"The Machine" é a obra de arte que a Skeleton Sea tem desde ontem em exibição no Campo Pequeno e que pode ser vista até ao próximo dia 3 de março. A peça é uma interpretação de uma criatura do universo do videojogo Horizon Forbidden West, que "levanta questões importantes como a sustentabilidade e a importância de proteger o nosso planeta, que são mensagens e valores que partilhamos na Sketelon Sea", explica ao DN Isabell Kreuzeder, um dos elementos deste coletivo..Esta instalação foi construída a partir de mais de 500 quilos de resíduos - recolhidos nas praias, sucatas e despojos, entre outros -, mede cerca de 6x5 metros e teve quatro pessoas durante cerca de seis semanas a trabalhar nela. "Queremos que as pessoas parem e olhem realmente para o que fomos capazes de criar com tantas coisas que foram deitadas fora e consideradas como não tendo qualquer valor. O facto de termos levado isso e trazido esta criatura futurista à vida, ao dar a todo este "lixo" uma forte mensagem, faz parte do impacto que queremos ter no mundo", declara Isabell. "Se as pessoas levarem um segundo olhar para o que criámos e considerarem quantos objetos como os que estão na instalação também possuíam e deitaram fora, talvez reconsiderem como lidam com os seus resíduos e que destino têm nas nossas praias ou aterros sanitários"..A Skeleton Sea é um coletivo artístico criado em 2005 por três amigos artistas - João Parrinha, nascido e criado na Ericeira, o espanhol Luis de Dios, e Xandi Kreuzeder, natural da Alemanha - unidos pela paixão do surf. Graças à prática deste desporto percorreram o mundo e começam a estar mais atentos ao efeito que a poluição tinha sobre os oceanos. "Decidiram então fazer algo a esse respeito e criaram a Skeleton Sea, um projeto ambiental de consciência ecológica através da arte. Nascemos com a ambição de chamar a atenção para a ameaça iminente aos oceanos e à biodiversidade, apelando à importância do papel de cada pessoa para travar este problema, agindo de forma mais responsável no planeta. Acima de tudo, estes amigos quiseram comunicar que é importante manter os oceanos limpos e aprender a respeitar a natureza e os direitos humanos fundamentais", relembra Isabell Kreuzeder, também alemã e casada com Xandi..A vinda do casal para Portugal foi feita precisamente através do surf, como conta ao DN o quarto elemento do coletivo. "O meu marido, que é o artista principal da Skeleton Sea, é surfista já há algum tempo. Como todos sabemos, as ondas em Portugal são bastante famosas e ao estar tão perto do oceano, ao ver os danos que a poluição tem causado a algo tão belo, ficámos comovidos e com vontade de fazer alguma coisa. Em 2013, decidimos mudar-nos para Portugal a fim de estamos mais ligados a este oceano que temos vindo a defender desde 2005. Acho que, em resumo, a ligação do Xandi com o oceano foi realmente o que nos levou a mudar para cá"..Ao longo destas quase duas décadas, a Skeleton Sea tem feito todo o tipo de trabalhos, sendo o seu principal foco pegar em coisas que são normalmente vistas como lixo, e abandonadas em locais como o oceano, praias ou aterros sanitários, e transformá-las em algo considerado belo artisticamente. Estas instalações artísticas são criadas em Portugal, mas também noutros países europeus, sendo que cerca de 60% do seu trabalho é desenvolvido no nosso país. "Tivemos oportunidade de colaborar bastante com o Oceanário de Lisboa, pelo que talvez já tenham visto peças como o nosso dragão feito de garrafas de água, ou a exposição que temos no no interior do oceanário desde 2019. Além disso, tivemos também muitas peças em Lisboa, como o Polvo Azul, um polvo gigante que poderia ser encontrado no Centro de Congressos de Lisboa em 2019, ou a exposição Pamplona, em Almada", enumera Isabell..Além das instalações, este coletivo também promove ações educativas, como a limpeza de praias, workshops, especialmente com crianças, e programas de um dia centrados no ensino ao público sobre ecologia marinha e lixo, lecionados por biólogos marinhos. "Criamos também arte ao vivo e fazemos ateliers de algumas peças, mais simples, com crianças e o público em geral"..No que diz respeito às reações do público às peças da Skeleton Sea, elas têm sido as mais variadas. "Normalmente as pessoas ficam muito fascinadas com o que pode ser feito com os materiais. De um modo geral, tende a ser uma reação muito positiva", conta a artista, referindo que tem notado uma preocupação crescente tanto, do público, como de organizações, em relação à temática da poluição dos oceanos..Pelas contas de Isabell Kreuzeder, até ao momento, a Skeleton Sea terá recolhido cerca de cem toneladas de lixo para transformar em peças de arte. E já tiveram algumas surpresas. "Em 2019, o Xandi encontrou um cofre de hotel, explodido num assalto, em Fuerteventura. Na praia da Foz do Lizandro, uma tempestade de inverno trouxe uma boneca de tamanho humano cheia de ar para a costa alguns dias antes do natal de 2019"..ana.meireles@dn.pt