Jardim zoológico

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Jardim não é um animal político. É todo um zoológico. O maior dinocamaleão da nossa praça. As suas estratégias vão da intimidação à vitimização. Num ápice, passam das exigências ao continente à insinuação da independência. A Madeira tanto é bem sucedida quanto é carenciada. Para Jardim, basta juntar água. Instantâneo. Quando lhe convém, exibe o PIB e brada que a Madeira é um êxito. Só não diz que esse PIB é um balão cujo ar sopra do offshore. Quando lhe dá jeito, garante que a Madeira precisa de investimento e que os cubanos a asfixiam. A ilha tem dos concelhos mais pobres de Portugal, apresenta 18% de desemprego e gravíssimas assimetrias. Este jogo do gato e do rato foi resultando. Agora, a Europa e a República decidiram-se por um dos papéis e assumiram que a Madeira é abastada. Alto e pára o baile. Jardim, que sempre gastou como se não houvesse amanhã, demite-se. Procura beneficiar do nó duplo por si criado e ainda mata vários coelhos de uma cajadada só.

O que arrisca? Só espera mais do mesmo. Maioria absoluta. E o resultado que terá em 2007 será melhor do que o que teria em 2008, com a nova lei eleitoral. Assim, recandidata-se ainda sem os efeitos do emagrecimento das verbas e capitalizando o ressentimento dos madeirenses. Desafia Sócrates. Justifica o futuro. Aconteça o que acontecer, a explicação está dada: a culpa é da Lei das Finanças Regionais. E até consegue interpelar Cavaco e piscar o olho à oposição que esteve contra esta lei. Marques Mendes vai para o banco. A demissão de Jardim garante-lhe mais dois anos de mandato sem ter de apelar ao rotineiro "só mais esta vez". A avaliação não será ao seu Governo, mas à dita lei.

Há quem o defenda, alegando que foi eleito num determinado quadro e que agora o contexto é outro. Mas nada se alterará com as eleições. Com esta lei governará Jardim até 2011. Se acreditasse, realmente, que as novas regras são bloqueadoras, demitia-se. Mais nada.

A nova lei imporá a Jardim uma verdadeira mutação. Já não se trata de uma mera muda de pele ou de uma simples camuflagem. Por mais fatiotas que desfilem, os madeirenses sabem que uma cigarra não passa a formiga. Podem continuar a votar por medo, vingança ou rancor e manter tudo na mesma. Ou podem, finalmente, aprender a moral da história.

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