Claques
O termo "claque" vem do som de palmas. Nos velhos teatros europeus, os da claque recebiam o bilhete à borla, sentavam-se e aplaudiam. Eram uns paus-mandados mas úteis. Nos tempos modernos, dessa definição de claque perdeu-se a utilidade.
A semana desportiva foi marcada por um episódio de claques durante o Benfica-FC Porto. Depois desse dia, na discussão sobre as escaramuças - "só" houve cinco feridos... - a responsabilidade do que se passou foi remetida para as direcções dos dois clubes e para a PSP. Ora, se tudo aconteceu com o lançamento de petardos e cadeiras, pergunta-se: quem, entre Luís Filipe Vieira, Pinto da Costa e a subcomissária Paula Monteiro, lançou um petardo, arrancou uma cadeira e a atirou para a bancada inferior?
Nenhum deles, claro. Mas quando se fala da violência nos estádios, já ninguém fala nos reais autores. É como se nada houvesse a fazer. Está-se como em Chicago, nos anos 30: a culpa seria da imprensa, do presidente da Câma- ra, da Polícia, enfim, da sociedade que não integrava como bons cidadãos os bandidos da cidade. Elliot Ness teve dificuldades em explicar que havia que atacar a Mafia e os seus gangsters. Os tais dos assaltos. É certo que a Mafia ainda hoje é poderosa, mas não é a gangrena que seria se não tivesse havido essa ideia corajosa que fez nascer o FBI.
Que tal começar a pensar-se em apontar o dedo aos violentos nos estádios, as claques? A condução de um grupo de claque, antes e depois de um derby lisboeta, pelas ruas da cidade é o único espectáculo fascista que Lisboa se permite: avançam em demonstração de força bruta, gritando ameaças e obscenidades que levariam qualquer outro cidadão a sentar-se no Tribunal de Polícia no dia seguinte. Mas os adeptos das claques ficam impunes. Fizesse um partido o que fazem semanalmente as claques e já teria sido proibido.
Há dias, quando a claque do Porto assobiou o minuto de silêncio pelo guarda-redes Bento, a maioria do Estádio do Dragão protestou. Esta semana, quando uma claque do Sporting começou com os seus insultos, a multidão de Alvalade mandou-a calar. Há uma pequena diferença entre um adepto comum e um dirigente de claque: aquele paga o bilhete. Há uma diferença enorme entre um adepto e um tipo de claque: aquele vai ao futebol para ver o seu clube jogar futebol. Quando é que os presidentes dos clubes agradecem ao trigo os adeptos e deitam fora o joio? Para quando um pacto entre gente de uma coisa de bem, os presidentes de clube, contra os arruaceiros de várias cores?