Um bombeiro de 31 anos suspeito de quatro crimes de incêndio florestal foi colocado em liberdade pelo Tribunal Judicial da Comarca de Santarém, após ter sido detido pela Polícia Judiciária há uma semana.Na decisão, a que o DN teve acesso, o tribunal refere que o suspeito praticou de forma “reiterada” esta conduta, como defendia a acusação. Segundo o acórdão do tribunal, existia mesmo um “perigo real” de continuação da atividade criminosa, podendo perturbar de forma “grave” a tranquilidade pública.No entanto, uma vez que existem “dívidas”, a “situação financeira” do bombeiro, que exerce as suas funções na corporação de Ourém (concelho em que terá provocado os incêndios), permite que lhe seja aplicada uma caução. A juntar a isso, diz o acórdão, “não é possível a aplicação de medidas de coação privativas da liberdade”. Ou seja: o arguido ficou sujeito a apresentações bidiárias nas autoridades da sua zona de residência, “em todos os dias da semana”, nos “horários que melhor lhe convenham”. Na tese da acusação, sabe o DN, o bombeiro é suspeito de ter ateado quatro fogos com recurso a utensílios feitos pelo próprio (no caso, velas) para que, ao ser chamado para combater estes incêndios, pudesse receber uma quantia monetária. Mas, no entender do tribunal, tal não se verificou, não tendo sido detetada qualquer “ligação entre a conduta do arguido e as suas funções, mormente ao nível de um móbil de natureza financeira”. Apesar de não ter antecedentes criminais, a PJ suspeita que o homem seja “o autor de outros incêndios florestais ocorridos no mesmo concelho”, tendo em conta “o padrão espácio-temporal e o modus operandi”. Um dos quatro incêndios que a acusação lhe imputa chegou mesmo a colocar em risco uma habitação, localizada junto a um pinhal onde o suspeito terá provocado um foco de incêndio.Contactada pelo DN, a corporação a que pertence o suspeito explicou que o bombeiro “é funcionário da casa e que, neste momento, se encontra de férias”. Quando regressar, “a situação será tratada internamente”, uma vez que o tribunal também não lhe decretou a suspensão de funções.Em reação a este caso, António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), diz que já falou com o comandante dos Bombeiros Voluntários de Ourém (BVO), que lhe disse que o suspeito “nunca deu qualquer sinal de uma perturbação ou comportamentos que fizessem desconfiar de algo”. Segundo lhe foi transmitido, o operacional em causa “sempre cumpriu tarefas e era responsável, que até integrava uma Equipa de Intervenção Permanente [EIP] na corporação”.Sobre a tese dos eventuais benefícios monetários, António Nunes duvida. “É algo que não me faz sentido. Se fizesse quatro ou cinco horas extraordinárias, ganharia 100 ou 200 euros. Ora, o bombeiro deve receber à volta dos 800/900 euros, estando inserido na EIP. Que benefício teria, mesmo que fosse para pagar as alegadas dívidas? Não é com 100 ou 200 euros que as paga, diria.”Ainda assim, o caso deste bombeiro não é inédito. Por exemplo, há uma semana, uma operacional de outra corporação viu a sua pena de prisão domiciliária ser agravada para prisão preventiva, por ter violado a medida de coação inicial. Esta mulher, de 44 anos, é suspeita de, no ano passado, ter ateado dois incêndios florestais na zona de Pedrógão Grande. No caso desta bombeira, assumiu ter provocado “por descuido” um dos focos de incêndio, depois de ter tocado com a ponta de um cigarro em ervas secas, negando no entanto qualquer envolvimento com o outro fogo - algo que esbarra na tese do Ministério Público..Marcelo fala em "fenómenos de natureza excecionais" e está preocupado com a próxima sexta-feira.Área ardida duplica em 15 dias e este é o segundo pior ano desde Pedrógão