Obesidade já ultrapassa o tabaco como causa em quatro tipos de cancro
A obesidade já é responsável por mais casos de alguns tipos de cancro no Reino Unido do que o tabaco. De acordo com a organização Cancer Research UK, é mais provável que um cancro do intestino, rins, ovários e fígado seja causado pelo excesso de peso do que por fumar.
Embora o tabagismo continue a ser a principal causa de cancro evitável entre os britânicos, a obesidade, que ocupa o segundo lugar, está a ganhar terreno, alertam os investigadores. O relatório da Cancer Research UK, publicado no ano passado, prevê isso mesmo. Estima que até 2043 a obesidade seja a causa mais provável de cancro no Reino Unido.
A organização apela ao governo britânico para tomar medidas de modo a "acabar com a epidemia" da obesidade, que representa um fator de risco significativo para 13 tipos de cancro.
No Reino Unido, a percentagem de obesos é quase o dobro da percentagem de fumadores.
Com o número de fumadores a diminuir e as taxas de obesidade a crescer no Reino Unido, o problema traduz-se numa "crise nacional de saúde", afirma Michelle Mitchell, diretora executiva da instituição de beneficência dedicada à investigação do cancro.
"Os nossos filhos podem ser uma geração livre do fumo, mas atingimos um nível extremamente alto de obesidade infantil, e agora precisamos de uma intervenção urgente do governo para acabar com a epidemia. Ainda tem oportunidade de salvar vidas", avisa a responsável.
Alertas que são sustentados pelos números divulgados pelo Cancer Research UK. Todos os anos, no Reino Unido, o excesso de peso causa cerca de 1900 casos a mais de cancro do intestino do que o tabaco. Há também mais 1400 casos de cancro do rim provocados pela obesidade do pelo ato de fumar. Em relação ao cancro de ovário são mais 460 casos e no cancro do fígado são mais 180.
A juntar a estes números, o instituto britânico de estatísticas revela que cerca de 14,4% dos adultos ingleses fumam. Ao todo, são 5,9 milhões, o que representa uma queda de 1,8 milhões em comparação com 2011. Há oito anos eram 19,8%.
Se o declínio do uso do cigarro é uma boa notícia, o mesmo já não se pode dizer quando o assunto é o excesso de peso. Em 2016, 26% da população adulta era obesa.
Para o diretor executivo do serviço nacional de saúde inglês, a "obesidade é o novo tabagismo". "Embora a sobrevivência do cancro esteja num nível recorde, esse progresso significativo corre o risco de ser desfeito pela epidemia da obesidade, que está em rápido crescimento, dado que o excesso de peso está ligado a 13 tipos de cancro", constata Simon Stevens, citado pelo The Guardian.
O responsável alerta, no entanto, que o serviço nacional de saúde inglês não consegue vencer esta batalha contra o excesso de peso sozinho. "Famílias, empresas de restauração e o governo precisam de desempenhar o seu papel se quisermos evitar copiar o exemplo prejudicial e caro dos EUA", avisa Stevens.
A luta contra os quilos a mais não é uma tarefa fácil, admitem os especialistas britânicos, mas defendem uma ação mais interventiva do Estado nesta questão de saúde pública. "Não há uma bala de prata para reduzir a obesidade, mas a grande queda no tabagismo ao longo dos anos - em parte graças à publicidade e às proibições ambientais - mostra que a mudança liderada pelo governo funciona", defende Linda Bauld, especialista em prevenção da Cancer Research UK. "Se antes era necessário combater o índice de tabagismo, agora o mesmo vale para a obesidade", reforça.
Esta semana, a organização lançou uma campanha nacional para sensibilizar a população sobre a ligação entre a obesidade e o cancro. Usando imagens a fazer lembrar maços de tabaco, a iniciativa pretende mostrar como as mudanças de política podem ajudar as pessoas a adquirir hábitos mais saudáveis. Uma ação que não pretende comparar tabaco com alimentos, esclarece a Cancer Research UK.
O organismo pretende que o governo britânico implemente um conjunto de medidas de modo a reduzir as taxas de obesidade infantil para metade até 2030, entre as quais limitações à publicidade de refeições fast food na televisão e na internet e restringir as ofertas promocionais de alimentos e bebidas não saudáveis.