Uma obra que, "com a concentração da poesia e a franqueza da prosa, pinta as paisagens dos desfavorecidos" - assim justificou o Comité Nobel a atribuição do prémio da literatura de 2009 a Herta Muller, a romeno-alemã que se tornou a 12.ª mulher numa história de 101 galardoados. A autora de A Terra das Ameixas Verdes e O Homem é um Grande Faisão sobre a Terra (únicos livros publicados em Portugal de um total de 19 obras) já tinha feito o seu discurso em Estocolmo, dias antes da atribuição oficial dos prémios. Foi uma dissertação implicitamente dedicada "a todos aqueles que, nas ditaduras, todos os dias, até hoje, são despojados da sua dignidade". Herta Muller sabe do que fala: cresceu e viveu sob a ditadura de Ceaucescu. Quando decidiu criticá-la nos livros, foi proibida de publicar. Agora, na fria Estocolomo, recordou o momento em que "um colosso do Serviço Secreto" lhe mandou escrever uma confissão como suposta informadora e se lembrou então da pergunta cúmplice que ouvia na infância: "Tens um lenço?" E concluiu: "Pode ser que a pergunta pelo lenço não se refira mesmo ao lenço, mas à extrema solidão do ser humano."