Alerta vermelho

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Ao contrário do habitual, as próximas eleições para o Parlamento Europeu serão decisivas. Entre amanhã e maio do ano que vem, os governos europeus terão que dar uma resposta à seguinte pergunta: somos ou não capazes de travar o eurocepticismo crescente e derrotar os partidos que cavalgam essa onda? Diz-nos o Eurobarómetro de abril que a "desconfiança na UE" subiu em flecha desde 2007: são hoje 79% em Espanha (eram 23%), 59% na Alemanha (36%), 53% em Itália (28%), 56% em França (41%) e 42% na Polónia (18%). O mesmo padrão repete-se na Dinamarca, Finlândia, Grécia, Holanda e República Checa. Há dias, um inquérito do Ifop, aferia percepções sobre ser a "UE má para os países": alemães, italianos, espanhóis e franceses confirmaram a subida dessa posição, alguns com mais de 10% face a 2012. Em junho, a Gallup mostrava que 39% dos holandeses querem o país "fora da UE" e as últimas Transatlantic Trends dizem-nos que a "aprovação sobre a UE" em Portugal desceu 25% desde 2009. Ou seja, desde o início da crise financeira europeia - que evoluiu para uma crise política grave -, cresceu o sentimento anti-UE, a dúvida sobre a sua importância, a negação das suas soluções.

É importante olhar seriamente para isto. Em muitos casos, a "Europa" tornou-se assunto de campanhas nacionais (e ainda bem) embora num tom radical, polarizado e sem o mínimo de informação. É sim ou não, pegar ou largar, preto e branco. Temos visto ainda, pela primeira vez, a abertura de fissuras programáticas graves entre partidos suportes do tradicional consenso da integração. Posto isto, serão as soluções das grandes famílias políticas europeias que irão a exame em 2014: a sua validade e benefício social implicam estancar a intromissão em jogo de um imenso grupo eurocéptico no Parlamento Europeu.

Vale a pena lembrar que se a integração europeia foi a salvação de muitas transições democráticas, o seu desenlace pode inverter o rumo das democracias. Que ninguém dê nada por garantido.

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