É comum no mundo da gastronomia que restaurantes pequem no essencial, a comida, em nome de um ambiente pomposo ou daquela famigerada decoração Instagramável. É o famoso “bonitinho, mas ordinário”, expressão cunhada pelo cronista gastronómico brasileiro Júlio Bernardo ao falar de casas que apostam mais no cenário do que no sabor.Não é o caso do Mona Verde, que acerta precisamente onde muitos falham. O restaurante, instalado no rooftop do número 14C da Rua Castilho — o mesmo edifício da Embaixada da Dinamarca —, alia uma das vistas mais privilegiadas de Lisboa à cozinha autoral da chef Inga Martins..O espaço foi recentemente renovado, com projeto assinado pelos Archer Humphryes Architects, responsáveis por ícones londrinos como o Chiltern Firehouse e o Peninsula Hotel. A nova cobertura, em tons naturais, e o paisagismo redesenhado fizeram do ambiente um lugar confortável em qualquer estação, pensado para ser vivido tanto ao pôr do sol como nas noites frias de inverno, com um novo toldo moderno que protege o terraço da chuva e vento que se avizinham.Nas refeições, fazer pratos para partilha é o desejo de Inga Martins, carismática e talentosa chef que tem na grelha a sua marca registada. Apaixonada por churrasco e pelo fogo, Inga cria uma cozinha que cruza Portugal com a América Latina (e ainda piscadelas à Itália). Na nossa visita, numa noite de calor, abrimos com a frescura da Burrata cremosa com pesto de tomate seco e crocante de manjericão (€16) e do Ceviche de robalo com puré de batata-doce e coentros (€22).Seguiram-se o Camarão Tigre Grelhado com beurre blanc e malagueta fresca (€35) e o Anticucho de Cogumelos Ostra glaceados e salsa verde (€14), um prato vegetariano que roubou a cena e que também está disponível na versão carnívora com o Anticucho de Porco Preto com creme de chipotle e cebolinho (€24)..Nos principais, pratos do mar, como o Polvo Grelhado com nduja e molho de pimentos assados (€28) e o Robalo com espargos, ervilhas e espuma de beurre blanc (€32) confirmam a boa mão da chef no trato do fogo, seja com peixes, vegetais ou carne vermelha. E como no churrasco não pode faltar carne de vaca, há ainda o Rib-Eye grelhado (250g/600g) com molho e acompanhamento à escolha (€37/€95 dependendo do tamanho).Entre os acompanhamentos, aliás, brilha a conexão Itália-América Latina, com as Batatas Fritas Caseiras com manteiga de chipotle e Parmigiano Reggiano 24M (€13)..Convém é guardar espaço para as sobremesas, como o Ganache de Chocolate, Gelado de Avela, Caramelo Salgado e Brandy Snap (€10) e, especialmente, o Lava Cake de Doce de Leite, Crumble de Amendoa e Gelado de Baunilha (€12). Basicamente um petit gateau com o clássico doce de leite argentino. Poucas chances de correr mal.A carta de cocktails segue o mesmo espírito de fusão e criatividade de toda a refeição, com criações do bar que exploram influências do Brasil, México, Peru e Cuba. Entre os destaques estão o Anestesia, que combina pisco, flor de jambu e matcha, e o Braza, com a bebida brasileira mais tradicional, a cachaça, juntando-se a coco, xarope de morango e água tónica. "Queremos fazer cocktails que façam as pessoas voltarem a restaurante de propósito para beber outra vez", diz Henrique Oliveira, responsável pela assinatura da carta das bebidas..E não apenas de mesa, copo e vista vive o Mona Verde. Outro ponto fundamental para o espaço é a programação musical, que segue um calendário fixo ao longo da semana, desenhado para diferentes moods. Às quartas-feiras, o Disco Sabor recupera o brilho dos clássicos disco e os mistura com batidas atuais, enquanto às quintas, o Mona Vista Social Club convida músicos e ritmos sul-americanos, entre eles noites cubanas ao vivo. Já às sextas e sábados, o Mona Presents assume o comando com sessões de desert house, afro house e influências latinas e por fim, aos domingos, o Sunset Remedy encerra o fim de semana ao som de bossa nova e ritmos africanos. Toda a programação pode ser encontrada na página do Instagram do restaurante. .Preparado para providenciar não só uma experiência gastronómica, mas também este ambiente festivo e de convívio, o restaurante tem ainda nos planos próximos a inauguração de um novo salão, mais intimista na decoração e refinado no menu. Aqui, cabe ressaltar que o lugar é para quem é da noite: abre todos os dias, das 18:00 às 2:00 — a comida é servida até à meia-noite. Depois disso, é curtir. nuno.tibirica@dn.pt.30 anos de Cafeína: um clássico que será sempre um clássico.Zazah: brasileiros comandam restaurante que une arte e sabores do mundo no centro de Lisboa