De um lado, o reservatório. Projetado em 1746, pelo arquiteto húngaro Carlos Mardel, e construído para receber e distribuir as águas transportadas pelo Aqueduto das Águas Livres por toda a cidade de Lisboa. Do outro, a apresentação oficial, pela primeira vez em Portugal, de um dos vinhos mais famosos do mundo: três garrafas de Dom Pérignon, o champanhe que ganhou o nome daquele que é considerado o inventor do método de vinificação que transformou aquela região de França numa das mais valiosas, estavam em destaque mesmo no meio do reservatório. Uma constelação de estrelas projetadas no interior do edifício, onde ecoava a música clássica tocada ao vivo, iluminava a sala. Pierre Pérignon foi um monge beneditino nascido no final do século XVII, e reza a lenda que é a ele que devemos a invenção do chamado método “champenoise”. Pérignon integrou a Abadia Saint-Pierre de Hautvillers, da ordem beneditina, e como era sua obrigação, alternava os estudos com o trabalho manual. Ficou responsável pela adega da abadia, e os registos mostram que Pierre Pérignon inovou em tudo: cuidava das vinhas com atenção, tentava aprender com o que acontecia a cada ano nas uvas - como eram impactadas pelo calor, o frio, as chuvas - e com o tempo que o vinho passava a fermentar. Também se diz que foi ele quem começou a vedar as garrafas de vinho com cera de abelha, ao invés de com linho embebido em óleo. Reza a lenda - e mesmo que não seja verdade, pelo menos é bonita - que, ao fim de umas semanas, várias garrafas tapadas com cera de abelha, que estavam guardadas na cave da Abadia, explodiram. Pierre Pérignon terá compreendido que uma segunda fermentação ocorrera na garrafa, criando a efervescência que hoje tanto apreciamos, e até teria sido ele a experimentar usar rolha de cortiça, na época presa por um cordão, para evitar que saltasse. Há muitos registos que contrariam esta tese, mas não deixa de ser uma boa história. .Seja como for, o que é facto é que a Dom Pérignon, também nascida no final do século XVII, sempre se afirmou como uma das mais exclusivas na produção de vinho, com vinhos que são sempre vintage - ou seja, nos quais são utilizadas as melhores uvas de um ano apenas, e o champanhe só vê a luz do dia se for excecional. Com um mínimo de oito anos de estágio, os Dom Pérignon foram ganhando prestígio e lugar às mesas mais luxuosas, e com todo o mérito. Entre 1921 e 2012, houve apenas 44 vintages brancos engarrafados, e só muito raramente acontece haver vinhos desta referência por mais de dois anos consecutivos. .Na segunda-feira passada, em Lisboa, a Dom Pérignon presentou um exclusivo grupo de 40 pessoas com um jantar preparado pelo chef Sergi Arola (do estrelado LAB by Sergi Arola) para acompanhar três vinhos: o Dom Pérignon 2013, o Dom Pérignon Plénitude (P2) de 2006 e o Dom Pérignon Rosé de 2009. O grande destaque foi para o P2: os Plénitude são os vinhos que a marca liberta apenas quando acredita que atingiram uma espécie de estado de graça do envelhecimento, o que acontece em três fases. Os P1 (ou vintage) são os mais novos - e têm sempre um mínimo de oito anos de estágio em garrafa; os P2 são os intermédios, com um estágio a rondar os 20 anos em garrafa e os P3 são os excecionais, considerados já vinhos velhos..É um facto que estes vinhos são, pela sua exclusividade - e preço - pouco acessíveis ao comum cidadão. Mas são de uma qualidade tal que valem bem o investimento para celebrar um dia muito especial - além de que envelhecem tão bem em garrafa, que pode comprar uma de um ano que queira guardar na memória e bebê-lo apenas muito tempo depois. O facto de a marca ter, oficialmente, feito um evento em Portugal, mostra também que está a crescer no nosso país, com cada vez mais apreciadores e clientes. Sinais dos tempos?