Fado

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Um dos compositores mais cantados da música portuguesa, Jorge Fernando actua esta noite às 21.30 no Fórum Lisboa, num espectáculo que servirá para comemorar 30 anos de carreira. O concerto contará com Argentina Santos como convidada e servirá também para apresentar o seu novo álbum, Memória e Fado.

Ao longo do percurso iniciado profissionalmente com apenas 16 anos, este guitarrista, produtor e compositor trabalhou com os maiores nomes de várias gerações de fadistas. Amália Rodrigues, Mariza, Camané ou Ana Moura destacam-se entre os nomes com quem colaborou. Para além disso, iniciou uma carreira a solo nos anos 80 que chegou aos 200 concertos por ano, por alturas de Umbadá.

No novo disco, Memória e Fado, apresenta duetos e colaborações, além de um excerto de uma actuação ao vivo de Amália Rodrigues, em 1994, incluída no tema Vida. Gravado em Portugal e no Brasil, o disco contém ainda quatro versões e deve ser alvo de uma aposta no mercado internacional.

Recuando até ao princípio da carreira de Jorge Fernando, a sua memória diz que com a tenra idade de quatro anos já acompanhava o avô a cantar fado nas noites de Lisboa. Mas foi com 16 anos que teve a sua primeira experiência a sério, quando trabalhou com Fernando Maurício, considerado o "rei" do fado. Aí deixou definitivamente para trás a sua carreira de futebolista, onde chegou a internacional júnior.

Jorge Fernando recorda o momento em que conheceu essa figura marcante do fado "Estava a ensaiar numa garagem e disseram- -me que estava ali o Fernando Maurício. Quis conhecê-lo e mal o ouvi foi paixão absoluta. Passado pouco tempo estava a tocar para ele." Daí até começar a tocar com Amália Rodrigues passou pouco tempo. "Quando tinha 19 anos, conheci o Alcino Frazão - já falecido -, que é seguramente um dos maiores guitarristas da história do fado, e começámos a tocar . Passado um ano, estava no grupo da Amália. Uma vez substituí o Alcino Frazão numa actuação com o Carlos Gonçalves e ele convidou-me para tocar com a Amália."

Partilhar os palcos com a maior voz do fado foi um privilégio que poucos tiveram oportunidade de viver. Jorge Fernando viaja na memória e descreve esses momentos. "Não é fácil chegar ao convívio com uma pessoa com a inteligência da Amália. Eram lições constantes de vida. O Jorge Fernando de hoje não seria o mesmo sem ter conhecido a Amália e o seu grupo. "

O estatuto de músico de referência fez com que Jorge Fernando acompanhasse artistas de gerações distintas. Ele considera, contudo, que as diferenças estão apenas na "maneira de viver o fado", porque este "continua a ser a expressão de um alma colectiva". "Mudou a forma, mas não o conteúdo", conclui.

Da nova geração de fadistas, trabalhou, entre outras cantoras, com Ana Moura e Mariza e garante que ambas podem vir a ter um percurso semelhante ao de Amália. "Poderão conseguir uma carreira parecida com a da Amália, o que não quer dizer que sejam Amálias. Hoje, os fadistas têm um poder mediático que a Amália não tinha e, por isso, estão em vantagem."

Mas é a carreira a solo que Jorge Fernando recorda hoje. Um percurso que se iniciou a convite de "três jovens". O reviver da história na primeira pessoa "Eu costumava tocar no Embuçado, e um dia três jovens que estavam comovidos até às lágrimas chamaram-me. Eram o António Emiliano, o Pedro Ayres Magalhães e o Miguel Esteves Cardoso, que me convidaram para a sua editora (Fundação Atlântica). Só que entretanto a Valentim de Carvalho também me convidou e aceitei uma carreira a solo, que não correu como eu gostaria."

Umbadá foi a canção que se tornou mais popular no seu repertório e foi concorrente ao Festival da Canção de 1985, o que não o envergonha "Tenho o maior orgulho nessa canção. Hoje teria feito de forma diferente mas não deixaria de a gravar. O Jorge Fernando que trabalha hoje com alguns dos maiores músicos de sempre não é o mesmo do Umbadá."

Uma afirmação que pode ser sustentada no novo disco, onde o fado é apenas uma base para colaborações com músicos de renome mundial. A confirmar hoje em palco.

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