Na data em que se completaram 1000 dias da invasão russa da Ucrânia e quando a ameaça nuclear ganhou novo patamar - com a decisão de Vladimir Putin, em resposta ao anúncio dos EUA de que a Ucrânia podia usar mísseis norte-americanos, aprovou mudanças na doutrina nuclear do seu país, alargando o leque de ataques que podem justificar uma resposta nuclear de Moscovo -, os chefes de Estado-Maior do Exército (CEME), da Força Aérea (CEMFA) e da Marinha (CEMA), mostraram convicção nos potenciais dos seus Ramos e planos estratégicos para o futuro. Na conferência A Segurança e a Defesa na Europa - Desafios, organizada pela Associação de Auditores com o Curso de Defesa Nacional, sublinharam também que é preciso mais investimento para reforçar capacidades e recursos humanos..Na sua intervenção, o chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA, general Nunes da Fonseca começou por enaltecer a presença dos militares portugueses em 36 missões em vários pontos do globo e anunciou a constituição de um Grupo de Trabalho com os Ramos das Forças Armadas para preparar o que pode ser “absorvido” com um orçamento equiparado a 2% do PIB (cerca de seis mil milhões de euros, em vez dos cerca de 3 mil milhões previstos em 2025), meta que o Governo antecipou de 2030 para 2029..Mas também sublinhou que, perante uma “conjuntura complexa”, desde 2013 que as Forças Armadas “estão a perder militares - uma média de 750 em cada um dos anos”. De acordo com dados que mostrou, a curva de efetivos só subiu ligeiramente em 2019, mas voltou a cair, chegando a setembro de 2024 com um novo mínimo histórico: um total de 23 057 militares (eram 28 951 em 2016)..O CEME, general Mendes Ferrão, assinalou que os requisitos das forças terrestres do futuro assentam na “mobilidade e agilidade, na proteção e sobrevivência, adaptabilidade, integração, letalidade, escalabilidade e resiliência”, e que na “próxima geração” estas têm de ser “adaptáveis, prontas para operar e preparadas para combater”..A médio prazo, destacou, “o Exército tem de renovar a sua plataforma média - Pandur - que equipa a sua Força de rodas”. A artilharia antiaérea é“uma das grandes fragilidades Exército”, assumida por este oficial General. Lembrou que este investimento não foi totalmente previsto na revisão da Lei de Programação Militar (LPM) em vigor e defendeu que este programa seja “revisitado e financiado”..“Pode estar em causa a proteção das nossas infraestruturas críticas e o nosso espaço aéreo”..O CEMFA, general Cartaxo Alves, mostrou como a Força Aérea Portuguesa (FAP) tem uma visão para o futuro e um plano de ação. Mas, o sucesso dessa visão ainda assenta na essência da existência de recursos humanos e na modernização dos seus meios, em que se enquadra a substituição dos F-16 pelos F-35 e o desenvolvimento de uma plataforma não-tripulada dotada de vários sensores..“Só assim estarão, continuamente, garantidas o apoio às nossas populações e a segurança do espaço soberano. A FAP é o escudo da nossa soberania. Temos de ter credibilidade na ação e relevância operacional”, asseverou..Para o CEMA, almirante Gouveia e Melo, “se pensarmos que a nossa LPM tem cerca de 4 mil milhões de euros alocados para investimentos (em 12 anos) e que Israel, para se defender dos ataques do Irão, gastou numa noite cerca de 2 mil milhões no Iron Dome, não vale a pena dizer mais nada”. .Para o almirante, “a focalização na preparação do capital humano, na dispersão de bases e de meios, na modernização da frota, na inovação tecnológica e no largo espetro de atuação permitirá que a Marinha continue a ser uma força relevante e eficaz na proteção dos interesses nacionais e no quadro mais amplo de preservação da estabilidade e da segurança internacional”..Polícias unidas.O comandante-geral da GNR, general Rui Ribeiro Veloso, e os diretores nacionais da Polícia Judiciária (PJ), Luís Neves, e da PSP, superintendente Luís Carrilho, mos- traram, igualmente, as suas visões, reforçando que, apesar de ter caído do 3.º para o 7.º lugar no Índice Global da Paz, Portugal continua a ser um país seguro. .Ribeiro Veloso lembrou que em 2023 registaram-se, na criminalidade, “sinais de tendência negativa que merecem especial atenção e reflexão”, mas informou que ao longo deste ano, até outubro, nas áreas de responsabilidade da Guarda, os registos da criminalidade geral apontam para um ligeiro decréscimo, relativamente ao ano passado..Luís Carrilho realçou que “securitização dos Estados é hoje um conceito observado na prática” e que “as ameaças graves à segurança têm, precisamente, como alvo a própria essência da democracia”. A PSP, destacou, “assume um incontornável e crucial papel na segurança do nosso país, aqui e além-fronteiras”..Por sua vez Luís Neves, enfatizou a importância da cooperação entre as Polícias e entre estas e as Forças Armadas. “Muitas vezes a nossa missão é cumprida com o vosso apoio e o dos militares. Devia ser caso de estudo. Temos relação sustentada com a Marinha e com a FAP no combate ao tráfico de estupefacientes, bem como com o Exército na área da ciberdefesa”. Salientou a investigação criminal como “um pilar da segurança interna”. “Numa linguagem empresarial é o nosso único negócio”, afirmou, lembrando que as outras polícias, como a GNR e a PSP, “tinham outras valências”.