O melhor professor do mundo é queniano e dá 80% do seu salário aos mais pobres

Peter Tabichi é professor de física e matemática na escola secundária mista de Pwaini, uma vila rural no Quénia, e ganhou um prémio de um milhão de dólares que vai usar para melhorar as condições da escola e dos alunos
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Com um mínimo de recursos, numa comunidade pobre e com uma população escolar carente e sobredimensionada, que enfrenta problemas como casamentos e gravidezes precoces ou toxicodependências, Peter Tabichi, de 37 anos, quase faz milagres. Como foi o de ter levado este ano um grupo de alunos à Feira de Ciência e Engenharia do Quénia, com um invento feito por eles para ajudar pessoas cegas e surdas a medir objetos.

Mas essa é só a ponta do icebergue do que Peter Tabichi tem feito pelos seus alunos, pela escola e, através destes, por toda a comunidade. Por esse trabalho, o jovem professor, que é também monge franciscano, foi este ano escolhido para receber o Prémio Professor Global 2019, que é atribuído pela Fundação Varkey, dos Estados Unidos, um organismo que financia e promove projetos de educação a nível global.

Com o prémio chegam o prestígio e o reconhecimento a nível internacional, mas também a verba de um milhão de dólares (cerca de 902 mil euros), que Tabichi decidiu aplicar em melhorias na escola e em novas oportunidades para os seus alunos, como aliás já faz há muito com o seu próprio salário: 80% dele serve-lhe para ir suprindo as carências que a comunidade escolar enfrenta no dia-a-dia.

Foi assim que conseguiu mais salas de aulas e equipamento, e criou um clube de ciência, que vai alimentando com materiais para os projetos que os alunos ali desenvolvem - alguns tão interessantes e inovadores que acabaram por merecer a presença em mostras internacionais de ciência e até alguns prémios.

"Quando vemos que um aluno pode brilhar e ter as melhores notas, comparar-se com os melhores a nível nacional e até internacional, isso dá-nos alegria", disse Peter Tabichi à CNN, confessando que a inspiração para fazer o que faz tem a raiz na sua própria infância, vivida no meio de carências de toda a ordem.

"Os meus alunos enfrentam os mesmos desafios pelos quais passei, por isso lembram-se esses desafios. Eu tinha de fazer a pé sete quilómetros para ir à escola e é isso que vejo que eles enfrentam também", reconhece o professor, que conseguiu vencer as suas próprias dificuldades e formar-se na Universidade de Egerton, na capital do Quénia.

Como professor numa escola sem recursos, Peter Tabichi decidiu que era sua vez de ajudar. "Quando damos, sentimos uma alegria interior e que fazemos parte de uma sociedade mais ampla, para além da família de sangue e dos irmãos", diz. "Todos aqueles que conhecemos são nossos irmãos e irmãs".

Nos planos de Peter Tabichi para aplicar a verba do prémio estão a construção de novas salas de aula, a instalação de infraestruturas para dotar a escola de água potável ou ainda um equipamento de Internet capaz.

"Quero usar este prémio para inspirar a sociedade e empoderá-la. Quero usá-lo para ajudar a sociedade a enfrentar os problemas e promover a aprendizagem da matemática, das ciências e das tecnologias"

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