El Bulo em vias de fechar. Chakall muda restaurantes de Marvila para Braço de Prata
Com os contratos de arrendamento dos três restaurantes em Marvila, Lisboa, a chegarem ao fim no próximo mês, Chakall vai mudar dois dos três espaços ligeiramente para norte da capital portuguesa: a zona do Braço de Prata. No caso, um dos dois Chakburger (o outro é no Estoril) e o Refeitório Senhor Abel. Já o maior deles, o El Bulo Social Club, dificilmente reabrirá portas quando for levantado o confinamento em Portugal.
"Os três acabam contrato de arrendamento em março e abril. Em abril pensava estar aberto, mas acho difícil que o confinamento seja levantado logo no início do mês", explica o chef e empresário, que detém oito espaços de restauração.
"O Chakburger e o Refeitório mudam-se para Braço de Prata. O Beato era outra hipótese, mas já tenho quase fechados os arrendamentos no Braço de Prata. Para o Bulo tinha um projeto para uma coisa mais pequena, mas não volta a abrir. Ainda vou pensar numa solução, mas em princípio, não [volta a abrir]", explica Chakall, não se comprometendo para já com datas.
"Não mandei ninguém embora, consigo manter os postos de trabalho das mais de trinta pessoas que trabalham nesses restaurantes", assume o empresário da restauração. "Acho que o que interessa são as pessoas, o resto são números", explica.
"A primeira preocupação são as pessoas, não deixar ninguém na rua. Quase todos empregados dos meus restaurantes têm contrato, muitos estão connosco há mais de três ou quatro anos", prossegue. E acrescenta: "Já tenho resolvida, com as minhas contas de merceeiro, a continuidade dos mais de cem empregados no universo da minha empresa."
Atualmente, Chakall gere oito restaurantes. Abertos em regime de takeaway e comida para fora estão o El Bulo Social Club, os dois Chakburger, o Refeitório Senhor Abel e o L"Origine (Expo); de portas totalmente fechadas, devido às restrições impostas pelo confinamento, estão o Otto Fish (na Lagoa de Santo André), o Areal Beach (Lourinhã) e o Luz by Chakall (Estádio da Luz).
"Ao contrário do que muitos dizem, eu tive muitas ajudas do governo devido às quebras na faturação provocadas pela pandemia. Mas, claro, suponho que depende muito das contas de cada espaço. A minha empresa [Cozinha Divina] tem 20 anos, com 20 anos a dar lucros. A faturação é 100% real, os salários 100% declarados. No final, ajuda nas contas", prossegue o chef nascido no bairro de Tigre, Buenos Aires, em 1972, mas com residência em Portugal desde o final do século passado.
Sobre o El Bulo, então, as notícias não são as melhores. Inaugurado em 2015, com um investimento inicial de 250 mil euros, o restaurante foi sendo alvo de obras de melhoramento, incluindo a abertura de um segundo piso completamente novo. "Há pouco dizia que o El Bulo não deu lucro, porque todo o dinheiro que gerou foi reinvestido, mas isso não é verdade. Todo o equipamento e a decoração são nossos, podemos transferi-los para outro local quando entendermos", contextualiza.
"Tenho a vantagem de não tirar dinheiro dos restaurantes, toda a receita que geram é reinvestida. Vivo dos meus rendimentos fora dos restaurantes, com a venda dos meus produtos próprios, como os grelhadores, os hambúrgueres, a roupa. Mas também com o que ganho na promoção de produtos, com os livros e os programas de televisão", explica o autor. E, entre risos, admite: "Claro que o meu sonho é que me deem dinheiro todos os restaurantes."
Sobre o impacto da pandemia nas contas e dinâmicas dos restaurantes, uma análise racional: "Tivemos uma quebra de receitas de mais de 40%. Agosto, setembro e outubro ainda foram meses muito bons. Mesmo sem turistas, porque os nossos restaurantes têm os portugueses como público principal."
"Em novembro houve uma quebra brutal. E o melhor mês do Bulo era dezembro: representava 20% da faturação anual. Era à volta dos 200 mil euros, em dezembro passado ficou abaixo dos 60 mil euros", especificou.
Com as casas praticamente arrumadas, Chakall vira-se já para os novos projetos em curso. "Neste momento, estou fora de Lisboa a trabalhar num projeto que devo anunciar em breve", anuncia.
"E estou a trabalhar em dois conceitos para desenvolver em breve. Um, é a expansão do Chakburger. Temos duas lojas, mas o objetivo é abrir 100 a nível nacional, em regime de franchise", anuncia.
"Do outro não posso falar muito. Mas é igualmente um regime de franchise e monoproduto [o Chakburger está centrado nos hambúrgueres]. Já tenho dois espaços praticamente prontos no Porto. Era para fazer a inauguração em abril de 2020, com a pandemia passou abril 2021, e já foi adiado outra vez", explica.
Em simultâneo, vai continuar a cozinhar para a linha da frente no combate à pandemia. "Tenho cozinhado para os hospitais e para o Centro de Distribuição de Vacinas, fazendo paella para 300 pessoas que estão a lutar por todos nós. É a nossa forma de retribuição a esta gente incansável", regista.
"Com o apoio de empresas que fornecem os produtos, queremos voltar a cozinhar em hospitais onde estivemos no primeiro confinamento e ir a outros onde ainda não fomos", compromete-se. A equipa é constituída por seis pessoas, liderada pelo chef e em regime pro bono, e vai continuar a cozinhar para os profissionais dos hospitais, de norte a sul do país.