As origens da quinta remontam ao século XVIII, e fazem parte das heranças dos nobres de Santar e de Palma – o que pode ser confirmado não apenas pelos registos mas também pelo brasão, um ‘P’ encimado por uma coroa, símbolos representativos de cada uma das famílias. A casa principal, réplica de um solar do Dão, reflete a herança de Santar, e está atualmente inserida numa propriedade de 85 hectares, que foi adquirida, parcela a parcela, por Dieter Morszeck, desde 2017. O investimento terá rondado, até ao final do ano passado, 8 milhões de euros, mas deverá aumentar e pode ser feito “sem limites”, conta-nos Luís Morgado Leão, enólogo e CEO da Quinta do Paral. O nome deriva de ‘peral’, mas foi-se adaptando ao sotaque da região com os anos, adquirindo a sua forma última e assim permanecendo por vontade do novo dono.Morszeck é empresário e neto do fundador das malas Paul Morszeck, hoje conhecidas como RIMOWA. O rebranding aconteceu pelas mãos de Richard, filho do fundador, e Dieter assumiria liderança da empresa em 1984. À época, o volume de negócios da companhia rondava os 3 milhões de euros (ao câmbio atual). Dieter aumentou-o para 200 milhões e, em 2016, vendeu 80% da empresa ao grupo LVMH, do titã Bernard Arnault. Registos revelam que o negócio terá rondado os 640 milhões de euros.Foi logo no ano seguinte que Dieter comprou a primeira parcela de terra no Alentejo: uma vinha velha, com árvores a rondar os 80 anos (de uma beleza ímpar), uvas tintas misturadas com brancas, reflexo fiel de uma região onde a agricultura era de subsistência antes da desertificação e da chegada dos grandes grupos. Atualmente, a Quinta do Paral conta com 60 hectares de vinha, 15 dos quais vinhas velhas – tornando-a no maior proprietário deste tipo de árvores da região da Vidigueira.Foi, precisamente, no processo da compra do primeiro pedaço de vinha, que conheceu Luís Morgado Leão. O enólogo terminava a vindima do ano na adega da quinta, que então funcionava em regime de aluguer. Com mais de 30 anos de experiência no ramo, Luís é um responsável entusiasta, divertido e cujo sotaque alentejano denota todo o amor à terra. “O senhor Dieter diz que não há limites ao investimento. O que temos para fazer, vamos fazer bem”, conta-nos enquanto visitamos a propriedade, mas sem adiantar de que valores podemos estar a falar.Hoje, a Quinta do Paral é um hotel de luxo com apenas 22 quartos e é também produtor de vinhos. De muito bons vinhos, deve dizer-se. .Morgado Leão ficou à frente do projeto poucas horas depois de conhecer o proprietário e assim se mantém até agora. O hotel, só para adultos, tem ganhado a confiança de consumidores portugueses e estrangeiros, e oferece várias áreas comuns espalhadas pela propriedade – o que permite quietude mesmo que esteja com lotação esgotada; um ginásio totalmente equipado, e a possibilidade marcar várias experiências seja dentro da Quinta ou fora, na região. Há passeios pelas vinhas, a pé ou de bicicleta, workshops de cozinha – na cozinha da casa principal que pode ser também reservada na totalidade, e garantir maior privacidade aos hóspedes que podem servir-se da sala de jantar para comer a refeição que prepararam com a ajuda do chef José Carlos Gala, do The Wine Restaurant.“Tentamos que as experiências façam sentido dentro da propriedade. É claro que se um hóspede quiser ir andar de balão, nós providenciamos. Mas não temos essa experiência na quinta, porque não se insere no espírito”, explica Filipe Beja Simões, diretor do hotel, enquanto nos leva numa visita guiada pelos diversos espaços da unidade. "No entanto, aqui tudo é personalizado. E o que os hóspedes quiserem, nós fazemos acontecer, na medida das nossas possibilidades".Os 22 quartos dividem-se em cinco tipologias, de quartos duplos superiores a suítes – construídas nas antigas cavalariças, e com arcos de pedra originais que nos fazem recuar no tempo – para além da casa principal. Há ainda espaço a um pátio tipicamente alentejano, com uma fonte e vários pontos de sombra e, num dos cantos da piscina, duas palmeiras erguem-se orgulhosas contra céu azul do Alentejo. “São originais da propriedade, estão aqui há muitos anos. Significavam, nas épocas em que a casa pertencia às famílias de Santar e de Palma, que este era um local de hospedagem para quem precisasse de abrigo. Para peregrinos, viajantes…ou seja, que este era um lugar de acolhimento que abriria as portas a quem precisasse. Achámos que fazia sentido mantê-las, porque é isto que o hotel continua a ser”, conclui o responsável. .Caminhamos para junto do The Wine Restaurant, cujo menu tem inspirações alentejanas – desde o pão branquinho como já raramente se encontra, feito na casa – com um menu sazonal. Alta gastronomia – para regiões mais ligeiras ou simples existem dois outros espaços. É aqui também que pode ter acesso a todas as referências de vinho produzidas na Quinta do Paral, que privilegia a sua gama de vinhos. Mas não deixa de ter outras ofertas: alguns produtores cuidadosamente escolhidos que representam cada uma das regiões vitivinícolas nacionais, e alguns dos produtores de referência de outros países. Tudo cuidadosamente selecionado para que faça sentido com os pratos de assinatura que estão à disposição.“Temos muitos clientes que começam por pedir um vinho de que já ouviram falar, português ou estrangeiro, mas depois provam um vinho nosso e trocam a escolha”, conta, divertido, Luís Morgado Leão. E é um facto que as referências mais premium da Quinta do Paral são bastante diferenciadas do que comummente se produz e comercializa na região.Aqui também se produz azeite, de oliveiras da propriedade, e as azeitonas que chegam à mesa têm um tempero especial que nenhum membro da equipa – 95% natural da região – se dispõe a revelar.Dieter Morszeck aparece amiúde para umas temporadas na sua Quinta do Paral, mas é raro conseguir convencê-lo a falar com jornalistas. Consta, no entanto, que é muito fácil encontrá-lo a fazer conversa com os hóspedes ou os membros da equipa que fazem funcionar a propriedade, que hoje já tem também duas adegas. Daqui saem todos os anos 200 mil garrafas – “preferimos ter menos do que ter mais”, repete Morgado Leão – de vinho de mesa e algum licoroso, sendo que o enólogo se lançou, entretanto, na aventura de fazer uma aguardente. “Vamos ver”, diz sorridente. .Em projeto estão ainda duas novidades, mais junto da população: um restaurante e um boutique hotel, com a chancela do grupo, deverão ganhar forma durante os próximos meses e abrir portas nos próximos anos.Na Quinta, o jardim das aromáticas, junto ao restaurante, está a crescer, tal como as videiras que foram colocadas de forma a construir um túnel de passagem entre a entrada da quinta e a recepção do hotel. Uma caminhada de pouco mais de um minuto que convida a baixar os níveis de ansiedade de quem vem da cidade, e que faz adivinhar o que se encontra no final do túnel: silêncio, os sons da natureza a crescer e a sensação de que o relógio anda mais devagar. Conta Filipe Beja Simões que até já houve hóspedes que pediram para “baixar o volume da música com as rãs”… uma feliz impossibilidade em plena Vidigueira.