Doentes em macas nos corredores: Ordem dos Enfermeiros investiga urgência de São José
O primeiro dia de greve dos enfermeiros no hospital de São José é marcado também pela visita da secção sul da Ordem dos Enfermeiros, que vai investigar as denúncias sobre problemas nas urgências e questionar o conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central. Os profissionais relatam situações nos últimos dias de macas acumuladas nos corredores, que muitas vezes impedirão mesmo a entrada de doentes urgentes na sala de reanimação, falhas na alimentação e falta de produtos de higiene.
De acordo com queixas enviadas à Ordem, há uma "alimentação precária de doentes em corredor, quer pelas condições físicas, quer pelo número insuficiente de comida para todos os doentes do dia na urgência", assim como "insuficiente número de produtos/material de higiene para todos os doentes no corredor".
Os profissionais da urgência de São José relatam a existência de "15, 20 doentes por corredor e por enfermeiro", a maioria em macas que não oferecem condições de segurança "pela incapacidade de travar, baixar cama ou elevar cabeceira" e sem almofadas. Os enfermeiros contam ainda que as escalas do serviço já incluem "um setor denominado como 'corredor' com um elemento distribuído para esse setor, assumindo-se como um setor que já faz parte da urgência, tendo inclusive sido criados carros móveis com consumíveis para uso no corredor na preparação da medicação".
A entrada de pessoas estranhas ao serviço sem controlo dos seguranças e "o embate nas macas de todo o tipo de pessoas e equipamentos" são outros dos problemas identificados. Denúncias que levam a Ordem dos Enfermeiros (OE) a visitar a urgência de São José esta quinta-feira e a reunir com o conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), confirmou ao DN o presidente da secção sul da OE, Sérgio Branco.
Mas as queixas não partem só dos enfermeiros. Fontes médicas do hospital confirmam ao DN que a situação nos últimos dias "piorou bastante", com mais pessoas a irem à urgência e falta de espaço para internamento nas enfermarias, o que obriga a deixar os doentes em macas nos corredores. "É claro que, obrigatoriamente, as condições de trabalho também pioram, embora nenhum doente deixe de ser reanimado se for caso disso". Além da eliminação de camas para internamento, acrescenta um médico, a falta de enfermeiros levou também, por exemplo, à redução significativa dos tempos para cirurgias.
Em resposta ao DN, o CHLC admite ter tido uma afluência elevada à urgência de São José no início desta semana, que obrigou a "dar resposta a vários casos de elevada complexidade, que exigiram um maior tempo de permanência para acompanhamento e observação". Mas garante também que "os doentes com necessidade de internamento foram encaminhados para as diversas especialidades distribuídas pelos diversos polos hospitalares" e que "os constrangimentos verificados não afetaram, contudo, os cuidados de saúde necessários prestados aos doentes".
O centro hospitalar espera autorização para contratar 13 enfermeiros, que se juntarão a outras 142 contratações definitivas este ano. Foram ainda contratados 38 profissionais a termo certo para substituir ausências de longa duração
A adesão à greve dos enfermeiros situou-se, hoje de manhã, entre os 75% e os 80%, segundo o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, que admite aumentar os números depois de apurados os dados de algumas grandes instituições.
Em declarações aos jornalistas no hospital de São José, o presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), José Carlos Martins, afirmou que estes dados "demonstram bem a indignação dos enfermeiros para com o desrespeito com que o Governo está a tratar esta classe profissional". Sobre os serviços mais afetados devido à paralisação nacional de dois dias, que vai continuar na sexta-feira, o sindicalista apontou as consultas externas, os blocos de cirurgia nos hospitais e os centros de saúde, onde há cuidados que não estão a ser prestados.
José Carlos Martins apelou aos enfermeiros para que, no turno da tarde de hoje e na sexta-feira, continuem a manifestar a sua indignação face à postura do Governo. Os sindicatos dos enfermeiros deram início, às 08.00 desta quinta-feira, a dois dias de greve nacional para pressionar o Governo a apresentar uma contraproposta ao diploma da carreira de enfermagem.