Demissões em Gaia: "Hospital parcialmente destruído"
Os diretores e chefes de serviço do Hospital de Gaia demitiram-se em bloco contra a falta de condições dos serviços e a falta de resposta do Ministério da Saúde às denúncias dos médicos. Em conferência de imprensa na secção Norte da Ordem dos Médicos, o diretor clínico da unidade falou mesmo num "hospital parcialmente destruído".
As queixas e ameaças de demissão tinham já meio ano e foram concretizadas por mais de meia centena (52) de responsáveis clínicos, incluindo o próprio diretor clínico do Hospital de Gaia, numa carta datada de 16 de julho mas apresentada esta quarta-feira. Um compasso de espera para que alguns pedidos feitos ao Ministério da Saúde ainda tivessem resposta. Na carta dos chefes de serviço, a que o DN teve acesso, os profissionais acusam o governo de não satisfazer as promessas feitas em termos de estrutura, equipamentos e recursos humanos.
"A nossa grande angústia prende-se com um hospital que está parcialmente destruído, com uma estrutura antiga, sem espaço para ter os doentes que acompanha", apontou o diretor clínico, José Pedro Moreira da Silva, numa confierência de imprensa na secção Norte da Ordem dos Médicos, onde detalhou alguns dos problemas dos serviços: em Urologia, há 16 camas mas a casa de banho dos doentes fica fora da enfermaria; Ortopedia tem apenas uma casa de banho que serve doentes de 22 camas. Os relatos estendem-se às enfermarias de cirurgia, onde existem buracos no chão, humidade nas paredes, falta de espaço entre camas.
"Há ainda falta de pessoal, em especial de enfermagem e auxiliares. Em Medicina Interna temos 20 camas e apenas duas auxiliares", acrescentou José Pedro Moreira da Silva, que apresentou hoje à tarde as razões para estas demissões em bloco, numa conferência de imprensa na secção regional da Ordem que se segue a uma reunião com Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, e António Araújo, presidente do Conselho Regional.
Os clínicos já tinham garantido não ter mais condições para suportar serviços e atendimentos que consideram indignos e reclamavam investimento em recursos humanos e material técnico. Investimento que consideram não ter sido concretizado por parte do Governo e que voltaram a reclamar na conferência desta tarde. "Gaia tem um financiamento desadequado, mais baixo do que o dos outros hospitais centrais, mas serve o terceiro maior concelho do país", lembrou José Pedro Moreira da Silva. Na carta de julho, os profissionais já reclamavam uma nova estutura hospitalar, sem insuficiência de camas, um financiamento adequado e investimento em recursos humanos.
Em março, numa visita ao hospital, Miguel Guimarães relatou "um cenário de guerra com macas por todo o corredor", onde era "quase impossível circular".