A data exata da fundação é 10 de setembro de 1756, dia em que foi publicado o alvará régio de D. José I, rei de Portugal, mas este é um ano de celebração para a Real Companhia Velha que assinala 265 anos de vida e acaba de lançar um trio de vinhos do Porto raros, de três anos emblemáticos - 1900, 1908 e 1927..O presidente e master blender da casa, Pedro Silva Reis, diz ao DN que a ideia foi selecionar "os melhores vinhos das primeiras três décadas do século XX que fazem parte do espólio da Real Companhia Velha". Estes, garante, fazem parte do lote restrito de colheitas que "se vão revelando excecionais e que, ao longo dos tempos, se vai percebendo que vale a pena guardar para a posteridade".."É preciso saber segurar o ímpeto, resistir e pensar em ir deixando os menos novos para que a reserva seja a nata da nata", explica o enólogo, há 43 anos na Real Companhia Velha. "Essa é a arte de fazer o lote: guardar o fermento da qualidade futura.".Os três vinhos são vendidos em conjunto, em garrafas de 200 ml, por 2500 euros, e pretendem permitir a quem os experimenta o "exercício da prova e comparação de três vinhos muitos bons" - a prova das tais três décadas de que fala Pedro Silva Reis. "Verificar as diferenças e associar à descrição da vindima que temos desses anos", completa.."O vinho de 1900 reflete bem as características daquele ano", salienta Pedro Silva Reis. Delicado e harmonioso são adjetivos usados pelo enólogo para o caracterizar. "Tem menos cor, menos estrutura e notas aromáticas mais discretas", resume. Uma vindima que foi ganhando com a idade. "As suas virtudes vieram a torná-lo num dos grandes vinhos do Porto. O tempo trouxe-lhe nobreza e qualidades.".Sabe-se que nesse ano "terá começado no final de Setembro, com um clima de feição após alguns dias de chuva", diz a Real Companhia Velha..É o inverso de 1927, um dos anos mais famosos do século XX, unanimemente considerado de excelência. "É um vinho extraordinário, de uma grande concentração, que corresponde a cores profundas".."O que impressiona no vinho de 1927 é que demonstra uma potência e elegância surpreendentes. Consegue integrar em perfeita harmonia as madeiras velhas e um vinagrinho que num vinho jovem é defeito e num vinho velho é característico", diz, e conclui: "É essa combinação, em que tanto surpreende pela frescura como pelo vigor, que faz dele um vinho do Porto interessante. É a harmonia perfeita."."Relatam-nos que as chuvas, no final de setembro, foram extremamente benéficas para o afinar da maturação e que a vindima terá ocorrido tardiamente para a época, no início de Outubro, em excelentes condições climatéricas, com temperaturas altas, que terão contribuído para uma perfeita maturação das uvas. Um Porto formidável e, provavelmente, um dos mais distintos de todo o espólio de Vinhos do Porto muito velhos", refere uma nota da Real Companhia Velha..Por fim, 1908, um ano com reputação de vinhos de qualidade, mas não um que tenha produzido clássicos. "Um ano com a reputação de ter produzido vinhos de qualidade, tendo beneficiado de um inverno frio, uma primavera amena e um excelente verão, com altas temperaturas no momento da vindima, a acontecer em finais de setembro", refere a nota da casa..pedro Silva Reis diz que estes vinhos - velhos e raros - documentam a "credibilidade" da casa, que reside no facto de "poder mostrar a nossa origem". "As nossas reservas de vinho são como as reservas de ouro do Banco de Portugal, sem elas não se garante moeda", afirma..É um lançamento que, como o vinho que procura harmonia, pretende partilhar a relíquia enquanto "tenta não perder a memória da empresa". Em garrafas pequeninas que convidam à prova em doses moderadas, próprias de quem saboreia. Chegam ao mercado 500 garrafas de cada, num total de 100 litros. Segue-se, lembra Pedro Silva Reis, à edição de um Very Old Tawny de 1867, quando a Real Companhia Velha fez 260 anos..lina.santos@dn.pt