A marcação do Conselho de Ministros para o dia 17, a meio da campanha eleitoral, assim como a conferência do Banco Central Europeu que se realiza entre os dias 25 e 27 de maio, coincidindo o seu começo com o dia das eleições, mostram à saciedade que a nossa democracia vive de equívocos e enganos..Pode a Comissão Nacional de Eleições (CNE) dar o seu beneplácito e aceitação. Não nos podemos esquecer que a CNE é constituída por representantes dos partidos eleitos na Assembleia da República, além do presidente do Conselho Superior da Magistratura e três membros indicados por departamentos governamentais. O que o Governo decide está assegurado por uma maioria..O Estado não é deste Governo, não é da oposição, deve ser de todos os cidadãos. Deste modo, deve ter o propósito do dever de imparcialidade..O Governo já tinha violado o princípio de isenção, imparcialidade e neutralidade consagrado na lei eleitoral, ao anunciar recentemente medidas favoráveis aos funcionários públicos e pensionistas para 2015. Esta posição tem contornos de intromissão na vida política. A marcação do Conselho de Ministros é infeliz assim como a cimeira. O Governo pode dizer que não interfere nas eleições, mas tudo que faz tem interpretações e seria de bom-tom neste período eleitoral abster-se de tomada de posições. O Governo não está paralisado, mas deve ter algum recato. São coincidências a mais..A democracia portuguesa é perita em enganos, ingerências e aproveitamentos de todo o tipo. Há um período eleitoral, mas as campanhas começam sempre muito mais cedo, período que se define por pré-campanha. .Vivemos constantemente na democracia do engano. Estamos em eleições europeias sendo umas eleições para fora, mas estamos constantemente a falar para dentro. Por outro lado, aparece o líder do PSD e primeiro-ministro constantemente em campanha, assim como o líder do PS ofuscando os cabeças de lista, Paulo Rangel e Francisco Assis.. Nestas eleições europeias, a questão não é eleger como vencedor Paulo Rangel ou Francisco Assis, com o respeito que tenho por João Ferreira (PCP) e Marisa Martins (BE), mas sim eleger o conservador Jean-Claude Juncker ou o socialista Martin Schulz..Além dos outros candidatos: liberal, verdes e esquerda unitária. O duelo será a dois. Ao votar-se na Aliança Portugal (PSD e CDS) está a procurar-se eleger Juncker, ao votar-se no PS está a procurar-se eleger Schulz. Anteriormente, o presidente da Comissão Europeia era nomeado e não eleito. Durão Barroso foi nomeado..Estas eleições europeias estão a traduzir-se num debate interno e em termos nacionais, em que os cidadãos vão castigar Pedro Passos Coelho ou aprovar António José Seguro. Convém não esquecer que a Europa tem o poder de influenciar o nosso dia-a-dia, desde Bruxelas. Os portugueses têm sentido na pele estes últimos três anos..Todavia, acho importante: saber o que dizem? O que pensam? Que propõem? Se vão continuar com esta austeridade? Não acham importante ouvir as suas explicações?.É importante ouvir os candidatos portugueses às eleições europeias, mas mais importante seria ouvir os candidatos que vão presidir à Comissão Europeia..Gostava de saber como cidadão português, mas mais como cidadão europeu. A crise do euro? O futuro da democracia? O projeto de integração europeu?.Constato que não há muitas notícias das ideias e propostas destes senhores e dos seus debates na Europa. Seria importante a televisão pública retransmitir os principais debates..A abstenção será muito alta, prevendo-se, segundo as sondagens, que possa bater recordes. Por outro lado, a abstenção pode favorecer movimentos populistas, eurófobos e racistas.