Já nasceu Salvador, o bebé da canoísta em morte cerebral

Salvador nasceu na madrugada desta quinta-feira. Parto teve de ser antecipado um dia

Já nasceu o bebé de Catarina Sequeira, a canoísta de 26 anos que está em morte cerebral desde dezembro, quando já estava grávida, e foi mantida viva para que pudesse ter o filho. Salvador nasceu às 4.32 desta quinta-feira no Hospital de São João, no Porto.

O parto estava programado para esta sexta-feira, mas complicações com a criança terão obrigado a antecipá-lo. Salvador teria cerca de 32 semanas de gestação e está internado no Serviço de Neonatologia do Centro Hospitalar Universitário São João. Pormenores que o hospital dará esta quinta-feira, em conferência de imprensa.

Maria do Céu Machado, pediatra e membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, explicou ao DN no início da semana que os cuidados com o bebé, partindo do princípio de que a evolução da gestação tem sido normal até agora, não serão diferentes dos que se tem com outros prematuros: Deverá ir para uma incubadora, para os cuidados intensivos, ligado a um ventilador. Nesta fase é fundamental melhorar a maturidade pulmonária. Isso faz-se com corticoides administrados à mãe, 24 a 48 horas antes do parto, para o pulmão estar mais maduro e ser mais fácil ventilar.

Em 2016, no Hospital de S. José, nasceu outro "bebé milagre", filho de uma mulher que estava em morte cerebral. Também nesse caso os médicos conseguiram prolongar a gravidez até às 32 semanas.

Catarina Sequeira teve um ataque agudo de asma às 12 semanas de gravidez, no final do ano passado. Depois de ter estado em coma induzido no Hospital de Santos Silva, em Gaia, ​​​​​​acabou por entrar em morte cerebral no dia seguinte ao Natal, numa altura em que o bebé, o seu primeiro filho, teria 19 semanas.

A jovem foi levada para os cuidados intensivos do Hospital de São João, onde foi mantida "em suporte orgânico até se atingirem as condições de maturidade fetal necessárias para a realização do parto", informou esta quarta-feira o centro hospitalar. Com o nascimento do filho, os cuidados que estavam a ser dados a Catarina devem agora ser interrompidos. O funeral da jovem deve realizar-se nos próximos dias em Crestuma, Gaia, onde vivia.

Uma atleta que queria "o alto nível"

Catarina Sequeira nunca deixou que a asma que a acompanhava desde a infância pusesse em causa a sua paixão pela canoagem. Conquistou 41 medalhas, 17 delas de ouro, em várias categorias, dos infantis aos seniores. Só se afastou da competição em 2014, quando a vida profissional a isso a obrigou.

"A Catarina tinha brio.Ou fazia a sério ou então não valia a pena". José Cunha, treinador que a acompanhou durante toda a carreira, primeiro no Clube Náutico de Crestuma (CNC) e depois no Douro Canoa Clube, contou ao DN que a jovem "queria o alto nível, não pretendia a mediocridade". Nos últimos anos perdeu o contacto com a antiga atleta e foi com surpresa que soube da notícia do seu internamento, através de um irmão gémeo, do qual era "muito próxima".

Segundo o JN, António, o gémeo de Catarina, estava com a irmã quando ela teve o ataque de asma. "Ele nunca mais recuperou", conta ao JN João Sequeira, outro irmão de Catarina. A decisão de prolongar a gestação partiu da mãe da jovem, de Maria de Fátima Branco, que está disponível para cuidar da criança.

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