Como os enfermeiros financiam as greves com mais de 700 mil euros

Angariação de fundos para compensar aos enfermeiros dos blocos operatórios em greve está a ser um sucesso. Movimento Greve Cirúrgica vai começar a pagar esta semana a grevistas
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Os enfermeiros prometem que a greve aos blocos operatórios não vai parar e até que se tornará mais agressiva no início do próximo ano. Para tal estão já a angariar fundos para a nova paralisação, cujo pré-anúncio ainda não foi entregue, que será mais extensa e com outros blocos operatórios serem abrangidos. Por isso, para esta nova greve estabeleceram a meta de 400 mil euros que pretendem garantir até 14 de janeiro.

Na greve em curso fizeram um crowdfunding de 300 mil euros e conseguiram mesmo ultrapassar o objetivo ao recolherem 360 mil euros até 22 de novembro.

Esta verba será utilizada para pagar aos enfermeiros o dinheiro do salário perdido com a greve, ou pelo menos compensar a perda. São 42 euros por dia que são pagos. "Não é financiamento da greve, preferimos dizer que é uma ajuda solidária", diz ao DN Catarina Barbosa, uma dos cinco enfermeiros que integra o Movimento Greve Cirúrgica, responsável por esta angariação de fundos e pelo pagamento aos colegas. São elementos dos cinco blocos operatórios que estão em greve, desde 22 de novembro, até ao final do ano: são os centros hospitalares de S. João (Porto), Universitário do Porto, Coimbra, Lisboa Norte e Setúbal. "Somos um movimento que faz a ligação entre os sindicatos que convocaram a greve, a ordem e os enfermeiros", explica Catarina Barbosa. A paralisação foi convocada pela Associação Sindical Portuguesa de Enfermeiros e pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal.

Todos os donativos ficam registados

A forma de "ajudar" os grevistas não é muito comum em Portugal mas, diz a enfermeira, está a resultar em pleno. Abriram numa plataforma de crowdfunding, que cobra uma comissão de 7,5% do total de fundos amealhados, e qualquer pessoa pode entregar dinheiro até de transferência bancária.

"É um processo transparente, com todos os donativos a ficarem registados, através do NIB. Temos acesso aos dados de quem faz donativos", assegura Catarina Barbosa, conhecedora de comentários depreciativos sobre a forma como a greve é sustentada em termos financeiros. "Fala-se na possibilidade de grandes donativos de privados mas isso não é verdade. É um mito. Fica tudo registado e até ao momento não recebemos nenhuma quantia avultada nesta iniciativa."

Na recolha de fundos para a greve em curso foi atingido um valor de 377297 euros com 14415 apoiantes o que dá uma média inferior a 25 euros por donativo. Na segunda campanha já iniciada, às 16h50 de segunda-feira estavam recolhidos 17206 euros, entregues por 654 apoiantes, o que significa uma média de 26 euros.

"A maioria das pessoas que faz donativos são enfermeiros. Há também familiares, amigos e outros profissionais de saúde, como médicos e anestesistas", elenca a enfermeira que classifica como "tentativas de deturpar a realidade" as insinuações de greve paga por desconhecidos. "São os próprios enfermeiros de outros serviços que contribuem. Neste protesto somos 6% do total de enfermeiros."

"Ajuda solidária" ainda vai ser paga

A distribuição pelo dinheiro está também organizada, garante o movimento, de forma a que tudo esteja justificado e não restem dúvidas. Para já ainda ninguém recebeu nada.

"Há uma listagem dos responsáveis em cada bloco. Sabe-se quem são os enfermeiros, quem estava de serviço e fez greve. Isso fica no registo biométrico e quando temos esses dados na nossa posse é que pagamos as compensações. Para já ainda não receberam nada. No final da semana os enfermeiros de Coimbra devem ser os primeiros a receber", adianta Catarina Barbosa. O dinheiro que sobre desta mobilização será entregue a instituições de solidariedade social."Temos colegas que dispensam o donativo. Há casos de quem ia receber só um dia pelo fundo e prescindiu."

Catarina Barbosa diz que acabar a greve depende do Ministério da Saúde. "Está nas mãos do Governo. A ministra diz que não negoceia com quem está em greve mas não iremos parar", garante. O descongelamento das progressões e a atribuição de subsídio de função aos enfermeiros especialistas são as principais reivindicações dos enfermeiros.

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