Mais minuto menos minuto, a Lei Marcial declarada pelo presidente Yoon Suk Yeol teve uma vida de seis horas. O seu anúncio foi tão surpreendente quão forte foi o seu repúdio em todo o espetro político. A pronta reação dos deputados inviabilizou a insólita medida de um presidente acossado pela impopularidade e pelas investigações judiciais. “Levantarei a Lei Marcial e aceitarei a exigência da Assembleia Nacional”, declarou Yoon às 4.25 de quarta-feira (hora de Seul), tendo ainda explicado que tinha dado ordens para os militares saírem das ruas e que o levantamento daquele estado de exceção só teria efeito oficial assim que se reunisse com o governo. Pouco depois, a agência de notícias Yonhap citou o gabinete do primeiro-ministro: às 4.30, a Lei Marcial extinguiu-se. Ao dirigir-se aos cidadãos meia-dúzia de horas antes, Yoon declarou que iria impor a Lei Marcial para travar “as desavergonhadas forças anti-estatais pró-Norte que saqueiam a liberdade e a felicidade” do povo. Em consequência, um decreto militar suspendendo todas as atividades políticas, afirmava que iria colocar os meios de comunicação social “sob o controlo da Lei Marcial” e ordenava que os trabalhadores do setor da Saúde acabassem com a greve. Decretada pela última vez há 44 anos, a Lei Marcial despertou memórias de um tempo pré-democrático que os sul-coreanos não querem reviver. Até o líder do seu partido (o conservador Partido do Poder Popular, PPP) Han Dong-hoon, disse que a iniciativa era um erro e comprometeu-se a travá-la, juntando a sua voz à oposição e ao anterior presidente..A disputa passou para o Parlamento, onde acorreram ao mesmo tempo os deputados convocados pelo seu presidente, os militares que tentaram fazer cumprir as ordens e milhares de cidadãos revoltados com Yoon. A ordem constitucional regressou depois de - como previsto na lei - a maioria dos deputados ter revogado a iniciativa presidencial..Ex-procurador sob suspeita.A dias de completar 64 anos, Yoon Suk Yeol arquivou a promessa feita quando anunciou a candidatura presidencial, em 2021, de que iria “restabelecer a democracia liberal, o Estado de Direito e o valor da Justiça”, ao declarar o Estado Marcial..Com um mestrado em direito, Yoon foi procurador durante 25 anos e fez parte da equipa que ajudou à destituição da presidente Park Geun-hye. Ascendeu ao cargo de procurador-geral, em 2019. Entrou na política com uma vitoriosa campanha pelo PPP, e na qual se opôs à fracassada política de aproximação à Coreia do Norte protagonizada por Moon Jae-in, o anterior presidente. Defendia também uma aproximação maior aos EUA e ao Japão. O mandato, no entanto, está a ser marcado por uma popularidade muito baixa (17% de aprovação), a deterioração das relações com Pyongyang, tensões sociais e escândalos: terá feito um favor político ao consultor político e diretor de uma empresa de sondagens - nem de propósito, horas antes da Lei Marcial, o dito consultor, Myung Tae-kyun, foi acusado de violar a lei do financiamento político..Os procuradores acreditam que Myung explorou as suas ligações com figuras influentes, incluindo Yoon e a sua mulher Kim Keon Hee, para solicitar subornos através da promessa de nomeações..Além disso, Kim foi filmada a aceitar uma mala de mão de luxo e é suspeita de manipulação do mercado de ações. Yoon vetou uma iniciativa parlamentar para que Kim fosse investigada.