O aeroporto é pequenino e o percurso entre a aeronave e o edifício faz-se a pé em menos de um minuto de caminhada. Filas rápidas acolhem os turistas acabados de chegar, muitos deles vindos de países vizinhos ali do Leste Europeu, mas outros chegados de um pouco mais longe. Há poucas perguntas sobre o que se vem fazer ao país e o fluxo vai escoando rápido para as portas de saída, onde, como em qualquer outro aeroporto, se aglomeram guias turísticos e condutores de carros enviados pelos hotéis da capital.A principal cidade da Moldova, Chișinău (diz-se “quichnau”), fica a pouco mais de 30 minutos de carro do aeroporto, dependendo do trânsito. Linhas de transportes públicos ligam-no diretamente às avenidas largas onde, rapidamente, se anteveem os contornos dos edifícios de traço soviético que marcam toda a cidade – e tantas das vilas e lugares fora dela. Depois dos bairros mais pobres, facilmente identificáveis pela humidade a despontar dos prédios e pela construção que ainda não sofreu qualquer tentativa de recuperação, o centro aparece como continuação orgânica das ruas: os edifícios senhoriais, pertença do Governo ou de embaixadas ali presentes; as Igrejas ortodoxas que se destacam pela dimensão e pelo fausto dos seus ornamentos; as ruas perfeitamente limpas e organizadas, onde passeiam calmamente os moldavos na rotina do seu dia-a-dia. .Paredes meias com a Ucrânia, o país vai levando uma vida tranquila e continua a exportar grande parte dos seus bens para os países vizinhos, aquele liderado por Volodymir Zelensky incluído. E nem nos territórios mais próximos da fronteira há agitação ou angústia: a vida segue, tranquila e serena, nas mãos de gente que já viu tanta tragédia que não se assusta com mais uma. Líder na produção de nozes, a Moldova é ainda uma significativa produtora de óleo de girassol e de vinho, setor que tem levado muitos curiosos ao país. Tal como os trilhos que, no centro da Moldova conquistam os amantes da natureza que, durante dias percorrem os vários percursos previamente demarcados com ou sem guias a acompanhar.Ainda a tentar entrar na União Europeia, a Moldova é um belíssimo espelho daquilo que eram grande parte das capitais do Velho Continente há uns anos: na capital, a vida não corre ao ritmo dos turistas – que existem em número moderado – mas sim ao dos cidadãos que vão para o trabalho, para a escola ou para os seus afazeres quotidianos. Afáveis e lestos, quase todos os cidadãos falam outra língua para além do moldavo, dialeto que provém do romeno. O francês é fácil de encontrar – e os pequenos cafés de inspiração francesa são dos lugares mais apetecíveis para um pequeno-almoço ou um descanso, com um livro, a meio da tarde – e o inglês, ainda que trôpego, começa a ser língua comum entre as novas gerações. .Nos restaurantes, a comida tradicional do leste europeu cruza-se com outras inspirações mais ocidentais, mas sem perder a regionalidade que a faz especial: os bolinhos de arroz em folha de videira (Sarmale); tartes recheadas, doces ou salgadas (Plăcinte); empadas de uma enorme variedade (Börek); canja de galinha (Zeama) ou os famosos crepes doces (Cușma lui Guguță). O que se destaca é a qualidade da matéria-prima, muita dela produzida no país, o que torna cada refeição num momento muito interessante – e a preços que nos parecem risíveis, numa altura em que andamos a pagar fortunas, em capitais da EU, por refeições que ficam muito aquém do que deviam tanto em qualidade como em criatividade.É, acima de tudo, a organização, a limpeza e segurança das ruas da Moldova que nos surpreendem durante os dias em que as pudemos calcorrear: o sentimento de que podemos dar um passeio depois do jantar, em segurança, passeando entre eventos culturais vários que chamam jovens e menos jovens para trocar impressões e momentos de convívio; a calma com que se vive, sem precisar de marcar um restaurante sempre que decidimos onde queremos almoçar ou jantar, porque aqui não há filas, mas sim proprietários de braços abertos – e mesas ainda vagas – para nos receber e, acima de tudo, a vantagem de continuarmos num ambiente internacional, onde não faltam marcas conhecidas. Da Apple à Fréderique Constant, as lojas de mais ou menos luxo mostram também que o país está mais aberto ao mundo do que pode parecer à primeira vista.