Mostrar que estão cada vez mais unidos em defesa da classe, prestar apoio aos guardas da cadeia de Vale de Judeus e, ao mesmo tempo, relembrar as reivindicações de anos que consideram essenciais para a melhoria da profissão. Estes são os três motivos apresentados pelos guardas prisionais para a concentração que vai decorrer esta segunda-feira junto ao estabelecimento prisional de onde se evadiram cinco reclusos há precisamente um mês.. “Queremos demonstrar a união do corpo da guarda prisional. Queremos demonstrar que estamos mais fortes e unidos do que nunca e que queremos que o sistema prisional comece a funcionar. É este o nosso objetivo, com esta concentração”, começa por explicar Frederico Morais, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP), que convocou este “encontro solidário” que deverá contar com cerca de 300 guardas.. A concentração já tinha sido convocada para setembro mas acabou por ser adiada, devido aos incêndios que fustigaram o norte e centro do país..Além desta manifestação de solidariedade para com os camaradas que trabalham em Vale de Judeus, os guardas prisionais apresentam reivindicações antigas. “Sabemos que se o Governo passar o Orçamento de Estado, em janeiro iremos começar a negociar as tabelas remuneratórias. A valorização salarial é fundamental, porque neste momento ganhamos pouco mais do que 100 euros do que o ordenado mínimo nacional e depois temos os suplementos. O nosso ordenado é feito de suplementos. Essa é uma das reivindicações”, avança o líder sindical. “Também temos as carreiras completamente estagnadas. Eu, por exemplo, tenho 23 anos de guarda e ainda estou como guarda, já devia ser guarda principal”, lamenta Frederico Morais..O presidente do SNCGP garante que “faltam cerca de 1500 homens no corpo da guarda prisional” e que o trabalho diário é feito “em condições deploráveis”..Tudo isto terá facilitado a vida aos fugitivos de Vale de Judeus. “No EP de Vale de Judeus estavam, na semana passada, 506 reclusos. Temos uma média de 14 guardas por turno. Gostávamos de perceber como é que chegaram a esses números, há uns anos”, afirma, dando conta do baixo número de guardas para tantos presos. “São insuficientes para o que é a atividade da cadeia. Durante a maior parte do dia eles [reclusos] têm o recreio, estão abertos, e devia haver mais vigilância. Depois temos as escolas, as oficinas, as formações do IEFP, as saídas ao exterior, as portarias, a cozinha, as visitas, os advogados, mil e uma atividades por dia”. .No caso concreto do EP de Vale de Judeus houve, no entender de Frederico Morais, outra falha. “Antes de 2018 havia quatro torres de vigilância com guardas armados. Eu trabalhei lá, e quando fui para Vale de Judeus, em 2012, éramos 180 guardas; hoje são cerca de 120”. Naquele dia, em que os cinco reclusos se evadiram, “os guardas, os poucos que havia, estavam nas visitas, nos pavilhões, e eles estavam no recreio sozinhos. Creio que estes homens tinham um plano muito bem engendrado feito, de certeza absoluta, com muita antecedência”..Frederico Morais recorda: “Em 2021, houve uma greve de guardas prisionais em Vale de Judeus, precisamente devido à falta de guardas, das torres e aos pátios sem condições de segurança”. E prossegue: “Nós apontámos isso tudo em 2021 e há uma ata assinada, na altura, entre os nosso representantes e os representantes da direção do EP, em que assumiam, reconheciam, que havia esses problemas. Mas como não havia verbas, não havia autorizações, nada foi feito”, lamenta..Quanto aos fugitivos acredita que “já estão longe de Portugal mas é preciso estarmos atentos”.