A propósito do primeiro aniversário da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, o DN foi ao encontro de Carlos Moedas, nos Paços do Concelho, em Lisboa. Uma conversa sobre a JMJ mas também sobre várias questões que estão na ordem do dia, como a segurança, a habitação ou os transportes, na capital. .Estamos aqui por ocasião do primeiro aniversário da Jornada Mundial da Juventude. Queria primeiro que me falasse na herança desta jornada para Lisboa.Tenho um sentimento como presidente da câmara mas também como pessoa. O evento foi realmente muito maior do que alguma vez imaginei, porque as pessoas diziam que eram um milhão e meio de pessoas. Eu pensei que isso não ia acontecer. Depois o que eu não esperava era o momento de união que se viveu na cidade, entre as pessoas: estarem bem umas com as outras e estarem numa alegria que era quase contagiante. Ficaram muitos momentos da cidade, em que encontraram os miúdos no meio da rua e eles começarem a cantar, os miúdos a ajudarem os homens da higiene urbana a limpar, atrás do palco, um dos dias, toda a gente a bater palmas à polícia. E isso é um espírito que se viveu naquele momento e que eu quase que tenho pena, de certa forma, de se ter perdido. Depois vieram toda uma série de desgraças internacionais, as guerras, e talvez se tenha perdido aquela essência. Quase que quero agarrar aquele momento, porque foi um momento único. Na altura, estávamos completamente extenuados porque tínhamos trabalhado aqueles anos. Não sei se se lembra, mas começámos do zero, ou seja, chegámos ao terreno e estava uma lixeira, não havia nada. Houve momentos em que pensei não iríamos conseguir, porque era tanta coisa que tínhamos de fazer... Isto é tudo de uma dimensão enorme. Estávamos a falar de milhões de pessoas só em casas de banho, em tudo que era espaço, houve um investimento brutal. .Qual foi o retorno desse investimento?Para mim foi um contentamento tudo ter acontecido bem, mas também houve a dureza de algum cinismo da parte política. Havia pessoas que diziam que ia correr mal e mesmo depois, tendo corrido bem, depois diziam não: que isto não trazia nada à cidade, que as pessoas não gastaram. Depois vem o estudo do ISEG, que é uma universidade completamente independente eu não tenho contatos nenhuns no ISEG, e que diz que foram 290 milhões de euros de retorno económico e 10 mil empregos criados. Ou seja, houve, de facto, um impacto económico muitíssimo relevante na cidade de Lisboa A JMJ trouxe imensa energia à cidade e à câmara municipal. Trouxe muita autoconfiança aos trabalhadores da câmara, porque conseguiram organizar uma coisa para um milhão e meio de pessoas e isso quer dizer que a câmara tem pessoas ótimas e consegue fazer outras coisas. Às vezes não conseguimos fazer tudo e temos muitos problemas, como todas as organizações, mas isso trouxe muita autoconfiança às pessoas. Além de tudo isto, ficou a como herança um jardim ótimo para os lisboetas: o Parque Tejo e a pala do altar-palco. Ficaram 30 hectares de verde e o Rock in Rio deixou o sistema da água, deixou a eletricidade, portanto eles também estão a deixar coisas à cidade. Fez-se a Cidade Verde. Quando perguntam o que é que o Moedas quer deixar como grande obra, diria que deixei uma obra verde, de 30 hectares sem um centímetro de cimento. .Mas se tivesse de escolher uma grande obra que marque o seu mandato, qual seria? O Plano Geral de Drenagem de Lisboa?Sim, é verdade. Porque é uma obra muito importante para a cidade e não se vê, está enterrada. Causa transtornos à superfície, enquanto está a ser feita mas, no futuro, os lisboetas poderão desfrutar dela, quando não houver cheias. Quando comecei, na altura foram as primeiras cheias, e eu tinha na mão um projeto que realmente não é popular, porque não se vê, está enterrado. Mas naquela altura das cheias senti que ou era agora ou nunca e teríamos de avançar. Hoje tenho imenso orgulho de ter conseguido dar esse passo. Neste momento, na Avenida da Liberdade, tivemos de cortar uma faixa de trânsito porque a Avenida da Liberdade vai ter um “poço” tapado para a água poder drenar e aquelas cheias vão desaparecer na Baixa. São 150 milhões de euros de túneis, é mesmo uma obra muito grande. Estamos num pico de dificuldade, com muitas obras ao mesmo tempo, mas no final as pessoas sentirão um alívio. Mas também tenho muito orgulho no Parque Tejo. O fundador do Rock in Rio, O Roberto Medina, no primeiro dia do festival olhou comigo e dizia; 'Isto é um cartão postal incrível de Lisboa'..No entanto, houve muitos visitantes que, por uma questão de mobilidade, se queixaram. Isto porque o parque da Belavista está mais no centro da cidade.Isso só correu mal no primeiro dia, porque depois nós reforçámos os autocarros da Carris e a partir daí a coisa começou a andar..Pegando aqui na questão da mobilidade, em relação ao serviço da Carris, as viaturas estão em bom estado - já não se coloca isso - mas os percursos são muito longos, há muita falta de corredores bus, há muito pouca ligação entre carreiras. Isto são problemas que nos afetam diariamente. Sendo agora a Carris uma empresa municipal há algum plano para melhorar a mobilidade? É que quem não está no centro, para quem vem de Ocidente ou de Oriente, não tem a mesma mobilidade do que quem tem acesso ao comboio ou ao metropolitano. Eu próprio, às sextas-feiras, venho sempre de autocarro, portanto sou um cliente muito chato! Venho muitas vezes ali das Amoreiras, de 711, e como ele vem pela autoestrada, às vezes estou ali à espera muito tempo. Estou sempre a insistir, e tive agora a confirmação da Carris, que vamos aumentar o número de corredores de bus E depois temos de fiscalizar mais porque as pessoas andam no corredor bus, não cumprem com a lei e a polícia tem de multar..Nesse caso, tem de haver mais presença da polícia municipal?Isso aí é outro tema. Mas nós investimos na Carris o ano passado à volta de 50 milhões de euros em renovação de frota. Por isso, como está a dizer, não é a frota, temos é de aumentar os corredores bus. isso estamos a fazer. Já temos as carreiras de bairro em quase todos os bairros, que isso também mudou, sobretudo para pessoas mais de idade que no bairro não conseguiam andar de um lado para o outro e isso já se conseguiu. E temos de aumentar a velocidade média dos autocarros: eles têm uma velocidade reduzida porque ficam parados no trânsito. Isso, lá está, tem a ver com a criação de mais corredores bus. Vai haver um grande alargamento dos corredores bus em Lisboa, isso é fundamental. E depois a renovação da frota para uma frota que não seja a gasóleo. Vamos ficar com uma frota com 80%, ou mais, de veículos amigos do ambiente, e isso é muito importante para a cidade e muito importante para a poluição..Também existe fraca ligação entre autocarros e as pessoas esperam muito tempo nas paragens, entre transportes.Temos de aumentar sobretudo a frequência, porque no fundo há uma parte de autocarros que ficam nas filas de trânsito e não conseguem andar, e os próprios condutores que eu sei porque falam comigo, queixam-se. Temos, também, de aumentar a frequência de autocarros, porque noutros países vê-se mais autocarros a passar..Pensou muito antes de avançar com o Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL)?Pensei muito, , falei muito, aconselhei-me muito e falei muito com o Carmona Rodrigues que é, no fundo, o pai da ideia e incentivou-me muito a avançar. Dizem-me: ‘Se tu fizeres isto, resolves um dos maiores problemas da cidade e vai custar, porque as pessoas vão resistir, porque vai haver muitas obras e não vão ver’. Decidi avançar e um mês depois, mais ou menos, dá-se o caso daquelas cheias muito grandes. Acho que aí a população também me ajudou. Foi um momento dramático para muita gente. As pessoas ficaram sem lojas, sem casas. Eu nunca tinha visto uma coisa daquelas, foi muito impressionante. Nessa altura, as pessoas começaram a aderir ao projeto. Penso que tenho a população do meu lado, mas obviamente é uma obra que nunca ninguém vai ver porque ela é enterrada. Vamos ver quando não tivermos cheias. Há outro aspeto, que falei muito também com o Carmona Rodrigues, que é o de aproveitar toda a água da chuva para poder regar, lavar as ruas e poupar água potável. Hoje em dia, qualquer projeto que façamos, temos que ter na nossa mente que temos recursos escassos no mundo, que temos de aproveitar, que temos de reutilizar. E isto seja em nossas casas, seja em qualquer lado... Ou seja, cada um de nós tem que fazer o seu bocadinho. E uma câmara municipal que consiga fazer isso, muda tudo. Porque qual é a ideia de nós hoje utilizarmos a água da torneira para lavar as ruas? Esta água pluvial nós vamos tratá-la um bocadinho, não é bebível, mas serve perfeitamente para a limpeza urbana e regas, não faz sentido devolver estas águas pluviais ao rio. .Passando para outro tema, estivemos há pouco tempo em reportagem na Mouraria, devido ao sentimento geral de insegurança da população. Os mais velhos vivem fechados em casa, com receio do que possa acontecer na rua. Os turistas ficam, muitas vezes, sem os seus bens. Aliás, dentro do que é a criminalidade grave, até já houve tentativas de violação, na Mouraria. Os moradores e comerciantes reclamam por um sistema de videovigilância. Que esforços têm sido feitos para haver mais segurança em Lisboa?Bom, primeiro, eu estou muito preocupado, mas sem querer preocupar as pessoas. Ou seja, estou preocupado mas Lisboa continua a ser uma cidade segura, apesar de estar mais insegura. Hoje está provado que há mais crime e muitas pessoas acabam por não fazer queixa. Desde o primeiro momento sou contra o fecho das esquadras porque havia esta teoria que fechavam-se as esquadras mas depois a polícia andava nos carros na rua. Não, a pessoa não tem as esquadras e também não vê a polícia na rua. Pedi mais 200 polícias municipais e só recebi 25. Mas a minha preocupação não é só os mais polícias municipais. Tem de haver mais PSP em Lisboa e eu posso ajudar. Estou a tentar utilizar um espaço, na Praça da Alegria, para fazer esquadra. Falei com o presidente da Junta de Santa Maria Maior: também na Mouraria estamos a procurar um sítio para o fazer. Nem falamos de uma esquadra, mas um sítio onde a polícia possa estar, possa até descansar se for preciso, mas para a polícia estar ali. Para haver visibilidade, porque a visibilidade é importantíssima. . Tenho lutado muito para esta mudança da segurança. Por exemplo, em termos de habitação, já consegui arranjar 40 lugares para polícias viverem em Lisboa, até nos nossos bairros municipais. Em cada concurso que abro tento dar lugar à polícia, porque eles têm salários muito baixos e precisam de sítios para viver..E a videovigilância, que a população tanto pede?Temos 200 câmaras que vamos montar. Começámos em Santa Catarina, já lá estão. Agora vamos colocar mais no Cais do Sodré, depois no Campo das Cebolas e portanto vamos ter 200 câmaras, em vários pontos, e isso será essencial. A própria PSP me diz que isso é essencial. É dissuasor, além disso, é importante para se ir buscar provas se aconteceu alguma coisa. Onde é que as pessoas estavam, quem era, etc. Estamos agora a lançar os primeiros concursos e portanto a videoproteção vai ser uma realidade..Em relação à habitação, fizemos reportagem em alguns bairros municipais, e notámos que havia uma grande degradação do edificado, em certas zonas, tanto no exterior como no interior das casas. Sei que já existe o programa Morar Melhor, e que estão a ser feitas obras em alguns bairros municipais. Há mais projetos a este nível?Temos esse grande programa com a Gebalis, o Morar Melhor que é dos maiores investimentos que alguma vez foi feito, mas quer dizer nunca chega a tudo. Mas são 142 milhões de euros, na Gebalis. Muitas vezes perguntam-me: ‘Como é que se conseguiu entregar duas mil casas até agora?’ Nós conseguimos entregar duas mil casas porque mil dessas casas estavam vazias e entaipadas. Há uns dias fui visitar uma dessas casas, em que com 25 mil euros, pusemos janelas, pusemos uma cozinha e as pessoas puderam ir para lá viver. Era uma situação que causava uma irritação muito grande nas pessoas, porque das duas uma: ou a casa estava vazia, e as pessoas não percebiam por que é que estava vazia, ou então vinha alguém e invadia e não há esse direito. .Até porque há listas de espera para habitação municipal.Claro, e estão outros a entrar nas casas que estão vazias... Ao princípio pensei em concentrar-me a fazer prédios novos, mas isso demora três anos. Por isso, recuperar aquelas que estão vazias é uma boa estratégia. Obviamente que as outras , que serão construídas, vão seguindo o seu tempo. Depois há esta injustiça de muitas pessoas, eu tentei passar aqui na câmara e não consegui, que é: pessoas que estão há mais de 15 ou 20 anos na sua casa, que pagaram renda a vida inteira, que são bons pagadores, porque é que não podem comprar a casa por um valor simbólico? E aqui a minha Oposição não deixa vender a casa às pessoas. Isso já aconteceu, no município, mas atualmente não me deixam fazer isso. Acredito que as pessoas comprando a sua casa a mimam. Fica a sua casa. Portanto, poderíamos ter feito mais. .Sim, mas do que sei, do terreno, há o problema da constituição de condomínios, que nem sempre é pacífico, em alguns bairros, os moradores não se entendem.Exato, aí há problemas. Mas, para mim, era simples: a Gebalis fazia e geria o condomínio. E quando alguém não paga, a Gebalis até podia pagar, porque as pessoas não é por mal: não têm dinheiro para pagar. Portanto a Gebalis podia-se substituir mas a casa era da pessoa, a propriedade era da pessoa..Serão construídas mais casas, como estava a dizer?Nós continuamos a construir muito e portanto ainda vão ser muitos anos, porque são 560 milhões de euros que vêm do PRR e depois do PRR para continuar. Isto irá pelo menos até 2028, 2029. Mas como lhe digo, estamos a acabar muitas e estamos a pôr muitas já no mercado. Aliás, eu tenho conseguido, mais ou menos, entre as que recupero e as novas, entregar 30 casas todos os 15 dias. Há muitas necessidades mas se compararmos Lisboa com outras cidades, 12% da nossa população vive em casas da câmara, tanto em bairros municipais como em património disperso pela cidade. Somos o maior proprietário do país. Não há muitas cidades na Europa em que tantas pessoas vivam em casas municipais..Soube pela vereadora Filipe Roseta que está a tentar aprovar-se um sistema de cooperativas. Segundo sei, o problema seria o modo da cooperativa, porque há dois modelos. Num deles, as casas podem ser postas no mercado imobiliário. No outro, que é o do inquilinato, não podem e este seria o modelo preferido pela Oposição.Torna-se tudo muito ideológico. Veja-se o caso de Telheiras: As pessoas, ao fim daqueles anos, têm direito à casa, é sua. Se a quiserem vender, devem poder vendê-la. Porque mesmo um jovem, seja um jovem enfermeiro ou jovem jornalista, quer ter mobilidade. Pode querer, ou precisar, de ir trabalhar para outra cidade. E, se calhar, quer vender a sua casa. E por que não há de poder vendê-la? Acho que às vezes a política cria tantos entraves. Às vezes estou ali na reunião da câmara e a pensar: a Oposição a querer meter sempre mais qualquer regra, e às vezes as regras são mal pensadas. Porque quando se faz uma regra aquilo tem sempre muitos efeitos e a pessoa, se calhar, naquele momento do calor da discussão não pensa. Mas depois pode ter efeitos muito negativos..Estamos sensivelmente um ano das autárquicas. Quer fazer algum balanço deste mandato?O balanço que faço é o balanço de ter conseguido, numa situação muito difícil, em minoria, realizar medidas que deixam marca na cidade. E essas medidas que deixam marca na cidade são medidas, muitas delas, de caráter social, como é o caso do Plano de Saúde, em que já temos quase 13 mil pessoas, com as clínicas que começámos a fazer, que mudam realmente a vida das pessoas.Isso foi, para mim, realmente uma realização muito forte, porque toda a gente dizia: ‘Não, a câmara não pode fazer na área da saúde, a saúde é uma prerrogativa do Estado’. Eu disse não. Vamos fazer. E fizemos. Fizemos também os transportes públicos gratuitos, que foram realmente uma marca muito grande e que ainda hoje, é engraçado, sobretudo as pessoas de mais de idade agradecem-me. A isso juntámos também, por exemplo, o Passe Cultura, com o qual as pessoas podem ir aos nossos equipamentos culturais - os menos de 23, os mais de 65 - sem pagar. E isso realmente deixou marca. O PGDL, que já falámos aqui, que é uma das maiores obras de sempre nesta cidade, aquilo que fizemos no urbanismo, que é um bocadinho, talvez mais também invisível. Mas eu costumo dizer que quando eu chegava aqui, tinha queixas todos os dias, de pessoas, dos processos que não davam, em que não havia a licença e que não acontecia. E a vereadora Joana Almeida conseguiu realmente mudar o paradigma. Os processos mais pequenos, em dois ou três meses estão aprovados, que são os projetos de regulação de casas, de extensões, de coisas pequenas que estavam ali paradas, e ela conseguiu limpar isso tudo. Depois, os projetos de menos de 1800m², que em cinco a seis meses conseguem ter a licença. Há uns que são maiores, são mais complexos e também demoram muitas vezes mais de um ano, mas já não demoram os três, quatro ou cinco anos que demoravam. E isso também foi muito, muito bom. Aquilo que fiz com os trotinetas, que reduzi para metade o número das trotinetas que agora vou fazer com os tuk-tuks. Mas falando com os tuk-tuks, encontrando soluções para os tuk-tuks. Como é que nós reduzimos o número de tuk-tuks, como é que eles estão mais organizados? Nós temos aí sítios na cidade que estão caóticos como estavam com as trotinetas. Há uns dias, vieram aqui da Associação Portuguesa de Cegos e de Pessoas com Deficiência Visual e eu até não estava à espera, porque eles vieram para pedir outras coisas e precisavam lá de ajuda para a associação, mas a primeira coisa que me disseram foi que fizemos muito bem em relação às trotinetas. Portanto, olho para estes três anos com o sentimento de que realizei muito mais do que aquilo que eu pensava que poderia realizar em minoria. Também há muitas frustrações de coisas que não aconteceram por bloqueio da Oposição e que eu penso que no próximo ano ainda vai acentuar-se devido à guerra política, que eu acho que é mau para a Oposição, porque os lisboetas não percebem isso. Ou seja, os lisboetas não percebem quando, no fundo, por uma birra da Oposição, porque é que o quarteirão da Fontes Pereira de Melo ficou encalhado quando tínhamos a solução para ele. Ou o ténis de Monsanto: tínhamos de abrir um concurso para ter uma escola internacional de ténis de topo de gama para os nossos miúdos poderem ir para o Roland Garros e para fazerem uma série de coisas. Essas coisas são frustrantes mas fazem parte do caminho. Mas entre aquilo que consegui e aquilo que não consegui, acho que consegui muito mais do que aquilo que pensava que iria conseguir numa situação tão difícil. Repare, eu tenho sete pessoas em 17. Qualquer coisa, para eu aprovar, preciso de mais três pessoas. Estou ali entre os mais dois, mais três, para conseguir que as medidas passem. É um trabalho de fundo muito grande. Costumo dizer que não estou na política para me agradecerem. O agradecer é que as coisas aconteçam e que a Oposição tenha as suas ideias diferentes, mas que deixe governar. Às vezes no nosso país o sistema político parece estar feito para que as pessoas travem as coisas. E eu estou cá a governar a cidade. Deixem-me levar para a frente os projetos.No dia em que estiver outro, mesmo que eu esteja na Oposição, eu deixo essa pessoa levar para a frente os projetos dela. As pessoas votaram naquele projeto, não é? É melhor que sejam bons, mas mesmo não sejam tão bons. Alguns não serão bons para mim, mas são bons para outros, ou há uma ideia diferente de cidade. Estes três anos foram, genuinamente, três anos de muito trabalho. Agora estou a pensar aqui nos dias de férias. Estou extenuado..Apesar das questões com a Oposição e de governar em minoria, sente-se preparado para um novo mandato? Irá recandidatar-se?Não lhe respondo a essa pergunta exatamente porque eu penso na política. Quando a pessoa está num mandato, está a trabalhar num mandato. Há políticos que estão sempre a pensar o que é que vão ser a seguir. Eu, neste momento, estou focalizadíssimo e portanto não vou nem fazer anúncios, nem dos próximos anos, nem nada. Até me choca um bocadinho já haver tantas discussões. É normal que os senhores jornalistas perguntem mas não acho normal já tanta discussão sobre umas eleições que vão ser no fim de 2025. Até daqui a um ano ainda é muito tempo, portanto teremos tempo para falar sobre esses temas..Não sendo um lisboeta, qual é o seu sentimento pela cidade?Eu sou um lisboeta. Acho é que tenho muitas identidades e acredito que a beleza da Europa, e a beleza desta cidade, é que também muitos lisboetas terem muitas identidades. Tenho uma identidade que é o sítio onde nasci, o Alentejo, que é uma identidade muito bonita. Mas a minha identidade maior é realmente Lisboa, porque eu cheguei com 18 anos para ir viver num quarto em Campo do Ourique, no 27 da Rua Ferreira Borges. Se eu pensar aquilo que foi a minha vida adulta, a minha vida consciente, ela foi em Lisboa mais do que foi no Alentejo. Depois também foi noutros países E também costumo dizer que a minha identidade não é só portuguesa. Também tenho uma identidade francesa, com a minha mulher que é francesa. Mas a minha mulher onde se sente em casa é em Lisboa.A maior identidade que tenho realmente é de Lisboa, porque eu sempre voltei a Lisboa. Fui para os Estados Unidos, voltei para Lisboa. Fui para Bruxelas, voltei para Lisboa. E posso lhe dizer que quando voltei de Bruxelas, enquanto lá estive, tive muitos convites para trabalhar em sítios magníficos. Em Londres, em Paris, e tive muitos desafios na altura . Sucede que eu queria mesmo voltar a Lisboa, porque Lisboa tem um sentimento, há um sentimento especial de viver nesta cidade.