A estrada N114, que liga a A6 a Évora, tem um sinal de trânsito nunca visto, pelo menos em Portugal. Junto a Montemor-o-Novo há um triângulo branco com as orlas vermelhas e o desenho de um sapo no interior, idêntico a muitos outros com animais. Indica, ainda, que o perigo se prolonga por 2,8 quilómetros. Dois sinais, um em cada lado da via a delimitar o perímetro em que o condutor deve estar atento..Aquele tipo de sinal indica "a existência ou a possibilidade de aparecimento de condições particularmente perigosas para o trânsito, que imponham especial atenção e prudência do condutor", diz a lei..Há daqueles sinais com veados, touros, etc., animais de grande porte e que representam um verdadeiro perigo para a condução. Agora, sapos?.Para os autarcas da Câmara Municipal de Évora e de Montemor-o-Novo faz todo o sentido colocar a sinalização, o que aconteceu em julho de 2018. Uma medida que sustentam nos pareceres de investigadores e técnicos da Universidade de Évora, parceiro neste projeto que conta com o apoio da Infraestruturas Portugal. Acontece que naquela zona há charcos onde os anfíbios - sapos, rãs e salamandras - se reproduzem em grande quantidade, sendo os números da sinistralidade "preocupantes" para os que pretendem proteger as espécies..Segundo o investigador António Mira, da Universidade de Évora, morrem em Portugal milhões de anfíbios, por ano, atropelados e esta zona do Alentejo "estava, há muito, identificada como um ponto negro de mortalidade". Justifica: "A conservação destas espécies é, naturalmente, essencial, e merece ser preservada, uma vez que desempenha um papel fundamental no equilíbrio do ecossistema.".António Mira é o coordenador do projeto de preservação dos anfíbios, que não só envolveu a instalação dos sinais de trânsito como a construção de passagens subterrâneas. Um trabalho "pioneiro", informaram ao DN os responsáveis da Câmara Municipal de Évora (CME)..Sinal ainda não está homologado.O sinal de perigo de um condutor se ver com sapos, rãs ou salamandras, bem como a obrigação de não atropelar as espécies, está colocado, mas não deveria, apurou o DN junto da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR)..Cabe às autarquias colocar os sinais de trânsito nas vias da sua jurisprudência, mas estes têm de ser regulamentados, ou seja, homologados. E não é o único, também falta a regulamentação do sinal de perigo com o lince-ibérico, apresentado em 2014 como o mais recente sinal de trânsito em Portugal. A última alteração dos sinais de trânsito foi em 2011..Margarida Janeiro, chefe de Fiscalização e Trânsito da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, explicou ao DN que aqueles sinais cumprem as regras estabelecidas pela Convenção de Viena e fazem parte de um conjunto de propostas para revisão do Código da Estrada. Esperam, agora, a aprovação do Conselho de Ministros. Desconhece-se em que data será discutido o decreto regulamentar..Aquela dirigente desconhece se Portugal é o único país da União Europeia a ter um sinal de perigo com um sapo. "Os sinais de trânsito são aprovados em função das características da fauna de cada país", esclarece..O projeto dos anfíbios de Évora e de Montemor-o-Novo tem o nome de LIFE Natureza e Biodiversidade, a duração de cinco anos (até julho de 2020) e o objetivo "é ensaiar, avaliar e disseminar medidas destinadas a mitigar os efeitos negativos de infraestruturas lineares em várias espécies de fauna e, simultaneamente, promover a criação, ao longo das mesmas, de uma infraestrutura verde de suporte ao incremento e conservação da biodiversidade", justifica, com "orgulho" a autarquia de Évora.