1. Escapadinha Tua Madre, Évora Alcarcova de Baixo 55 Domingo, 17 de Abril.Faço os quilómetros que forem necessários para comer bem. Quem não celebra a Páscoa, ou prefere fazê-lo longe de casa, sem ter de lavar a louça, sugiro pegar no carro pela manhã e ir parar a Évora, onde o Tua Madre - para mim um dos mais entusiasmantes restaurantes do país - está aberto neste dia santo e a servir uma carta abençoada pelo que de melhor se produz em Portugal. O clima promete temperaturas amenas, o que permite ficar na esplanada de uma das ruas mais pitorescas da "ermida branca". Para começar, o Brioche de fermentação natural do Pão da São, bem recheado com Porchetta caseira feita com Malhado de Alcobaça, do projeto Porco Saloio. Há também Ravioli de Espinafres, Avelã e Veludo de Cabra, um queijo artesanal do I"m Cheese, de Maria Arriaga, que tem os próprios animais na zona da Arrábida e Azeitão. A combinação Itália/Portugal atinge o pico no Spaghetti com Silarcas e Papada de Porco Alentejano: as silarcas são uma espécie de cogumelo de época curta, cuja apanha requer experiência e esta papada de porco alentejana tem dois anos de cura e vem de mais um projeto assinalável, o Feito no Zambujal..2. Bitoque O Sardinha R. Jardim do Tabaco, 18-20 Segunda-feira, 18 de Abril.Desde que me mudei para Lisboa, há nove anos, que me vi em abstinência da minha comida de conforto, a francesinha. Encontrei no bitoque um substituto competente, uma refeição hiperbólica e gordurosa o suficiente para olear a alma. Provo todos os que se cruzam no meu caminho, mas um a que regresso amiúde é o d" O Sardinha, em Santa Apolónia, onde o Sr. Duarte demove os passantes que não o conhecem de entrar no restaurante. "Vai demorar muito, estou muito atrapalhado", diz ele, um teste que passo sempre, sentando-me e esperando que ele tenha tempo de bater o bife do pojadouro cortado ao momento e passado à D. Alda, na cozinha. É um bitoque humilde e composto, boa batata frita, o arroz - que não dispenso porque, como boa portuguesa, adoro um duplo carboidrato -, o ovo a cavalo e o molho de louro, alho e banha que veste tudo isto. Custa 6€, uma módica quantia que não paga as lições transmitidas pelo Sr. Duarte, nem o seu rico vocabulário ancestral..3. Evento Qual o papel da comida na construção da identidade? Mercado de Arroios, 17h00 às 20h00 Terça-feira, 19 de Abril."De que forma a comida contribui para a construção da identidade nacional, regional ou local? E como é usada como instrumento político?" São estas as perguntas feitas pela Associação Pão a Pão e que no dia 19, no Mercado de Arroios, irá tentar responder com convidados de peso. A conversa conta com o antigo chef e cientista político Ronald Ranta; a jornalista especializada em gastronomia, Alexandra Prado Coelho; o professor de Ciências Gastronómicas e chef da Taberna da Rua das Flores, André Magalhães. A Pão a Pão é a associação que fez nascer o projeto e restaurante Mezze, que emprega refugiados do Médio Oriente, e os alunos do Mezze Escola vão juntar-se a Olena Yemelianovska, uma pasteleira acabada de chegar da Ucrânia e à loja de produtos do Médio Oriente, Zaytouna. João Catarino dará uma aula de ilustração. A entrada para este debate é livre, mas requer inscrição..4. Cinema Boiling Point Videoclube da Vodafone.Um dos melhores filmes que vi este ano e que não tem recebido a atenção devida, Boiling Point é uma produção britânica, realizada por Philip Baratini e coescrito com James Cummings. A narrativa exasperante acompanha as preparações de um grupo de cozinheiros num restaurante da moda, ao longo de algumas horas entre a mise em place e o serviço de jantar. A película é filmada em oneshot, o que carrega ainda mais nos nervos do espectador. O papel de chef fica nas mãos de Stephen Graham que passa para o lado de cá do ecrã a angústia de gerir um negócio de restauração. É um filme obrigatório para qualquer pessoa que goste de comer fora. Garanto que, ao final de 92 minutos, vai sentir que levou uma surra de humildade..5. História Lojas com História lojascomhistoria.pt Quinta-feira, 21 de Abril.São já mais de 140 as Lojas com História em Lisboa, e este ano podem chegar às 150 com este estatuto. É um dos programas que mais admiro na cidade e que pretende apoiar a promover o comércio local. Para as descobrir há um site muito completo, em que é possível pesquisar por categoria de loja - restauração, saúde e bem-estar, serviços e reparações, entre outros - ou por zona. Eu gosto de escolher um bairro e palmilhar as ruas de mapa na mão para poder conhecer e espreitar estas lojas uma a uma. Para quem, como eu, ainda valoriza o papel, aconselho a comprar os dois volumes do Lojas com História, editado pela Tinta da China, um trabalho de recolha de histórias e imagens que dignifica este passado histórico. Sugiro explorar a zona da Baixa, comer um croquete ao balcão do Gambrinus e escapulir até ao quarto de banho para espreitar os vitrais de Sá Nogueira; seguir para A Ginjinha, aberta desde 1840, e pedir uma fresca "com elas"; comprar um chapéu de cavalheiro na Chapelaria Azevedo Rua e admirar a fachada Arte Nova da Joalharia Ferreira Marques..6. Vinho A Viagem das Horas R. José Ricardo 1 Sexta-feira, 22 de Abril.Como fã assumida de vinhos naturais que sou, a minha noção de final de tarde de descanso após uma semana de trabalho passa por visitar bares de vinho independentes. Um dos mais recentes abriu em Arroios e chama-se A Viagem das Horas. Um espaço pequeno, confortável e sobretudo muito hospitaleiro, graças a Ricardo Maneira, também conhecido com DJ Rycardo e que conseguiu criar uma verdadeira comunidade na vizinhaça e além-bairro. Há bons vinhos a preços simpáticos, harmonizados com boa música, escolhida pelo próprio e que inclui discos raros..7. Mercados Agrobio Campo Pequeno, Mercado da Comida Independente, Feira de Almoçageme Sábado, 23 de Abril.Aos sábados é o meu dia de repor a dose de hortaliças, frutas e iguarias no meu frigorífico. Costumo começar pelo Mercado de Produtos Biológicos, o Agrobio, no Campo Pequeno, com bancas recheadas de legumes e fruta da época. Não faço listas, compro aquilo que for mais fresco e sazonal. Encontro aqui produtos que não há à venda nos supermercados normais, como acelgas, couve toscana, couve kale eprodutos mais especiais nas alturas certas, como as flores de curgete. Sigo depois para o Mercado da Comida Independente, organizado pela loja homónima na Praça de São Paulo e que deu a oportunidade a produtores e clientes de ver a sua distância encurtada. Compro sempre Veludo de Cabra do I"m Cheese; o meu namorado não dispensa uma ostra na Célia, da Neptun Pearl; quando há míscaros do Tiago, encho o saco. Há sempre alguém a servir comida, seja um cozinheiro convidado, a banca da Miss Dumpling ou do Tiramisusi. Havendo tempo, vou ainda à Feira de Almoçageme, aberta até mais tarde, onde compro muitos produtos de Colares, leguminosas secas, queijos curados e enchidos..filipe.gil@dn.pt