O último navio negreiro foi encontrado no Alabama

O Clotilda fez a última viagem conhecida de transporte de escravos de África para os Estados Unidos, cinquenta anos depois da proibição do tráfico de escravos

O tráfico de escravos foi proibido nos Estados Unidos em 1808, mas mais de cinquenta anos depois, em 1860, o navio Clotilda fez aquela que é considerada a última viagem de transporte de escravos de África para os Estados Unidos. Uma ação ilegal que levou o comandante William Foster a queimar o navio e a fazê-lo desaparecer para ocultar provas - transportar escravos era considerado um ato de pirataria punido com a morte. Agora, os destroços do Clotilda foram encontrados no leito do rio Mobile, no Alabama.

"A descoberta do Clotilda é um extraordinário achado arqueológico" e um símbolo de uma das "eras mais negras da história moderna", afirmou Lisa Demetropoulos Jones, diretora da Comissão de História do Alabama, à agência de notícias France Press, citada pela BBC. A descoberta foi avançada pela National Geographic Society.

O tipo de construção, as dimensões e os materiais da embarcação encontrada no fundo do rio - que tem sinais de ter sofrido um incêndio - coincidem com os da embarcação que fez a derradeira viagem como barco negreiro. "As provas físicas e forenses sugerem fortemente que se trata do Clotilda", defendeu o arqueologista marítimo James Delgado.

Apesar da proibição de levar escravos para os Estados Unidos, imposta em 1808, as plantações de algodão no sul dos Estados Unidos continuavam a pedir mão-de-obra escrava. Segundo a National Geographic, um rico construtor de barcos que era também dono de uma plantação terá apostado com um homem de negócios do norte que conseguia ainda trazer escravos de África. Foi assim que o Clotilda partiu da cidade de Mobile a 4 de março de 1860 e chegou à costa africana a 15 de maio. A 24 voltou a partir, então com 110 escravos a bordo, homens, mulheres e crianças, levados do que é hoje o Benim. A 9 de julho, o navio completou a viagem de regresso ao destino. "É a mais documentada história de uma viagem de escravos no hemisfério ocidental", diz a historiadora Sylviane Anna Diouf, baseando-se no testemunho de traficantes e escravos, alguns dos quais viveram até ao século XX.

Chegados ao Alabama, os 120 prisioneiros foram vendidos e distribuídos por plantações da região. Terão ainda passado alguns anos como escravos, até que o fim da Guerra Civil e a derrota do sul levou à sua libertação. Algumas dezenas fixaram-se naquela região, onde ainda hoje existe uma comunidade designada como Africatown.

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