Zona em torno do Castelo de Almourol alagada nas cheias de 2013.
Zona em torno do Castelo de Almourol alagada nas cheias de 2013.Foto: José Neves

Tejo vai estabilizar, mas agricultores estão preocupados em gerir a água

As descargas das barragens espanholas estão a pressionar várias zonas ribeirinhas em Santarém. Agricultores pensam na “água que se vai perder para o mar”.
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É a pensar no futuro próximo, quando chegar o calor e exigir água para as colheitas, que os agricultores estão atualmente mais preocupados com o desperdício da água do que com as cheias que estão a alagar várias zonas de Santarém. “O que Portugal precisa é que esta água, que agora está a ir para o mar e daqui uns meses vai fazer falta, especialmente no sul do país, pudesse ser canalizada para lá”, defendeu ao DN o secretário-geral da CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal, Luís Mira. A ideia é que a água possa “ser canalizada para recarregar os aquíferos”, o que implica uma “gestão com o conhecimento técnico e científico que existe hoje e que permite ter outra capacidade de resiliência face aos períodos de seca”.

A origem da subida das águas no Tejo, que já levou ao isolamento da povoação de Reguengo do Alviela, no município de Santarém, tendo em conta que a estrada nacional 365 ficou alagada, está nas descargas que vêm das barragens de Espanha. É uma gestão que escapa a Portugal.

“Os espanhóis fazem essa gestão, não a pensar na cheia que provocam, mas sim no rendimento que têm para a produção de eletricidade”, explica Luís Mira, acrescentando “que é essa concessão que o dono daquela barragem [Alcântara, em Cáceres] faz”.

Portanto, para o representante dos agricultores, “Portugal, se quer minimizar essas situações, tem que ter infraestruturas que permitam ao país fazer a sua gestão”.

De acordo com Luís Mira, se a análise à necessidade de construir mais barragens se impusesse, a maior parte das pessoas teria defendido que “já não chove mais”.

“Se não tivermos esse instrumento de gestão - à semelhança de outros, como a utilização das águas tratadas que vêm das ETAR [estações de tratamento de águas residuais], a recarga dos aquíferos subterrâneos -, não haverá forma de responder à seca”. A este propósito, lembra: “Só o aquífero subterrâneo do Tejo tem uma capacidade de 20 vezes o Alqueva e nós não o sabemos gerir, não temos instrumentos para isso”.

Em relação às barragens portuguesas - que na sua maioria estão praticamente no limite da sua capacidade -, o secretário-geral da CAP sublinha que “estão no sítio onde chove mais, que é a norte, e são barragens que tiveram concessões para produção de energia elétrica”. Por esse motivo, “a entidade que ficou com essa concessão”, mantém “o objetivo de tirar a máxima vantagem económica dessa concessão que pagou”. No entanto, para Luís Mira “essas concessões têm que ser negociadas, quando chegarem ao fim, para serem concessões de fins múltiplos”.

Zonas submersas

No que diz respeito às consequências diretas para a população em geral, nos próximos dias haverá uma “tendência de estabilização com níveis altos”, explicou ao DN o comandante sub-regional do Médio Tejo da Proteção Civil, David Lobato, destacando alguns “constrangimentos”.

No entanto, as palavras surgem acompanhadas pela garantia de que as autoridades estão a acompanhar “as descargas das barragens de Espanha, que são capazes de vir a dificultar um bocadinho mais as coisas”.

Por agora, sustenta David Lobato, um parque de estacionamento e a zona ribeirinha de Constância estão “completamente submersos”, tal como acontece com os cais de Tancos e de Almourol.

Ainda assim, explica o comandante, durante a manhã de hoje os caudais vão começar a baixar, mas “paulatinamente”.

Questionado sobre se estas condições são anómalas, David Lobato diz que não, ainda que nos últimos anos a seca tem sido mais frequente. “Em 2013 e em 2018 tivemos algo muito parecido com isto”, lembra.

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