Permanece no ar? Sobrevive ao calor? O que ainda não sabemos sobre o novo coronavírus
Surgiu em dezembro na China e em três meses mudou o mundo como o conhecíamos. Cientistas de vários países estudam o SARS-Cov-2 - o nome do vírus que dá origem à doença covid-19 - e tentam responder às perguntas que todos temos na cabeça. A maioria não tem respostas fechadas. O que é que ainda não sabemos sobre o novo coronavírus?
Para os cientistas, a extrema variabilidade do impacto do novo coronavírus nos doentes não é visto com surpresa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 80% dos casos covid-19 não provoca sintomas ou aqueles que causa são muito leves. Mas há casos em que provoca febres altas e até pneumonia que em muitos doentes acaba por levar à morte.
"As pesquisas desde fevereiro de 2020 mostram que o espetro clínico desta doença pode ser muito heterogéneo", confirma Leo Poon, da Faculdade de Medicina de Hong Kong, citado pela AFP.
Durante o auge da epidemia na China, Poon comparou, com a ajuda de uma equipa chinesa da Universidade de Nanchang, no centro do país, um grupo de pacientes pouco afetados pela doença com um grupo de doentes que sofria de covid-19 na sua forma mais grave.
Os resultados foram publicados na revista médica britânica The Lancet e mostram que os pacientes com sintomas mais graves eram "muito mais velhos" e tinham uma concentração do vírus "cerca de 60% maior" do que os doentes menos afetados pela doença.
Os cientistas foram à procura da resposta: seria devido ao sistema imunitário mais fraco das pessoas mais velhas ou a uma exposição a doses mais altas do coronavírus?
Estudos sobre o sarampo mostram que a gravidade está relacionada com a dose de exposição inicial ao vírus. Em relação à covid-19 ainda não se sabe por que razão são os idosos o principal grupo de risco.
Sabe-se que o Sars-Cov-2 é transmitido por contacto físico e pela via respiratória. Por exemplo, é transmitido através das gotículas de saliva expelidas quando uma pessoa infetada tosse.
Um estudo norte-americano publicado no New England Journal of Medecine mostra que o novo coronavírus pode sobreviver até três horas em laboratório na forma de partículas no ar.
Mas não se sabe se o mesmo acontece na vida real e se esta capacidade desempenha um papel importante na transmissão da doença.
"Não sabemos se o vírus está presente no ambiente, se persiste muito tempo no ar, ou em superfícies inertes. Sabemos que pode ser encontrado nessas condições, mas não se é infeccioso nessas formas", afirma Karine Lacombe, chefe do serviço de doenças infecciosas no hospital parisiense de Saint-Antoine.
Os números são apenas aproximados, refere a AFP, com a exceção de países como a Coreia do Sul e a Alemanha, que aplicaram estratégias de deteção em massa - são os países que testaram em grande escala a população.
Os últimos dados apontam para que ao dia de hoje (terça-feira, 31 de março) existam mais de 804 mil casos de infeção confirmados a nível mundial.
O governo britânico, por exemplo, estimou, a 17 de março, que existiam 55 mil casos de infeção pelo novo coronavírus no país, e menos de dois mil tinham sido oficialmente diagnosticados, isto é, com recurso a testes.
Ter uma ideia precisa da escala da epidemia é crucial para isolar os portadores do vírus e tratá-los melhor. Também será crucial, mais tarde, saber quem contraiu o vírus para determinar se já está imunizado - será importante, uma vez controlada a pandemia, que se testem em grande escala as populações para perceber quem ficou imune à doença.
A esperança de que com a chegada da primavera ao hemisfério norte e o aumento da temperatura o vírus pudesse sofrer uma quebra no contágio é possibilidade, mas não uma certeza, respondem os especialistas.
Os vírus respiratórios, como o da gripe, são mais estáveis com um clima frio e seco, por isso são transmitidos principalmente no inverno.
Um estudo realizado por estudantes universitários de Hong Kong mostrou que o vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que atingiu a Ásia em 2002-2003 e é parente do coronavírus atual, resiste melhor a baixas temperaturas e à baixa humidade.
Um estudo norte-americano recente da Harvard Medical School ressalva, no entanto, que "as mudanças meteorológicas por si só não levarão necessariamente a um declínio nos casos de covid-19, se medidas sanitárias importantes não forem aplicadas ao mesmo tempo".
Existem exceções, mas as crianças afetadas por covid-19, quando desenvolvem sintomas, estes são geralmente leves.
Um estudo chinês publicado na revista Nature e que incidiu sobre 10 crianças infetadas constatou que nenhuma delas ficou gravemente doente. Os sintomas da doença foram apenas dor de garganta, tosse e febre baixa.
Segundo o mesmo estudo, as crianças que vivem com pessoas doentes têm duas a três vezes menos hipóteses de serem infetadas do que os adultos. A razão é desconhecida, mas o mesmo fenómeno aconteceu com a epidemia de SARS.
*com AFP