Vespa asiática alastra por todo o país. Como se combate esta praga?
O caso mais recente ocorreu na zona ocidental do Parque da Pena, em Sintra, que foi encerrada ao público, depois de ter sido descoberto um ninho de vespas asiáticas. Existe um plano de ação para a combater, mas, por agora, a praga continua a espalhar-se.
Foi identificada pela primeira vez em território nacional no ano de 2011, na zona de Viana do Castelo, onde terá chegado por via portuária. Desde então, tem vindo a expandir-se para sul, sobretudo junto ao litoral, com prejuízos na produção de mel e na polinização, já que é predadora da abelha europeia.
Nas últimas semanas, vespas velutinas, ou asiáticas, foram identificadas também na zona metropolitana de Lisboa. Depois de obrigar a encerrar os Jardins das Quintas das Conchas e dos Lilases, no Lumiar, no final de agosto, esta espécie foi detetada na zona ocidental do Parque da Pena, em Sintra, que reabre esta quinta-feira, depois de o ninho já ter sito injetado com inseticida.
As picadas de vespas asiáticas foram ainda associadas a mortes de pessoas pessoas nos últimos tempos, a última das quais de um homem em Guimarães no fim de semana, embora não haja ainda confirmação das causas.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Como é que se controla esta espécie?
Não existe nenhum método eficaz de controlo desta espécie, sendo a destruição de ninhos a metodologia mais usada em Portugal. Esta não deve ser feita com recurso a armas de fogo, nem por pessoas que não estejam habilitadas. Se houver uma destruição parcial do ninho, as vespas disseminam-se e vão constituir novos ninhos. Além disso, a destruição ineficaz deixará mais agressivas as vespas sobreviventes, o que poderá colocar em perigo a integridade física da população.
Quais os métodos usados para destruir os ninhos?
Existem vários procedimentos que podem ser adotados pelos serviços competentes das autarquias locais para a destruição dos ninhos. Ao DN, Raquel Neves, bióloga da Câmara Municipal de Sintra, conta que será usada uma metodologia recente no Parque da Pena. "Vai injetar-se um produto químico no ninho, que vai matar os indivíduos que estão lá. Os que entretanto tiverem fugido vão voltar. Quando isso acontecer, morrem", explica a especialista, que se encontra a acompanhar o processo. Só ao fim de 48 horas é que o ninho será destruído, pelo que se prevê que aquela zona do parque possa ficar encerrada até quinta-feira.
Que outras técnicas se podem usar?
De acordo com o Manual de Boas Práticas na Destruição de Ninhos de Vespa velutina, a incineração do ninho no local é uma técnica possível, mas, adianta Raquel Neves, não pode ser usada quando existe risco elevado de incêndio. Foi desta forma que foi eliminado o ninho detetado na quinta das Conchas e dos Lilases, no Lumiar, em Lisboa, no final de agosto. Além disso, explica a bióloga, pode ser feita uma rega do ninho com um produto químico (inseticida).
É difícil detetar um ninho?
Sim. Os ninhos costumam ser implantados em locais de difícil visibilidade, geralmente nas copas das árvores, por vezes a mais de meio metro de altura. Com a folhagem, torna-se ainda mais difícil detetá-los, sobretudo no período entre junho e setembro. É no outono, com a queda das folhas, que se tornam mais visíveis.
O que fazer se detetar um ninho?
"Nunca se deve aproximar do ninho, nem tentar mexer-lhe, porque esta espécie reage muito a perturbações", alerta Raquel Neves. Deve contactar a linha SOS AMBIENTE (808 200 520) ou preencher um formulário disponível no site sosvespa.pt, que deverá ser encaminhado para a Câmara Municipal da área onde ocorreu a observação. Pode também solicitar a colaboração da junta de freguesia mais próxima do local de deteção ou suspeita para o preenchimento do formulário. Sempre que possível, deverá anexar fotografia da vespa ou do ninho para facilitar a sua identificação.
Desde quando é que a espécie está em Portugal?
Depois de ter sido introduzida acidentalmente em França em 2004, através do porto de Bordéus, espalhou-se rapidamente pelo território francês, expandindo-se depois para outros países europeus. Em Portugal e na Bélgica, a sua presença foi confirmada em 2011, um ano depois de ter sido detetada em Espanha. Instalou-se em Itália em 2012, depois na Alemanha e, mais recentemente, no Reino Unido.
Em Portugal, começou por ser identificada em Viana do Castelo. Esteve durante alguns anos aparentemente circunscrita ao norte do país, mas tem vindo a migrar para sul, mais junto à faixa litoral, onde encontra condições atmosféricas mais adequadas. Segundo a bióloga Raquel Neves, encontra-se sobretudo acima do Tejo, tendo já sido "destruídos dois ou três ninhos na área metropolitana de Lisboa". De acordo com o Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal, criado em 2018, é nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real, Aveiro, Coimbra e Viseu que têm sido identificados mais casos.
O número de denúncias relacionadas com esta espécie não tem parado de aumentar. De 499 casos registados em 2017 pela Linha SOS Ambiente e Território da GNR, o número passou para 708 no ano seguinte e, este ano, vai já em 865, segundo dados da Guarda enviados ao DN.
Em Anadia, por exemplo, os serviços da autarquia já eliminaram, desde o início do ano, 264 ninhos de vespas velutinas, atingindo a cifra de mil ninhos destruídos desde 2016.
De onde veio?
É uma espécie de origem asiática, cuja área de distribuição natural abrange as regiões tropicais e subtropicais do norte da Índia ao leste da China, Indochina e ao arquipélago da Indonésia. Aí, ocorre habitualmente em zonas montanhosas e frescas. Já a subespécie introduzida na Europa, é a Vespa velutina nigrithorax, também conhecida como vespa das patas amarelas. Esta vive no norte da Índia (Darjeeling, Sikkim), Butão, China e nas montanhas de Sumatra e Sulawesi (Indonésia).
Como se expandiu tão rapidamente em Portugal?
"Como é uma espécie que não pertence a estes ecossistemas, não tem predadores naturais, tem muita disponibilidade de presas - abelhas e outros insetos polinizadores - e de suportes para criar ninhos, conseguiu ter uma expansão muito rápida", explica a bióloga do município de Sintra. Destacando que terão sido feitas várias destruições ineficazes de ninhos, Raquel Neves diz que cada ninho por ter "centenas de potenciais fundadores" de novos ninhos, o que levou a uma rápida disseminação desta praga. Apesar dos esforços que têm sido feitos, a especialista acredita que "a tendência é para continuar a expandir-se".
Que impacto tem esta espécie?
O principal impacto é a predação de abelhas. De acordo com o Plano de Ação, a presença da vespa velutina traduz-se "num enfraquecimento e eventualmente na morte final da colmeia", o que leva a "uma menor produção de mel e produtos relacionados e, por outro lado, uma diminuição da polinização vegetal dada a importância das abelhas melíferas nesta importante função biológica".
Para o bem-estar e segurança dos cidadãos, "embora não sendo individualmente mais agressiva para o ser humano do que a vespa europeia, reage de forma bastante agressiva às ameaças ao seu ninho". Se houver uma ameaça ou vibração a cinco metros, "produz-se uma resposta de grupo que pode perseguir a fonte da ameaça durante cerca de 500 metros".
Como pode ser identificada?
Tem patas amarelas, tórax preto, face da cabeça alaranjada, abdómen preto com o quarto segmento alaranjado e listas finas alaranjadas nos restantes. A sua dimensão varia entre os 2,5 e os 3 centímetros de comprimento, mas as vespas fundadoras, de maior dimensão, podem atingir entre os 3 e os 3,5cm de comprimento.