Poluição atmosférica relacionada com danos no desempenho cognitivo
Investigadores indicam que os homens com menos habilitações literárias são as pessoas mais afetadas por esta tendência
Um estudo chinês revela que o desempenho cognitivo pode ser afetado perante uma exposição à poluição atmosférica. Segundo os investigadores, tais resultados podem ter relevância ao nível global, com mais de 80% da população urbana a respirar níveis prejudiciais da poluição do ar, sendo as pessoas mais afetadas os homens com menos habilitações literárias.
"Temos evidências de que o efeito da poluição atmosférica nos testes verbais torna-se mais pronunciado à medida que as pessoas vão envelhecendo, especialmente por parte dos homens", sendo mais pronunciado nas pessoas com menos habilitações literáriaspode ler-se no estudo publicado na segunda-feira nos Procedimentos da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos da América.
Um facto que levou os investigadores a sugerirem que a poluição atmosférica afeta diretamente os homens com menos habilitações literárias é estes desempenharem trabalhos no exterior.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Ainda de acordo com o mesmo estudo, a poluição atmosférica também agrava o risco de doenças generativas, como é o caso do Alzheimer e outras formas de demência.
Amostra de 20 mil pessoas
Entre 2010 e 2014 foram analisadas as competências matemáticas e verbais de mais de 20 mil pessoas chinesas maiores de 10 anos, sujeitas à prova através de 24 contas de matemática e 34 questões de reconhecimento verbal. E apesar de se poder falar numa ligação, os dados não permitem estabelecer uma ligação de causa e efeito entre os baixos resultados dos testes e a poluição atmosférica.
No estudo participaram investigadores da Universidade de Pequim, na China, e da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Foram medidos como base níveis de dióxido sulfúrico, dióxido de nitrogénio e partículas com um diâmetro menor que 10 micrómetros registados nos locais de residência dos participantes, ficando de fora níveis de monóxido, ozono e partículas largas.
Acredita-se que estes poluentes transportam toxinas que podem afetar diretamente a química do cérebro de várias formas e interferir com a saúde mental das pessoas, agravando o risco de depressão.
"Este último estudo coincide com pesquisas anteriores. O que é novo neste documento é o foco na China e o facto de ser um estudo muito detalhado, em comparação com muitos outros. A diferença entre o género e a idade neste detalhe também é nova", explicou à BBC Derrick Ho, do Politécnico de Hong Kong, que trabalhou nos efeitos da saúde em eventos de condições atmosféricas adversas, como é o caso do nevoeiro.
Apesar de os resultados serem específicos para o território chinês, o estudo sugere que também podem dizer respeito a outros países em desenvolvimento com níveis severos de poluição atmosférica. Os autores do estudo também apontam para 98% das cidades com mais de 100 mil habitantes com rendas médias e baixas que não correspondem às diretrizes da qualidade do ar da OMS..
"As nossas descobertas sobre o efeito prejudicial da poluição do ar na cognição, em particular no envelhecimento cerebral, implica que o efeito indireto no bem-estar social pode ser muito maior do que se pensava anteriormente", conclui o estudo.
Estudos anteriores indicaram que os estudantes sujeitos à poluição atmosférica tiveram as suas habilidades cognitivas prejudicadas.
"A nossa amostra permite-nos examinar o impacto da poluição atmosférica à medida que as pessoas envelhecem. Por isso, os nossos resultados através do curso da vida são completamente recentes", disse à BBC Xi Chen, um dos coautores do estudo da Escola de Saúde Pública de Yale.
"Para as pessoas mais velhas no nosso estudo, com idades compreendidas entre os 55 e os 65 anos, ou com mais de 65 anos, os efeitos podem ser muito difíceis de mitigar, devido à exposição cumulativa a longo prazo. Isto é muito preocupante, uma vez que todos nós sabemos que muitas vezes as pessoas precisam de tomar decisões financeiras importantes na velhice, como quando nos devemos reformar e qual o melhor plano de saúde", acrescenta Xi.
Estatísticas da Organização Mundial de Saúde indicam que todos os anos cercam de sete milhões de pessoas morrem devido à exposição ao ar poluído, sendo que em 2016 a poluição atmosférica foi responsável por 4,2 milhões de mortes ao nível global. Para além disso, 91% da população mundial vive em locais onde a qualidade do ar excede os limites das diretrizes da OMS, com nove em cada dez pessoas a respirarem ar poluído em todo o mundo. Na índia, 14 cidades estão entre as 20 mais poluídas do mundo, com Kanpur a liderar o ranking,