Fauna tropical é mais afetada pelas atividades humanas
Era uma questão de fazer contas, e agora, que estão feitas, o que emerge é um quadro muito claro, que mostra que a biodiversidade nas regiões tropicais é seis vezes mais sensível às intromissões humanas do que a que existe nas zonas temperadas, nas latitudes mais altas do planeta.
Este é o principal resultado de um estudo publicado nesta semana na revista Science por uma equipa interacional de investigadores, que vem assim confirmar, como já se suspeitava, uma maior fragilidade dos ecossistemas tropicais às perturbações ambientais causadas pelas atividades humanas.
A equipa, que foi coordenada por Mathew Betts, da Universidade do Oregon, nos Estados Unidos, e Rob Ewers, do Imperial College de Londres, alerta para a necessidade de os programas de conservação serem adaptados a cada região, tendo em conta os novos dados.
"O nosso estudo sugere que intervenções tão simples como abrir uma estrada através de uma floresta tem um impacto muito maior nos trópicos do que nas regiões temperadas, pelo que nestas regiões temos de ter intervir o menos possível", diz Rob Ewers, notando que os dados resultantes da investigação fornecem informação "importante para o planeamento de ações de conservação".
O resultado do trabalho, sublinha o mesmo investigador, "mostra porque os planos de conservação que podemos realizar num determinado local não têm necessariamente de funcionar noutro, e isso dá-nos um grande insight sobre como devemos adaptar os nossos programas à história ecológica de cada sítio".
Para chegar a estes resultados, que permitiram quantificar a sensibilidade dos diferentes ecossistemas às perturbações induzidas pelas atividades humanas, os investigadores usaram um conjunto de 73 bases de dados da fauna das florestas em diferentes regiões do planeta, englobando um total de 4489 espécies, das quais 2682 são artrópodes (invertebrados que incluem insetos e crustáceos, entre outros), 1260 são aves, 282 são répteis e anfíbios e 265 são mamíferos.
Para testar a sua sensibilidade às perturbações ambientais, os investigadores contabilizaram o número de espécies que não frequentam as franjas de uma dada floresta (que compreendem uma faixa de um quilómetro de largura), onde a influência das atividades humanas é mais intensa, e se movem apenas no seu interior. Com isso verificaram que, à medida que se caminha para o equador, um número cada vez maior de espécies evita a zona de fronteira do seu habitat - isto, mesmo descontando o facto de as florestas tropicais albergarem mais espécies do que as temperadas, onde a intervenção humana é, há muito, mais preponderante.
Nas florestas mais próximas do equador, mais de metade da fauna selvagem (51,3% das espécies) evita as franjas do seu habitat, enquanto nas florestas temperadas só 18,1% o fazem.
"As espécies das florestas tropicais são seis vezes mais sensíveis à fragmentação do seu território que é causada pelos seres humanos", resume Mathew Betts.
Cristina Banks-Leite, também do Imperial College e coautora do estudo, alerta por seu turno que "as florestas tropicais estão em risco crescente e, mesmo que a sua área seja mantida, as intervenções humanas ali para a agricultura, a exploração de madeira e a abertura de estradas pode levar inúmeras espécies à extinção".
Artigo publicado originalmente na edição impressa do DN de dia 7 de dezembro