"Tomem nota, minhas senhoras"

"Tomem nota, minhas senhoras"

O jornal “O Século” celebrou 94 anos de publicação em 4 de janeiro de 1974 e o concorrente DN apresentou as mais “sinceras felicitações” ao seu diretor e a quantos trabalhavam naquele “prestigioso órgão de imprensa”. Era assim, antigamente.
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Hoje, há 50 anos, a edição do DN publicada em 4 de janeiro de 1974 dedicava uma página inteira, a 15, às questões “da mulher e do lar”. Incluía “Correio das leitoras” e  “Conselhos e sugestões” (“os livros precisam de ser limpos, mesmo que se guardem em armários, frequentemente” e também de "ar de ambiente aquecido” porque “são muito sensíveis à humidade”).  

As receitas da “Ementa da semana” eram: canja chilena, bacalhau à diplomata, carne de porco com ameijoas e pudim de mel.

Já nos conselhos para “A beleza e a saúde” advogava-se, a abrir, um princípio geral: “Está provado que a confiança e segurança que alguém tenha em si própria embeleza e aumenta todas as capacidades de poder e agrado”.

Depois ia-se ao detalhe: “Uma grande arma é o rouge, que ilumina o próprio olhar. Aplique-se o rouge em pinceladas ligeiras sobre os pómulos [maçãs] do rosto [e] para bem situar a cor dever-se-á sorrir.” Quanto ao uso de batom, também não havia dúvidas: é “desastroso” quando se tenta com isso “engrossar os lábios”.

O texto principal, intitulado “Tomem nota minhas senhoras - viva a saia e suas coordenadas”, defendia com empenho que a calça “jamais” seria “a peça exclusiva da plêiade feminina”. Sendo verdade que “a calça é prática e tem sido aceite por todas as que as usam”, “porque não dar valor às saias e aos vestidos??” É que “afinal a mulher, apesar de todos os movimentos para a igualdade dos sexos, continuará sempre fiel aos encantos femininos”. E assim “não poderá no futuro, conscientemente ou não, ser uma caricatura do homem”.

Segundo este artigo, no inverno de 1973-1974 estava então a ocorrer uma “invasão da saia, em reação contra o uniforme-calças”. Só que a saia não estava a servir de “pretexto para mostrar as pernas”: “A mulher volta a ser razoável, não se exibe muito; pelo contrário, ela prefere o mistério, como antigamente as mulheres fatais que fizeram os bons dias de Hollywood.”

Ou seja: ocorria “um estranho fenómeno de equilíbrio”: “Se ela aceita mostrar-se decotada, de tempos a tempos, numa festa, pelo contrário prefere alongar as suas saias”. E isto “como no tempo das mini-saias, em que o decote estava proscrito”. 

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