Susana Franco: "As mulheres continuam a ter de provar que são capazes de fazer o mesmo que os homens"

Susana Franco é metalomecânica, trabalha há quase duas décadas num ambiente maioritariamente masculino e desde cedo liderou equipas industriais. Sente-se feliz no trabalho, mas admite que persistem diferenças entre géneros nas empresas.

A visão tradicional da sociedade ensinava, desde cedo, que existiam temas adequados para mulheres e outros mais apropriados a homens. Os automóveis estavam nessa lista de assuntos restritos ao sexo masculino, ideia que tem vindo a ser combatida ao longo das últimas décadas e, em particular, nos últimos anos. Se é certo que permanecem no imaginário coletivo piadas machistas sobre mulheres e automóveis, a verdade é que foram elas as responsáveis por várias invenções essenciais para o funcionamento destas máquinas - Florence Lawrence inventou os piscas intermitentes, Mary Anderson criou os limpa para-brisas e Heidi Hetzer foi a primeira a dar a volta ao mundo num clássico. Desde há 17 anos que Susana Franco tem vindo a mostrar, através do seu percurso profissional, que a indústria não é área exclusiva deles. "Somos uma metalomecânica, é um ambiente muito masculino e há 17 anos era muito mais", começa por enquadrar a atual Deputy Plant Manager da Faurecia Portugal.

Apesar de, à época, ser uma jovem recém-licenciada, a empresa recebeu-a e rapidamente a desafiou. "Deram-me logo a oportunidade de ser supervisora de produção. Naquela altura era impensável ter uma mulher, uma metalomecânica, a gerir equipas", recorda ao DN. Terá sido nesta altura que a profissional percebeu "que a organização dava oportunidades às pessoas independentemente do género", algo que viria a confirmar, por experiência própria, ao longo da carreira. Durante cerca de seis anos, foi responsável por uma equipa de 50 pessoas, sendo que, ao nível das chefias, "existiam apenas três mulheres num universo de 28 homens".

Susana Franco reconhece ter sido necessário algum esforço de adaptação a esta realidade, mas sublinha que sempre foi tratada de forma igualitária pelos seus colegas e superiores. Embora esta seja a única experiência profissional que guarda no curriculum, a responsável de produção teve oportunidade de abraçar diferentes desafios e garante sentir-se realizada. "Tem sido extremamente desafiante e motivante. Estou plenamente satisfeita aqui", reforça. Garante nunca ter sentido qualquer tipo de discriminação, ainda que admita a existência de outras experiências menos positivas, consoante os sectores de atividade e a atuação das empresas. "Acho que as mulheres continuam a ter de provar que são capazes de fazer o mesmo que os homens", refere.

Por outro lado, aponta a lei das quotas como um avanço importante na luta pela paridade de género. "Precisamos de ter mais mulheres e colocá-las em lugares de destaque para que deixemos de ser a minoria. É algo que é natural", considera Susana Franco, uma das primeiras participantes na iniciativa Promova, da CIP em parceria com a Nova SBE. "O Promova veio mostrar-me que temos mulheres fantásticas no país e que são capazes de coisas incríveis", aponta, destacando a importância da componente de mentoria. "O mentoring foi perfeito, tiraram-me da minha zona de conforto e fizeram-me querer mais", diz. Para Susana Franco, mais do que as competências teóricas adquiridas, a formação de mulheres para cargos de liderança serviu como um "boost de confiança". "Agora quero tudo, sou capaz de tudo", remata.

Diversidade contribui para uma "melhor performance"

Ciente dos desafios inerentes à paridade de género nas empresas, a Faurecia Portugal confirma ao DN ter em curso uma série de iniciativas que pretendem contribuir para esse objetivo de igualdade. Entre elas, o programa Gender Diversity que pretende "recrutar mais mulheres para todos os níveis da organização", garantir "suporte no seu desenvolvimento" profissional e criar uma "cultura inclusiva e atrativa sem preconceitos".

Embora exista caminho a percorrer, os números testemunham a evolução registada ao longo dos anos - em 2020, 33% dos novos colaboradores eram mulheres; e 26% de mulheres foram promovidas em 2021. Ainda assim, existiam apenas 16% de profissionais femininas em cargos de chefia, em 2020, um valor que deverá crescer para 24% até 2025. Porém, o Conselho de Administração do grupo é constituído em 40% por gestoras e quatro das oito unidades de produção são lideradas por mulheres (Sasal, FIS Palmela, SAS e GBS). "A diversidade não é uma opção, é algo necessário pois vamos ter uma melhor performance se tivermos uma cultura correta", garante a empresa.

"A Faurecia tem feito um trabalho fantástico no suporte às mulheres com um programa específico, o Gender Diversity, cujo principal foco é criar uma cultura atrativa para as mulheres", confirma Susana Franco, que considera medidas como esta importantes para aumentar a representatividade no sector.

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG