A marca sul-coreana Samsung lançou-se este ano no mercado dos “anéis inteligentes” com o Galaxy Ring, uma peça de joalharia discreta que promete monitorizar a nossa saúde e bem-estar com a precisão de um smartwatch topo de gama. Testámo-lo durante cerca de duas semanas..Elegante e feito em titânio, tem no interior um revestimento suave ao toque (a cobrir os sensores) e quase nos esquecemos da sua presença quando colocado. O aparelho está disponível em nove tamanhos - pode encomendar-se online um kit de medição para ver qual o modelo mais ajustado - tendo uma coisa em atenção: ainda que o Ring possa ser utilizado em qualquer dedo, os instrumentos de medição foram otimizados para que a sua utilização seja feita no indicador (esquerdo ou direito, é indiferente). Assim, se o usar noutro dedo, os dados obtidos, nomeadamente a nível da frequência cardíaca, serão ligeiramente menos precisos..Utilizámos ao logo de todo o teste o Ring no indicador da mão esquerda e apenas o tirámos uma vez, para carregar - a autonomia é uma das grandes mais-valias deste aparelho (voltaremos ao assunto mais à frente). Como o anel é totalmente à prova de água, nem o removemos para tomar banho, sem qualquer problema. Ao fim de uma semana tínhamos a marca do anel no dedo, como seria de esperar - mas nada que não acontecesse com outra peça de joalharia..A configuração num smartphone Android - no nosso caso, um Google Pixel 9 Pro XL - é muito simples, ainda que, incompreensivelmente, seja necessário instalar três apps: a Samsung Health, de monitorização de saúde, a Galaxy Wear, de gestão de dispositivos, e uma terceira, específica do Ring. Não se percebe bem por que razão esta última não está já integrada na anterior, mas é o que é..Entre as apps e o aparelho propriamente dito, o Galaxy Ring monitoriza a frequência cardíaca, a temperatura corporal, os padrões de sono e os níveis de atividade física. .Porquê um anel e não um relógio?.A monitorização do sono é um dos pontos fortes do Galaxy Ring - e provavelmente o maior argumento para a sua existência. Afinal, o anel capta os mesmos dados biométricos do que os smartwatches, então por que razão há de uma pessoa gastar pelo menos 450 euros neste “acessório” quando pode simplesmente comprar um relógio?.Ora há muita gente que não gosta de usar relógio e mais ainda são aqueles que não conseguem habituar-se a dormir com um - em especial se tem um smartwatch pesado. E nisso o Ring é imbatível: é como se não estivéssemos a usar nada..Entre aparelho e app, o sistema faz a análise dos ciclos de sono, da frequência cardíaca e da temperatura corporal, numa análise muito detalhada. Os relatórios fornecidos pelo Samsung Health, assistidos com IA, estão quase ao nível da nossa referência, o FItbit Premium associado ao Pixel Watch. .Também quanto à atividade física, é surpreendente a capacidade do Galaxy Ring de distinguir entre o que são movimentos das mãos quotidianos - escrever ao computador, por exemplo - e aqueles que “valem” como atividade física. Referimos este detalhe porque já nos aconteceu, em alguns smartwatches “baratos”, serem contabilizados como passos os movimentos ao volante, durante a condução - e estando o anel no dedo (uma extremidade do corpo que, inevitavelmente, tem mais movimento do que o pulso), temíamos que passos “falsos” fossem registados. Mas não notámos nada disso. .Pelo contrário. Na pior das hipóteses, o Galaxy Ring pecará por defeito. Em comparação com a nossa referência, o Pixel Watch, por vezes apercebemo-nos de uma contabilização ligeiramente inferior no número de passos medidos, mas um valor abaixo de 5%. .O Ring/Samsung Health deteta automaticamente treinos como caminhadas ou corridas, as calorias gastas e tem sugestões para otimizar o nosso desempenho. No fundo, as funções que se esperam de um smartwatch moderno, só que através de uma simples “anilha” colocada no dedo..Total ausência de avisos.O que sentimos foi a falta do aviso de notificações. Não existindo ecrã no anel, este não poderia nunca mostrar os avisos do telefone, naturalmente, mas pelo menos seria possível ter um sistema de aviso por vibração a chamar a atenção de cada vez que chegasse uma mensagem de WhatsApp, por exemplo… ou outra qualquer que se programasse. Mas o Galaxy Ring não vem equipado com um método que o faça vibrar..Esta omissão prender-se-á, além da maior complexidade de construção que tal implicaria, também com a necessidade de manter a autonomia do anel nos quase sete dias. O que leva ainda a que o Ring não faça uma monitorização de frequência cardíaca permanente, como a maioria dos smartwatches atuais, mas apenas uma vez por hora - ou quando o sistema “sentir” necessário: quando se inicia a atividade física, por exemplo, o anel deteta o movimento e ativa automaticamente a medição cardíaca..O Ring está disponível, além dos nove tamanhos diferentes, em três cores - preto (o que testámos), cinza claro e dourado. E também tal como referido, os preços iniciam-se nos 450 euros. Apesar de ser assumidamente um gadget de nicho, está a ser bem recebido: “Já vendemos mais de mil Rings em Portugal”, disse ao DN na semana passada Nuno Parreira, general manager da Samsung Portugal, admitindo que este é um número acima das expectativas..Apesar de ter áreas a melhorar - monitorização cardíaca permanente e introdução de GPS no aparelho seria excelente - percebe-se bem o porquê do êxito. O Galaxy Ring é um gadget que não parece ser um artigo tecnológico. É discreto mas atraente, eficiente mas simples de usar, até nos esquecemos que estamos com ele durante dias, exceto quando lemos os relatórios de saúde ao acordar. .Para um viciado em notificações, que está sempre a olhar para o ecrã do smartwatch ou do telemóvel, a controlar cada email ou mensagem que chega (como somos!)… este não é o aparelho indicado. Mas também não temos dúvidas: o futuro passa muito mais por aquilo que o Galaxy Ring propõe - em que a tecnologia se integra num item do dia a dia de forma que mal se sente e fornece informações apenas quando são necessárias de forma a que, se as seguirmos, ganhamos qualidade de vida.