Von der Leyen e Orbán estavam separados por poucos metros nesta sessão do Parlamento Europeu.
Von der Leyen e Orbán estavam separados por poucos metros nesta sessão do Parlamento Europeu.EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

Von der Leyen e Orbán em confronto com direito a um Bella Ciao da esquerda

Primeiro-ministro húngaro voltou a julgar a política migratória da UE e o apoio dado à Ucrânia, como o abandono da energia russa. E recebeu uma resposta muito crítica da líder comunitária.
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A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, parecia estar a adivinhar o que iria acontecer quando, na abertura dos trabalhos desta quarta-feira, disse que esperava um “debate animado” na apresentação das prioridades da presidência húngara do Conselho da União Europeu. Debate que acabou por se tornar num confronto entre o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. 

Orbán usou a sua intervenção para defender que “deixar a energia russa prejudicou o Produto Interno Bruto” da União Europeia e criticou o que disse ser a perda de competitividade do bloco, pois a UE “também não incentivou a transformação das cadeias de abastecimento e as empresas perderam percentagem de mercado”. 

O líder húngaro referiu ainda as “ameaças para a segurança do bloco”, mas sem nunca referir a Rússia, indo contra a posição dentro da UE, e deixou claro que a imigração é responsável pelo “aumento do antissemitismo e homofobia”. E terminou dizendo: “vamos fazer a Europa grande de novo”, numa alusão ao slogan de Donald Trump, de quem é aliado. 

Em resposta, Ursula von der Leyen criticou Viktor Orbán por continuar a culpar a Ucrânia pela invasão russa, mas também por permitir que a Hungria seja uma “porta dos fundos para interferência estrangeira”, questionando ainda se também culpa o seu país pela invasão soviética de que foi alvo em 1956. “O mundo inteiro viu as atrocidades da guerra da Rússia, mas ainda há quem culpabilize o invadido em vez do invasor, culpam a sede de liberdade dos ucranianos em vez da ânsia de poder de Putin”, acusou. 

Continuando sem referir nome do primeiro-ministro húngaro, von der Leyen prosseguiu a sua investida: “Quero perguntar-lhes se também culpam os húngaros pela invasão soviética em 1956, ou os checos e os eslovacos pela repressão soviética de 1968”.

A alemã criticou ainda Viktor Orbán pela questão energética, dizendo que “em vez de procurar fontes alternativas, em particular, um Estado-membro apenas procurou formas alternativas de comprar combustíveis fósseis à Rússia.”

A sessão de ontem foi também marcada por um momento de protesto musical. Após a intervenção de Orbán, os eurodeputados da Esquerda e socialistas começaram a cantar a música de resistência antifascista Bella Ciao, impedindo o início do discurso de von der Leyen, ao mesmo tempo que eleitos do Patriotas pela Europa, o grupo de extrema-direita a que pertence o partido do húngaro, aplaudia de pé a intervenção do líder magiar. 

Roberta Metsola exigiu respeito pela instituição, mas sem sucesso. “Isto não é a Eurovisão. Isto mais parece a Casa de Papel, mas não é a Eurovisão, vamos respeitar a dignidade desta casa”, desabafou a presidente do Parlamento Europeu, numa referência à série espanhola que voltou a popularizar a canção. 

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