"Saiu um peso de cima de todos na Europa. Esta é uma vitória clara do bom senso sobre o populismo de extrema-direita." Com estas palavras, o social-democrata Sigmar Gabriel, vice-chanceler alemão e um dos primeiros a reagir à segunda volta das presidenciais na Áustria, resumiu o estado de espírito no continente face à vitória do independente Alexander Van der Bellen face a Norbert Hofer, o candidato da extrema-direita. Um voto "por uma Áustria europeia", como o considerou Van der Bellen já depois de o rival ter reconhecido a derrota..Perante uma vitória conhecida mais cedo do que o esperado, Van der Bellen, economista de 72 anos que apesar de ter liderado os Verdes por 11 anos se apresentou como independente, saudou um voto dos austríacos na "liberdade, igualdade e solidariedade". E prometeu ser "um presidente pró-europeu". Os resultados finais só serão conhecidos hoje, quando forem contados os 500 mil votos por correspondência, mas estes já nada vão alterar. Juntando o total do voto no território nacional à projeção do voto postal, a televisão ORF dava 53,3% para Van der Bellen, contra os 46,7% de Hofer..[artigo:5534476].Foi nas redes sociais que o candidato do Partido da Liberdade (FPÖ) admitiu a derrota e felicitou Van der Bellen. "Queridos amigos. Agradeço-vos. Deram-me tanto apoio e estou muito triste por não ter resultado", escreveu. "Felicitei Van der Bellen pelo seu sucesso", acrescentou, defendendo que todos os austríacos devem manter-se unidos e trabalhar juntos. Apesar da derrota, Hofer não parece resignar-se a um papel secundário e prometeu voltar à luta nas legislativas de 2018 ou nas próximas presidenciais..Hofer, 45 anos, ganhou a primeira volta das presidenciais, mas perdeu a segunda volta para Van der Bellen, em maio. Contestou o resultado e o tribunal acabou por lhe dar razão, anulando o escrutínio devido a irregularidades na contagem dos votos por correspondência. Eurocético, Hofer recusa dar "mais poder a Bruxelas", mesmo se na campanha não esclareceu se apoiava a saída da Áustria da União Europeia. Defensor da aproximação à Rússia, o engenheiro aeronáutico que deu um rosto simpático à extrema-direita austríaca acredita que os imigrantes, incluindo os refugiados, não devem ter os mesmos direitos que os cidadãos nacionais..Ideias radicais embrulhadas num sorriso que explicam a sensação de alívio que a sua derrota causou nos líderes europeus. Além de Sigmar Gabriel, outro alemão, o presidente do Parlamento europeu, Martin Schulz, descreveu a vitória de Van der Bellen como "uma pesada derrota dos nacionalismos e do populismo antieuropeu". O polaco Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, deu os parabéns ecologista, afirmando que, num momento em que enfrenta tantos desafios, a UE precisa "do contributo construtivo da Áustria"..Mau sinal para extrema-direita.A derrota de Hofer pode ser vista como um mau sinal para a extrema-direita europeia. Depois da vitória do brexit no referendo de junho no Reino Unido e da eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, a sensação entre os que se opõem aos partidos tradicionais era de que "o impossível tornou-se possível". As palavras são de Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional (extrema-direita), que todas as sondagens colocam na segunda volta das presidenciais de abril-maio em França..Apesar de o presidente austríaco ter papel sobretudo cerimonial, a extrema-direita apostava na vitória de Hofer como tiro de partida numa série de escrutínios que vão marcar 2017 e para os quais parte com boas hipóteses. Antes das presidenciais francesas, a 15 de março é a vez de a Holanda ir às urnas. E nas sondagens o Partido para a Liberdade de Geert Wilders está à frente do do primeiro-ministro, Mark Rutte..No outono será a vez de a Alemanha ir a votos. A chanceler Angela Merkel já anunciou a candidatura a um quarto mandato, pela União Cristã Democrata (CDU), mas a surpresa poderá vir da Alternativa para a Alemanha (AfD) - o partido de extrema-direita e anti-imigração liderado por Frauke Petry já entrou em vários parlamentos regionais e surge nas sondagens com perto de 15% das intenções de voto.