Ativistas terminam bloqueios quatro horas após iniciarem o protesto

O bloqueio convocado pela Extinction Rebellion Portugal impediu a circulação junto ao Banco de Portugal, em Lisboa. Romperam pela Avenida Almirante Reis, desarmando a polícia que não os conseguiu impedir de se sentarem no chão. Quatro horas depois, decidiram desmobilizar.
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A polícia retirou à força os manifestantes da Extenction Rebellion Portugal (XR Portugal), que esta sexta-feira fizeram um bloqueio no cruzamento da Avenida Almirante Reis com a Rua de Angola, em frente ao Banco de Portugal, em Lisboa. Sentados na posição de "saco de batatas", foram, levados para a parte de cima da Rua de Angola, onde fizeram novo bloqueio. Preparavam-se para iniciar um concerto em defesa do clima, mas perante a resposta policial, decidiram desmobilizar, eram 21:30.

Entre 400 e 500 pessoas reuniram-se para protestar, sentados no chão, a que se juntaram apoiantes da ação, alguns permanecendo em pé. Começou às 17:30 e acabou às 21:30, sendo que ao longo do protesto tomaram decisões consoante os problemas foram surgindo.

A massa de pessoas é constituída por grupos de afinidades, entre quatro e 12 pessoas, que elegem um delegado para os representar na tomada de decisão final em plenário, depois de discutirem as propostas em cima da mesa. E foi assim que decidiram desmobilizar, uma vez que o objetivo foi alcançado e continuar poderia pôr em causa a segurança de todos.

"Começámos a desmobilizar, o que fizemos de forma pacífica e ordeira, como sempre fizemos durante todo o bloqueio", disse ao DN Noah Zino, porta-voz da XR Portugal para esta ação.

Começaram, por interromper a circulação no cruzamento da rua de Angola com a Av. Almirante Reis, mas foram retirados à força pela polícia que os colocou metros acima. "Sinceramente, não percebemos o que a polícia pretendeu. Fomos levados pela polícia à força para desimpedir a faixa da Almirante Reis, agora é a outra faixa que está impedida, na rua de Angola Vamos iniciar uma jam session", explicou ao DN Noah Zino, porta-voz da XR Portugal.

No local estiveram mais de 100 polícias - com, cerca de 22 viaturas e duas ambulâncias -, entre os quais elementos da Equipa de Prevenção e Reação Imediata (EPRI), Equipas de Intervenção Rápida (EIR) e corpo de intervenção da PSP. Os manifestantes seriam entre 400 e 500.

Ao longo de todo o protesto, os polícias foram retirando as tendas que iam sendo montadas na estrada, já que o objetivo dos ativistas eram fazer um acampamento/bloqueio. "A manifestação é permitida, as tendas não são permitidas por lei. É um acampamento na via pública e isso não pode acontecer", explicou o comissário André Serra, das relações públicas da PSP

Os ativistas concentraram-se às 17:00 na esquina da rua de Angola com a Almirante Reis, mas o grosso da coluna saiu da manifestação em defesa do clima, que percorreu a estrada do Cais do Sodré ao Rossio, na sequência da Greve Climática Global.

Eram 17:30 quando os manifestantes irromperam pela Almirante Reis, cantando e tocando tambores, com cartazes, faixas e palavras de ordem em defesa do clima. Cantou-se "People have the power" (Patti Smith), "Grândola Vila Morena (Zeca Afonso) e Bella Ciao (símbolo da resistência italiana durante a II Guerra Mundial), entre outras músicas icónicas.

Apesar de serem já muitos os agentes da autoridade no local, estes foram apanhados desprevenidos, não conseguindo evitar que os ativistas se sentassem.

"Matem o capital, não matem o planeta", "- 60 % de vida selvagem em 40 anos", "Sou anti-capitalista, deixem passar, sou ativista". "2018; 11800 portos + 68 mil pessoas afetadas pelos desastres naturais", "Lets stop this!", diziam alguns das dezenas de cartazes presentes. Muitas bandeiras do coletivo Extenction Rebellion.

Passava das 19:30 quando o polícia se preparou para desocupar completamente a via. O comissário André Serra explicou ao DN que havia um aviso de manifestação, que previa um período entre as 15:00 e 18:00, limite de tempo há muito ultrapassado. "O direito dos manifestantes colide com o direito das pessoas a circular", justificou.

Retiraram os manifestantes à força da Almirante Reis, que não ofereceram resistência e deixaram-se ficar onde os colocaram.

Aliás, a ação de desobediência civil, para a qual receberam formação, foi preparada com mais de uma semana de antecedência. São três as grandes reivindicações: declaração de emergência climática e ecológica; Neutralidade carbónica até 2030 e parar a perda de biodiversidade; Criação de assembleias de cidadãos.

Não responder a provocações, não falar e/ou oferecer resistência à polícia, garantir a sua segurança e a do grupo, saber gerar consenso e ser rápido a decidir são algumas regras do protesto. Isto porque sabem quando se inicia a ação de desobediência civil mas não sabem quando acaba, depende do que decidirem na altura e de acordo com os objetivos a alcançar.

A ação é promovida pelo XR Portugal - foi transmitida em direto no Facebook pela PTrevolutionTV -​​​​​​, que tem apelado a toda a sociedade civil para se juntar ao protesto. "Sai do passeio, vem para o nosso meio", é uma das palavras de ordem.

Foi o que fez Paula Cabeçadas, 63 anos, uma funcionária da EDP na pré-reforma. Ás 17:00 já estava no local anunciado para o bloqueio, juntando-se aos jovens, na sua maioria. "Acompanho as ações do Extenction Rebellion e fui avisada desta ação. Chega de não fazer nada e temos de nos manifestar em defesa do clima", explica.

Álvaro Fonseca, 58 anos, ex-professor universitário, traz um cartaz que é de esperança: "Não há planeta, mas há um plano B: regenerar, criar comunidade, relocalizar, confiar, reduzir, colaborar, decrescer, reutilizar". Pertence ao coletivo Rede para o Decrescimento, formada há um ano e que pretende abrir o debate sobre as consequências do crescimento económico.

"Este movimento põe em causa um sistema económico baseado no crescimento, na produção e no consumo, o que tem implicações no clima e impactos ambientais e sociais graves. Além de haver académicos que discutem esta questão, há outras entidades, como o papa Francisco, que falam da ligação do crescimento económico à crise climática e social. Começa a haver uma consciência que o crescimento económico é um problema que temos de enfrentar mais tarde ouimais cedo", explica Álvaro Fonseca.

"Não saímos daqui", dizem os manifestantes

Durante o bloqueio na Almirante Reis, a polícia pediu que desocupassem uma via da Avenida Almirante Reis, mas estes decidiram contrapôr com a manutenção das tendas.

Acabaram por considerar que a polícia não respeitou o momento de negociação, uma vez que os agentes começaram a retirar as tendas. Decidiram, por isso, manter o bloqueio, mas reparados para abrir uma faixa de rodagem da avenida para a passagem de veículos de emergência.

"Hoje não saímos daqui", ouve-se no protesto em frente ao Banco de Portugal. Entre as canções que entoam está a de Zeca Afonso, Grândola, Vila Morena.

"Tens uma tenda em casa disponível para ser estragada a mudar o mundo? Traz para o metro dos Anjos", apelou o movimento na sua página de Facebook.

Na rede social, Extinction Rebellion Portugal fala "num momento histórico" para "o ativismo climático no nosso país".

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