O Campo de Tiro (CT), que está integrado na Força Aérea desde 1993, celebrou 120 anos a 26 de março de 2024. Na cerimónia comemorativa foi descerrado um monumento que evoca as duas principais vertentes da infraestrutura militar: “O compromisso com a missão e a sustentabilidade ambiental.”.A sustentabilidade é, de facto, um elemento muito presente na atividade diária do CT e algo que é levado a sério pelo comandante, o coronel Manuel Bernardo da Costa. “Nós somos a única unidade das Forças Armadas que tem três certificações florestais – a FSC, que atesta que os produtos de madeira ou papel são provenientes de florestas geridas de maneira responsável e sustentável; a PEFC, que garante que a madeira, a cortiça e os outros produtos não-lenhosos são produzidos de acordo com os melhores padrões éticos, ecológicos e sociais; e a MPB, que assegura a existência de um modo de produção biológico. Além disso, temos certificação ambiental, que todos os anos é auditada por uma entidade externa, e que atesta que nós controlamos os impactos ambientais das nossas atividades e implementamos, sistematicamente, medidas para o minimizar.”.O general João Cartaxo Alves, Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), no dia em que se realizou no CT um treino de dois F-16 com largada de bombas e munições reais, reforça esse eixo das boas-práticas ambientais; “Quando se ouve falar em Campo de Tiro, há quem pense imediatamente numa coisa desgraçada, com poluição terrível, muito agressiva para o ambiente, etc. Mas não é isso que se verifica. Nós servimos, de facto, as nossas forças militares e de segurança, é essa a grande missão, mas também temos a trabalhar nos nossos quadros engenheiros ambientais, engenheiros florestais, um corpo de bombeiros próprio, altamente especializado para combate a incêndios em aeródromos e bases aéreas, bem como em zonas florestais, como a que é ocupada pelo CT. Aliás, além da limpeza dos terrenos florestais, todos os projéteis que disparamos são retirados do terreno precisamente para evitar a contaminação e danos para a abundante fauna que aqui circula e que convive perfeitamente com o tipo de atividade que desenvolvemos”..A gestão do parque florestal tem outra vantagem para a Força Aérea: a capacidade de gerar receita. O CT, situado na Charneca Ribatejana (também conhecida por Charneca do Infantado), na margem esquerda da bacia sedimentar do Rio Tejo, ocupando áreas dos concelhos de Benavente e Montijo, apresenta uma floresta indígena de montado de sobro e pinheiro manso, mas também existem naqueles mais de 7500 hectares espécies representativas como eucaliptos, pinheiros-bravos, choupos, salgueiros, freixos, esteva, sargaço, urze, giesta ou carqueja..Praticamente todos os dias operam no CT empresas, sujeitas a concurso público, que procedem à extração de cortiça, limpeza e remoção de carga térmica, desbaste e aproveitamento de madeira, recolha de pinhas e outros bens que depois são utilizados para fins comerciais. O CT estima que este ano a receita gerada com exploração florestal ascenda a 1,1 milhões de euros. A verba é entregue à Força Aérea, revertendo depois uma parte do valor para o CT. A soma recebida acaba por ter “um peso muito significativo no orçamento da Unidade”, assume o comandante..Também por isso, o desejo do CEMFA é replicar o modelo de gestão ambiental do CT numa futura localização: “Os sítios nunca são iguais, mas para onde quer que a Força Aérea vá os programas que iremos implementar serão do mesmo tipo. Agora, poderão não ter a mesma mais-valia financeira ou até ter mais. Isso a seu tempo se verá.”.A receita total prevista para 2024 no CT é de 1,5 milhões de euros. A exploração florestal vale mais do dobro do que pagam as empresas ligadas à Indústria da Defesa para utilizarem as instalações (cerca de 400 mil euros este ano)..O Campo de Tiro participa atualmente numa iniciativa de monitorização da nidificação de águias-de-bonelli. “Este é um dos poucos sítios no país onde ela nidifica", lembra o comandante da Unidade militar..Biodiversidade: dos gamos à àguia-de-bonelli.O ecossistema do CT funciona em pleno e a vida selvagem beneficia também do facto de ocupar uma zona militar, protegida, a que população civil não tem acesso. Compatibilizar a convivência destas espécies com a operação comercial e todo o tráfego aéreo do futuro aeroporto Luís de Camões será também um desafio ao qual o Governo terá de responder..Atualmente, a floresta do CT serve de casa para espécies como gamos, javalis, raposas, saca-rabos, doninhas, furões, texugos-cão, genetas, coelhos-bravos, perdizes, lebres, ratos-de-cabrera, entre outras. Nas três barragens do complexo militar as espécies predominantes são achigãs, tritões-de-ventre laranja e cágados-mediterrânicos, mas também é frequente a visita de aves como garças, corvos-marinhos, patos bravos e flamingos..A presença de toda esta fauna no CT é, claramente, um motivo de satisfação para o comandante, que nos exibe no telemóvel uma foto que ele próprio tirou e que mostra um conjunto de seis gamos a alimentarem-se junto a um edifício do complexo militar. .“Estava a sair do escritório e dei de caras com esta imagem. Dá-nos imenso prazer ver isto. Alguns animais estão de tal forma habituados a nós que circulam por aí livremente e estes ‘malandrecos’ até vêm aqui comer relva. Além dos que já cá estão, comprámos também recentemente um grupo de cabras sapadoras para nos ajudarem [nas operações de limpeza]. E em vários pontos do CT reutilizámos umas banheiras velhas, que enchemos de água para os animais se servirem”..No que respeita à preservação da biodiversidade, o CT participa atualmente em duas iniciativas de monitorização da nidificação das aves coruja-das-torres e águia-de-bonelli. “Este é um dos poucos sítios no país onde nidifica a águia-de-bonelli e isso para nós, por acontecer numa instalação militar, é motivo de orgulho, porque demonstra que estamos a fazer as coisas bem”, conclui o coronel Manuel Bernardo da Costa.