Feriados
Mensagens anónimas de telemóveis mobilizaram umas centenas de alunos em várias escolas secundárias contra as aulas de substituição. Aconteceu na segunda-feira e voltou a acontecer ontem. "Substituição só a da ministra" são as palavras de ordem conjugadas com declarações abundantes sobre a inutilidade das ditas aulas: não se faz nada, apenas se mata o tempo a jogar ou, liminarmente, seria melhor sair da escola...
Já tínhamos percebido no ano passado que muitos professores não simpatizam com a ocupação dos tempos lectivos não preenchidos pelos colegas. Muitos de nós recordam-se do tempo em que se gritava "feriado!" quando algum professor faltava. Era tempo para a brincadeira, regra geral sem qualquer aproveitamento útil. É natural que a imaturidade dos adolescentes agradeça tempo livre. É natural também que, quando as aulas são pouco estimulantes, se queiram libertos da disciplina escolar. O que é menos natural é que as escolas se possam rever em "aulas de substituição" em que nada de útil acontece. O que não é natural é que as declarações dos alunos sobre a ausência de conteúdo das "substituições" abonem a favor dos professores.
Importa dizer que nem todas as escolas nem todos os professores sentem tamanha incompatibilidade com o aproveitamento útil dos tempos lectivos. Há bons exemplos que urge multiplicar. O interesse geral e o interesse dos pais e dos alunos exigem mais eficiência no ensino e na aprendizagem. Ninguém pode ficar de braços cruzados à espera da próxima aula quando o insucesso escolar atinge os 50%. E fazer passar a ideia de que se resolve algum problema acabando com as aulas de substituição é extraordinário. Tão extraordinário como assumir que um qualquer professor não estará à altura de preencher a benefício dos alunos uma vaga inesperada.
Os professores estão revoltados com a revisão do seu estatuto. Terão as suas razões. Defendem os chamados direitos adquiridos. O Ministério da Educação nem sempre tem sido feliz ou revelou engenho bastante na mobilização dos docentes para o combate inadiável ao vergonhoso insucesso da nossa escola. Mas essa incapacidade não deve afastar-nos da exigência maior com que devemos comprometer a escola. Sem o envolvimento dos professores não há sucesso escolar. Importa fazer tudo para um compromisso forte e duradouro. Mas pôr em causa as aulas de substituição é um mau sinal que os professores dão ao país. Pior só mesmo as manifestações espontâneas dos alunos a exigir "feriados"...