Escritores, jornalistas, políticos, artistas e demais noctívagos já podem descansar: o Snob reabriu e “nada mudou”. Quem o garante é o novo proprietário, Miguel Garcia. De facto, ao voltar a entrar no mítico espaço no n.º 178 da Rua de O Século, os habitués vão notar que está quase tudo igual desde o encerramento do espaço há um par de meses: a típica meia-luz, os livros nas estantes, os candeeiros de latão, as mesas de madeira e os sofás que viram a sua cor original ser recuperada. Contudo, já não vão ter a presença diária do Sr. Albino Oliveira, o anterior proprietário, de 77 anos, agora reformado, que desde 1967 recebia os clientes no Snob, a maior parte das vezes tarde e a más horas..“O layout do bar é exatamente o mesmo, as madeiras foram todas tratadas e os revestimentos são todos os mesmos, até a numeração das mesas é idêntica. Ou seja, quem regressar vai perceber que está tudo igual”, reforça Miguel Garcia, que também é dono de outro local histórico de Lisboa: o Café de São Bento. Ao DN, conta como surgiu a oportunidade de comprar o Snob: “Um dia o Sr. Albino telefonou-me a perguntar se eu considerava comprar, acho que ele percebeu o trabalho que fizemos no Café de São Bento e não queria que alguém viesse e transformasse o Snob noutra coisa qualquer, com DJs, etc.”.A pergunta que se impõe é mesmo sobre o serviço e o perdurar do legado de Albino Oliveira. Miguel Garcia não se mostra preocupado, acredita que a nova equipa vai criar “laços com os clientes”..60 anos de história.Inaugurado há 60 anos, mais concretamente em novembro de 1964 (ano em que o “Diário de Notícias” fez 100 anos), o Snob abriu portas pela vontade de Paulo Guilherme D’Eça Leal, desenhador do jornal O Século. Mas foi pela mão de Albino Oliveira que se tornou (re)conhecido e poiso assíduo de políticos e intelectuais, sobretudo de jornalistas, que na altura trabalhavam nas vizinhanças, onde ficavam a maioria das redações dos jornais nacionais. Conta-se que também José Saramago e José Cardoso Pires, João César Monteiro e Carlos do Carmo, entre outros, eram assíduos do bar..Agora, todos os dias da semana, das 19h00 às 02h00, o espaço está aberto. “Queremos que o Snob esteja sempre na cabeça dos portugueses e que possam ir lá a qualquer dia da semana, seja para beber um copo ou para jantar..Miguel Garcia, o novo dono do bar Snob. Fotografia: Gerardo Santos.O clássico bife.Na comida, foi sobretudo o bife à Snob que ganhou fama nas últimas décadas. O novo proprietário fez questão de não mexer nas receitas originais criadas pela cozinheira D. Maria, que durante anos moldou o palato dos clientes. “Fechei o menu com o Sr. Albino. Ou seja, ele ditou-me e nós transcrevemos à risca aquilo que era para ficar.” Assim, continua a ser possível pedir, até à 01h00, hora de fecho da cozinha, o bife à Snob do lombo (20 euros) ou da vazia (17 euros), os pregos (a partir de 9 euros) e os croquetes (4,5 euros por dois). Mas há mais: o bacalhau à Brás (15 euros), omeletas para os vegetarianos (desde 10,50 euros) e as gambas al ajillo (13 euros). E, nas sobremesas, mantém-se também a mousse de manga, que continua a ser feita com os ingredientes secretos criados por D. Maria. “Estes são os pratos emblemáticos, escolhidos por 90% dos frequentadores do Snob. E, além de termos mantido estes pratos, mantivemos os mesmos preços”, explica Miguel Garcia ao DN. .Mais bebidas.No entanto, há uma nova aposta na nova “vida” do Snob, a cocketalaria e uma maior diversidade de bebidas. Aliás, foi criada uma carta que para além de anunciar as bebidas e o respetivo preço, explica-as com algum detalhe. Entre a variedade da oferta, destacam-se o Negroni (8 euros) e o Dry Martini (8 euros). Nos uísques, há irlandeses, japoneses e escoceses, como o exclusivo Macallan 15 (25 euros). Mas também conhaques como o Remy Martin XO (30 euros).Miguel Garcia segue a máxima futebolística: em equipa que ganha, pouco ou nada se mexe. Quer manter a tradição de um espaço que se tornou referência da noite lisboeta para os boémios da capital.