A fachada do restaurante lisboeta Tantura, propriedade de um casal israelita, fotografada pelos autores das pichagens na noite de 11 de junho (imagem obtida no Instagram do Coletivo pela Libertação da Palestina).
A fachada do restaurante lisboeta Tantura, propriedade de um casal israelita, fotografada pelos autores das pichagens na noite de 11 de junho (imagem obtida no Instagram do Coletivo pela Libertação da Palestina).DR

CDS quer “condenação veemente” de “crimes de ódio” de “polos opostos”

Partido denuncia escalada dos "crimes de incitamento ao ódio e à violência" e pede "aos partidos democráticos” que se lhe juntem em “condenação veemente”. Apelo é reação à pichagem de restaurante israelita, ato que coloca a par das agressões a imigrantes no Porto como "manifestações de extremismo de polos opostos".
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“Se a liberdade de expressão é um direito inalienável, o racismo ou o ressurgimento do antissemitismo, para além de ilegais e passíveis de censura jurídico-criminal, são inaceitáveis em sociedades democráticas consolidadas. Perante tal, os partidos políticos que se revêm nas regras básicas dos Estados de Direito não podem manter impassividade ou  silêncio.”

Este é um dos parágrafos do comunicado que o CDS enviou às redações no fim da tarde desta sexta-feira, apelando à “condenação veemente”, por “todos os partidos democráticos”, dos “crimes de incitamento ao ódio e à violência”, e anunciando que vai apresentar um voto nesse sentido no parlamento.

O apelo surge na sequência da vandalização, na noite de 11 de junho, da fachada do restaurante lisboeta Tantura, propriedade de um casal israelita, com a pichagem “Tantura é um massacre” - a qual alude à ocupação da pequena localidade costeira palestiniana com esse nome pelo exército israelita em maio de 1948, após a declaração de independência de Israel, à expulsão da sua população árabe e a um denunciado (há dúvidas sobre o que realmente aconteceu) massacre de parte dela.

Imagens da pichagem surgiram na página de Instagram do Coletivo pela libertação da Palestina. Este apela a um "boicote ao Tantura", naquilo que parece ser uma assunção desta ação: "Um grupo de militantes antissionistas grafitou as paredes do restaurante israelita 'Tantura', em Lisboa, em solidariedade com a resistência palestiniana. Escreveram as frases 'Tantura é um massacre' e 'Free Palestine', como forma de denunciar como o restaurante sionista que diz servir 'as receitas mais conhecidas da culinária israelita' é, na verdade, um projeto de apropriação cultural e de branqueamento da Nakba [a grande expulsão dos palestinianos que ocorreu após a fundação de Israel]". Referindo a seguir a expulsão de toda população árabe da povoação, fala do massacre que terá ocorrido nessa circunstância, para acusar: "Em toda a presença online ou offline do restaurante (incluindo em entrevistas e posts nas redes sociais), não parece haver qualquer tipo de reconhecimento do massacre de Tantura ou de Tantura ser uma aldeia palestiniana destruída pelo projeto colonial israelita".

O CDS insere o ataque ao restaurante, que abriu em 2017, naquilo que descreve como uma escalada dos crimes de ódio em Portugal: “Cresceram 38% [dados da PSP e GNR comunicados à Lusa em fevereiro deste ano] em 2023 e, desde o início do ano, temos assistido, quase semanalmente, a sucessivos atos de vandalismo, crimes contra a identidade cultural e integridade pessoal e a manifestações racistas, xenófobas ou antissemitas, que rapidamente escalam para comportamentos mais violentos”.

No mesmo plano, caracterizando-os como “manifestações de extremismo nascidas de polos opostos”, o partido coloca os “ataques contra imigrantes no centro do Porto” no início de maio (nos quais vários imigrantes foram agredidos na rua e em casa, e que foram atribuídos a elementos relacionados com a extrema-direita, estando a ser investigados pela Polícia Judiciária como crimes de ódio - como o DN noticiou em primeira mão) e “ações dos chamados coletivos pró-Palestina que, juntando-se a ações mais agressivas dos chamados movimentos climáticos, têm vindo a elevar o grau de violência da sua ação política”.

No mesmo comunicado, o CDS-PP - cujo vice-presidente Paulo Núncio se manifestou contra qualquer limitação à "liberdade de expressão" no parlamento na sequência da polémica surgida a propósito de uma referência xenófoba de André Ventura e do anúncio do presidente da Assembleia da República de que não tencionava intervir em situações nas quais os deputados exprimissem opiniões ou ideias racistas -, refere ainda como "manifestações de extremismo" “a tentativa de ocupação e vandalização de edifícios públicos, incluindo ministérios, com fachadas pintadas e janelas partidas, ou Universidades”, “os insultos e arremesso de objetos contra os convidados para as celebrações do 76.º aniversário do Estado de Israel [celebrações que ocorreram no Cinema São Jorge, em Lisboa], e “as situações de confronto entre manifestantes de extrema-esquerda e de extrema-direita, que levaram a uma intervenção da PSP, junto ao Padrão dos Descobrimentos [refere-se ao ocorrido a 10 de junho]”.

O DN pediu esta sexta-feira à PGR informação sobre a eventual abertura de um inquérito relacionado com a pichagem do Tantura, e sobre se este, a existir, investigaria o eventual cometimento de um crime tipificado no artigo 240º do Código Penal (Discriminação e incitamento ao ódio e à violência), mas não obteve resposta até ao momento. 

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