do envio de tropas ocidentais para a Ucrânia para ajudar a combater a invasão russa, mas os parceiros da NATO rejeitaram tal possibilidade.
Putin afirmou que o Ocidente está a tentar fazer com que a Rússia cometa o mesmo erro que a União Soviética de se envolver numa corrida ao armamento.
Referiu que a União Soviética dedicou 13% do Produto Interno Bruto (PIB) ao desenvolvimento de armamento, enquanto a Rússia irá atribuir 6% do PIB à Defesa até 2024.
Disse também que Moscovo tenciona desenvolver o complexo técnico-militar a fim de reforçar o potencial industrial, tecnológico e científico do país.
Putin afirmou que a Rússia cumpriu os planos para desenvolver os novos mísseis e armamento anunciados pelo Kremlin em 2018, alguns dos quais já foram entregues às Forças Armadas russas e até utilizados na guerra na Ucrânia.
"Já fizemos ou concluímos o trabalho em tudo o que planeámos na esfera dos armamentos, que anunciei na minha mensagem de 2018", afirmou.
O dirigente russo recordou que o míssil hipersónico "Kinzhal" já foi utilizado na Ucrânia "contra alvos particularmente importantes" e referiu que estão a ser concluídos os testes do míssil de cruzeiro "Burevéstnik" e do 'drone' submarino "Poseidon".
"Continuamos a trabalhar numa série de sistemas de armamento muito novos. Iremos ouvir falar de novas realizações dos nossos cientistas e fabricantes de armas", prometeu.
DPutin disse que os primeiros mísseis intercontinentais "Sarmat" (SS-X-30 Satan-2, segundo a NATO), capazes de transportar 10-15 ogivas nucleares guiadas individualmente, já foram entregues ao exército russo.
"Em breve, mostrá-los-emos nas suas bases de origem", afirmou, segundo a AFP.
Putin também descreveu como infundadas as acusações dos Estados Unidos de que a Rússia pretende instalar armas nucleares no espaço.
Mas reafirmou que as forças nucleares estratégicas da Rússia estão "em plena prontidão de combate".
"Sem uma Rússia forte e soberana, não será possível uma ordem mundial forte", disse.
Putin assegurou ainda que a Rússia está disposta a dialogar com todos os países para criar um novo contorno de segurança igual e indivisível na Eurásia.
O chefe de Estado russo falou ainda na russofobia nos países do Ocidente, chamando a atenção para que "sem a Rússia não há paz sólida no mundo".
Antes, durante um discurso que também foi pautado pelas questões internas, fez-se um minuto de silêncio pelos "heróis caídos", quando, instantes antes, elogiou os "heróis" que "sofrem" na linha da frente na guerra na Ucrânia. Foi nessa altura que Putin disse que a Rússia está a lutar pela sua "liberdade e independência".
Exército russo está a avançar "com confiança" em várias frentes na Ucrânia
Afirmou também que o exército russo está a avançar "com confiança" em várias frentes na Ucrânia.
"As capacidades militares das forças armadas [russas] foram multiplicadas. Estão a avançar com confiança em várias direções" na linha da frente, declarou Putin perante a elite política do país, citado pela agência francesa AFP.
A Rússia está "a defender a sua soberania e segurança e a proteger os nossos compatriotas" na Ucrânia, disse Putin sobre o conflito que Moscovo iniciou com a invasão do país vizinho há dois anos.
Putin disse que a Rússia fará todo o possível para acabar com a guerra na Ucrânia e erradicar o nazismo no país vizinho.
"Não foi a Rússia que começou a guerra no Donbass, mas faremos tudo para acabar com ela, erradicar o nazismo e cumprir os objetivos da operação militar especial" na Ucrânia, afirmou.
O Donbass, no leste da Ucrânia, integra Donetsk e Lugansk, que a Rússia anexou em setembro de 2022, sete meses depois de ter iniciado a "operação militar especial", a designação oficial russa para a invasão.
Além de Donetsk e Lugansk, a Rússia anexou também as regiões de Zaporijia e Kherson na mesma altura.
Moscovo já havia anexado a península ucraniana da Crimeia em 2014.
A Ucrânia e a generalidade da comunidade internacional não reconhecem a soberania russa nas cinco regiões.
Kiev exige a retirada das tropas russas de todo o território ucraniano, incluindo a Crimeia, como uma das condições para eventuais conversações de paz com Moscovo.
Com Lusa