Trigémeos separados à nascença encontram-se por acaso
Quando Robert Shafran chegou à idade de entrar na universidade e escolheu a Sullivan, em Nova Iorque, nunca imaginou que teria direito a uma receção tão calorosa como a que recebeu em setembro de 1980. Assim que ali entrou, os colegas sorriram-lhe, cumprimentaram-no, abraçaram-no, perguntaram-lhe pelas férias e o mais estranho é que o trataram por Eddy.
Pouco depois, Robert percebe. Encontra-se com Eddy e sente-se como se estivesse a ver-se ao espelho. Demasiadas coincidências - físicas, data de nascimento - aproximaram-nos para deslindarem a história. Mas o que não sabiam ainda é que haveria um terceiro espelho. Quando se reúnem todos descobrem que foi a Agência de Adoção que decidiu separá-los e não dar qualquer informação sobre isso aos pais adotantes.
Na vida real eles são Robert Shafran, Eddy Galland e David Kellman. A história deles encheu páginas de jornais nos EUA e resultou num documentário do realizador Tim Wardle, que estreou nos EUA, em julho de 2018, e que, no domingo, se apresenta como um dos candidatos aos prémios Bafta, em Londres.
Tim Wardle diz não ter acreditado quando lhe disseram que ia ouvir a melhor história da sua vida, agora acredita que sim. Tudo começa quando a agência de adoção Louise Wise Services separou três irmãos dados para adoção à nascença e não informou os pais adotantes. A agência apoiava o projeto de um cientista, já falecido, Peter B. Neubauer, que procurava respostas para o eterno dilema sobre a influência do ADN e da educação no desenvolvimento humano.
As crianças, nascidas a 12 de julho de 1961, num hospital de Long Island, seguiram caminhos diferentes até que o destino as reuniu, num dia de 1980, durante o início do curso de Robert Shafran, na Universidade de Sullivan, em Nova Yorque, onde Eddy Galland, que também ali andava. Robert e Eddy olharam-se. "Senti que os olhos dele eram os meus", confessou Robert, muitos anos depois e a propósito do documentário, que ainda não estreou em Portugal.
O sorriso, o cabelo, o cruzar de pernas, o sentido de humor e o facto de serem os dois adotados levou-os a falarem com os pais e a contactaram a agência de adoção. Queriam ter acesso a toda a história do seu ADN e ao seu processo. Não o conseguiram logo, aliás, só há poucos anos é que tiveram finalmente acesso a todo a informação a que tinham direito. Mas logo em 1980 perceberam que, afinal, não havia só um Robert, havia dois, ou melhor, três.
David, não queria acreditar quando viu na primeira página de um jornal, uma fotografia com dois "rapazes iguais a ele." O texto não lhe dava muita informação, mas bastava olhar para eles, os dois abraçados, sorridentes, e absolutamente idênticos a ele, para perceber que ali havia outra história. Os pais adotivos não sabiam da existência de irmãos, mas eles "eram eu", chegou a dizer. David conseguiu o telefone da mãe de Eddy e ligou-lhe, pouco depois estava na estrada direito a Nova Iorque. Tinha vivido 19 anos sem saber da existência dos outros. Encontraram-se os três e foram fotografados. Não havia dúvida. Eram irmãos.
Eles próprios tentaram fazer um filme com a sua história durante quatro anos, não o conseguiram, precisamente por a agência de adoção tentar travar o processo de pedido de informação. Tim Wardle conta também que, mesmo agora, na recolha de informação para o documentário, a agência "foi sempre hostil, tinha receio que fizéssemos algo sensacionalista."
A história de Robert, Eddy e David tem tanto de tragédia como de alegria. É contada em documentário, mas já há projeto para um filme. O documentário gerou reações de pais adotantes a ligarem para agência e para a produção do documentário. A história dos três rapazes terá sido replicada por outros irmãos gémeos. Tim Wardle confirmou que após a estreia "fomos contactados por outros casais de gémeos e acreditamos que há pelo menos 23 pessoas afetadas." O processo contra a agência norte-americana de adoção continua na justiça.